As balizas éticas que guiam os profissionais no ambiente offline também se aplicam online. No contexto de hiperexposição e mutação das redes sociais, contudo, multiplicam-se as dúvidas para as quais o jornalista não encontra respostas fáceis. Esta seção lista normas e diretrizes que ajudam a lidar com os problemas mais frequentes.
* A Folha encoraja seus profissionais a manter contas em redes sociais. Se bem administradas, elas se tornam ferramentas úteis para fazer novos contatos e cultivar antigos, para pesquisar pautas, tendências
e personagens, para agilizar apurações e promover conteúdo próprio e de colegas de jornal, expandindo o alcance do material publicado.
- No horário de trabalho, rede social é instrumento, não passatempo. Atividades privadas no ambiente digital não podem interferir no exercício das tarefas profissionais diárias.
- Nas redes sociais, a imagem pessoal tende a se misturar com a profissional. Parcela do público pode pôr em dúvida a isenção daquele que, na internet, manifesta opiniões sobre assuntos direta ou indiretamente associados a sua área de cobertura. Mesmo que o faça fora do horário de trabalho e ressalve que aquela é uma posição pessoal, o jornalista fica sujeito a suspeição, assim como o veículo.
Revelar preferências partidárias e futebolísticas ou adotar um lado em controvérsias tende a reduzir a credibilidade do jornalista e a da Folha, que tem o apartidarismo como um dos seus princípios editoriais. Qualquer publicação, pessoal ou não, pode ser disseminada por interessados em desacreditar ou depreciar o profissional ou o veículo.
- A melhor maneira de evitar armadilhas é assumir que conteúdo postado na internet é público, nunca desaparece e pode ser facilmente descontextualizado. O alerta também vale para ferramentas de comunicação privada nas redes sociais ou aplicativos de mensagens.
- Evite ironia, pois uma parcela dos leitores irá tomá-la ao pé da letra.
- Use o bom senso. Não faça nas redes sociais algo que você não faria num local público.
- Postagens que exponham a vida privada podem ter consequências na vida profissional. Exibir a intimidade em redes sociais pode prejudicar a imagem de discrição e comedimento esperada do jornalista. O cuidado vale também para sites ou aplicativos de comunicação entre pessoas ou grupos, sujeitos a invasões ou quebras de sigilo.
- Jornalistas que façam uso intensivo das redes sociais para fins pessoais devem considerar a possibilidade de criar um perfil exclusivo para as atividades profissionais. Também devem cogitar a alternativa de restringir o acesso de terceiros não autorizados a suas contas pessoais (por exemplo, com perfis abertos somente para amigos). A iniciativa pode ajudar a evitar situações constrangedoras com fontes ou leitores, mas não representa um salvo-conduto para ignorar as orientações deste "Manual" na conta privada.
- Com a profusão de redes, blogs, publicações opinativas e grupos de pressão, a internet predispõe à crítica direta e pública do noticiário.
O jornalista não deve superestimar a repercussão nas plataformas digitais, tomando-as como a totalidade do público, mas tampouco pode ignorar seu impacto na imagem do jornal e da Redação.
- Não compartilhe boatos e rumores como se fossem fatos. Na eleição presidencial nos EUA em 2016, o boato de que o papa Francisco havia anunciado apoio ao candidato republicano Donald Trump foi compartilhado milhões de vezes. No Brasil, pouco antes do segundo turno da eleição de 2014, a internet foi tomada por boatos de que o doleiro delator Alberto Youssef havia sido envenenado e morto na prisão. Não eram verdades.
- Também não publique nas redes sociais conteúdo com teor obsceno, ameaçador ou criminoso.
- Pense duas vezes antes de postar qualquer comentário depreciativo sobre pessoas e instituições ou piadas que possam ferir suscetibilidades.
- A responsabilidade pelos comentários em página pessoal nas redes sociais é exclusiva do jornalista, mas uma manifestação imprudente, mesmo que não diga respeito a sua área de cobertura, pode dificultar o trabalho de colegas de Redação e, eventualmente, sua própria atuação futura. Assim como repórteres acompanham as redes sociais de pessoas públicas, fontes, possíveis entrevistados e grupos de pressão também consultam o perfil digital de jornalistas.
- É recomendável acompanhar as páginas de figuras públicas, mas procure praticar o pluralismo estimulado pela Folha, adicionando e seguindo representantes de diferentes tendências. Se for preciso integrar um grupo online que esteja em meio a uma controvérsia pública, integre também aqueles que estejam de outros lados da disputa. O mesmo cuidado deve ser observado ao aceitar seguidores nas redes sociais e ao compartilhar conteúdos.
- Se a rede social permitir, considere a possibilidade de ocultar sua lista de contatos. Essa iniciativa, no entanto, não permite ignorar outros cuidados mencionados nesta seção.
- Seja prudente ao interagir com personagens do noticiário nas redes sociais. O contato descuidado pode criar uma percepção de intimidade ou de camaradagem nocivas para a imagem do profissional e do jornal.
- Tenha cuidado ao compartilhar conteúdos externos. O ato pode ser interpretado como endosso à opinião ou à veracidade da notícia. Ao postar conteúdo opinativo ou polêmico de terceiros, adicione uma introdução neutra. Exemplo: Dilma atacando o ex-vice. @dilmabr: "A onda regressiva do governo golpista vai se agravando".
- Escrever no perfil frases como Compartilhar não é apoiar, RT não é igual a endosso ou As opiniões são pessoais pode ser útil, mas não substitui as demais orientações desta seção.
O PROFISSIONAL DA FOLHA NÃO PODE
- Antecipar reportagens e colunas que serão publicadas (incluindo teasers), mesmo as de sua autoria, salvo com autorização de seus superiores ou, se colunista, da Secretaria de Redação;
- Divulgar bastidores da Redação ou dados e documentos internos da empresa, a menos que seja decisão do jornal;
- Divulgar informação que o jornal decidiu não publicar por colocar em risco pessoas ou empresas (como sequestro em andamento ou boatos de falência, por exemplo);
- Emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a reputação, a isenção ou a linha editorial da Folha ou de seus jornalistas;
- Utilizar contas da Folha nas redes sociais em desacordo com os procedimentos e as condutas prescritas neste "Manual";
- Destratar quem quer que seja. Em caso de insultos ou ofensas pessoais, responda educadamente ou ignore, mas jamais troque desaforos. Se pertinente, os superiores hierárquicos devem ser informados da altercação. Esse comportamento também é esperado de colunistas.