Milho verde, ingrediente que será destaque no festival Fartura

Milho verde, ingrediente que será destaque no festival Fartura Keiny Andrade/Folhapress

Caminho da roça

Terceira edição paulistana do festival Fartura busca a base mais autêntica da cultura alimentar do Brasil

Capítulo 3
Lanches e petiscos

Casquinhas, crocâncias, caldas, molhos e muitos recheios

Festa que é festa tem que ter comida sem vergonha de ser gostosa: farte-se no Jockey de fritura, gordura e doçura

Empadas da Casa Godinho, em SP, que vão custar R$ 8 cada uma no Fartura (Keiny Andrade/Folhapress)

Empadas da Casa Godinho, em SP, que vão custar R$ 8 cada uma no Fartura (Keiny Andrade/Folhapress)

Nana Tucci
São Paulo

No tamanho certo para satisfazer aquela vontade de comer "uma coisinha", o petisco tem espaço próprio no Fartura. Jogue-se em frituras, salgadinhos, sanduíches e doces, é claro, relidos pelos melhores cozinheiros do país.

Releitura do bolo da avó

Bolo de chocolate com calda quente, do Pomodori
Bolo de chocolate com calda quente, do Pomodori - Keiny Andrade/Folhapress

Bolo de chocolate é igual pão de queijo: como existem muitos por aí, se algum chama a atenção é porque alguma bossa ele tem. Tássia Magalhães deixou o restaurante Pomodori, mas não o bolo de chocolate que preparava. Ele segue sendo servido na casa, mas também pode ser encomendado com a chef.

A receita original -só podia ter avó no meio- é da mãe do proprietário, Rodrigo Gianecchini, mas Tássia fez algumas mudanças. "Sou vidrada em bolo de chocolate e ela sempre preparava o bolo para mim, mas um dia levou lá no restaurante e uns amigos por acaso experimentaram", conta Tássia.

Posta foto aqui, posta ali, o bolo viralizou e as pessoas o procuravam na carta de sobremesas do Pomodori, cadê? Foi assim que ele, sem vergonha, pediu licença e entrou no restaurante.

A massa é a clássica do bolo de chocolate e o recheio é feito com brigadeiro de chocolate belga 55% e pasta de avelã. Tem um segredinho para ficar bem úmido: fica na geladeira por 12h depois de pronto. Mais: é servido morno, com uma calda extra feita com chocolate, creme de leite e mais leite condensado, também morna, despejada por cima. O bolo fica literalmente perdido debaixo de tanta calda.

Uma sobremesa de um tempo em que os doces não precisavam ser politicamente corretos e reservados, podiam ser doces à vontade, ufa.

Pão de queijo sertanejo

Pães de queijo servidos com goiabada, com abobrinha e com linguiça, no restaurante A Baianeira
Pães de queijo servidos com goiabada, com abobrinha e com linguiça, no restaurante A Baianeira - Keiny Andrade/Folhapress

A delícia é o casamento de Minas com Bahia, nasceu na fronteira entre esses estados conhecidos por sua gastronomia. Foi de Almenara, no Vale do Jequitinhonha (MG), que a chef Manuelle Ferraz trouxe a receita do pão de queijo vendido em seu restaurante A Baianeira, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

Ela chegou à cidade grande sem saber para onde ir, então começou por ele, o pão. Mas não é de queijo?

"Não é puxa-puxa como os pães de queijo daqui, é mais macio e consistente. E, como um pão, você pode aproveitar no dia seguinte esquentando na chapa", explica.

Por ter alma de pão, vai muito bem recheado -na Baianeira, faz sucesso servido com carne de panela e ovo frito.

Outra característica do pão de queijo da Baianeira é a sua casca crocante, que pode remeter ao sertão. "Olho para ele e enxergo aquela terra seca. Foi ele que trouxe personalidade ao meu restaurante e por causa dele descobri que sou uma cozinheira que vem de um lugar", reflete Manuelle.

Não espere um gosto acentuado de queijo. Na versão sertaneja, o sabor é o do Minas padrão levemente curado.

Ela adaptou a receita da mãe, que lhe passou as medidas por telefone "em pratos duralex". Não fazia sentido uma receita de lá ser feita com ingredientes daqui, então ela traz queijo e o polvilho de pequenos produtores e associações quilombolas do Jequitinhonha.

No Fartura, vai dar para provar o tradicional e as versões recheadas com carne de panela, linguiça (que remete à comida de beira de estrada), vinagrete de abobrinha e goiabada com queijo.

Coxinha nordestina

Coxinha de carne de Sol com requeijão de raspa, do Restaurante Cauê, em BH
Coxinha de carne de Sol com requeijão de raspa, do Restaurante Cauê, em BH - Alexandre Rezende/Folhapress

Sai frango e catupiry, entra carne de sol e requeijão de raspa. No Cauê Restaurante e Bar, em Belo Horizonte, o salgado tradicionalmente servido com frango desfiado ganhou ares nordestinos.

A carne de sol vem de Mirabela, no semiárido do norte de Minas, na divisa com a Bahia, onde o sol é de rachar e onde se curava a carne por necessidade (só depois veio a descoberta de que agregava sabor).

O queijo é o requeijão, mas aquele especial que vem com as raspas crocantes que ficam grudadas no fundo do tacho. "Tem textura de mussarela, com um sabor caramelizado", explica Caetano Sobrinho, chef e proprietário do Cauê.

É feita uma mistura com a massa, a carne de sol desfiada e o queijo, na proporção média de dois terços de carne para um de requeijão.

Por dia, saem cerca de cem coxinhas. É uma coxinha maior que a de festa, para animar os paladares, mas menor que a de padaria, para não satisfazer totalmente os apetites, ué.

Todos os produtos estarão no Espaço Lanches e Petiscos. A empada custa R$ 8, o pão de queijo sai a R$ 12 (duas unidades ou um recheado), a porção com 4 coxinhas vai custar R$ 18 e a fatia de bolo, R$ 20

Empada boa é molhada

Empadas de bacalhau e de palmito, da Casa Godinho, em SP
Empadas de bacalhau e de palmito, da Casa Godinho, em SP - Keiny Andrade/Folhapress

Uma empadinha e uma água, por favor. "Toda vez que comia empada, precisava beber algo em seguida", conta o engenheiro Miguel Romano.

Mas o salgado precisa ser assim tão seco? Essa pergunta levou o ex-proprietário de uma lotérica a acertar em cheio na versão que se tornou querida dos paulistanos.

Tradicional empório português de secos e molhados, há dez anos a Casa Godinho investiu na área de confeitaria e lançou a empada. Mais úmida que a tradicional, seu segredo é o molho bechamel (ele mesmo, o molho branco) que leva na massa podre.

A inspiração veio da casquinha de bacalhau com bechamel que um chef fez certa vez em um programa de TV usando o ingrediente da Godinho.

A primeira empada a sair do forno foi de bacalhau, para valorizar o produto que é a estrela da casa. Depois vieram as outras seis, todas feitas à base do mesmo molho: palmito, camarão, frango, alho-poró, carne seca e alheira. As três primeiras estarão à disposição do público no Fartura, além da primogênita da casa.

Miguel também atribui o sucesso aos ingredientes usados na massa. "Fazemos com azeites e temperos especiais que vendemos na loja." O tamanho é um pouco maior que o usual e custa, em média, R$ 6.

Lá pelas tantas, a empada começou a ter tanta saída que a equipe não estava mais dando conta de manter o ritmo. Um dia, Miguel entrou na cozinha, colocou a mão na massa e se deu conta do enorme tempo que era gasto para deixar a massa fininha.

Foi quando o engenheiro químico entrou em ação e ele transformou, com a ajuda de um amigo torneiro, uma máquina de cortar batata frita em uma engenhoca de moldar empadinhas.

Assim a Casa Godinho, cujas vendas já bateram a marca das mil por dia, mantém a média diária de 300 empadas. Sem água para acompanhar, obrigado.