A carne de uma cabeça de boi alimenta cerca de 20 pessoas. Com esse cálculo, o contador Celio Costa, 53, programa todos os anos, desde 1998, a Festa do Berarubu, em Tocantínia (TO).
Para preparar a iguaria, Costa conta com a ajuda do policial militar Antônio Dias. É ele quem tira couro, olhos, narinas, chifres e glândulas da cabeça do boi e a lava com mangueira. A língua fica. Segundo Costa, é a parte mais cobiçada.
Foi Dias quem herdou o ensinamento do berarubu de um antigo morador, já falecido, chamado Nazaré Brito, que aprendeu a técnica com os índios xerentes. Berarubu é um termo usado para descrever o alimento assado em forno subterrâneo.
Costa prepara as cabeças em sua chácara, às margens do rio Tocantins. "A primeira vez que fizemos a festa usamos três cabeças, depois já juntou uma turma maior, e a gente foi aumentando", diz.
São assadas de 10 a 15 cabeças. Chegaram a fazer 20 de uma só vez, no evento que reuniu cerca de 400 pessoas.
A cabeça não leva nenhum tipo de tempero. Depois de limpa, é enrolada em papel alumínio e folhas de bananeira, colocada dentro de uma lata e enterrada no buraco previamente aquecido com lenha. Assa de um dia para o outro, por cerca de 12 horas.
Como acompanhamento, é servido arroz e molho com pimentão, cebola, tomate e alho. Os ingredientes do molho são batidos no liquidificador e ele é fervido e consumido bem quente, assim que a carne sai do buraco.
"É um prato trabalhoso. Um dos segredos é vedar bem o buraco para que não entre oxigênio, porque pode queimar a carne", diz Celio.
O buraco, com cerca de 70 centímetros de profundidade e 60 de diâmetro para cada cabeça, é pré-aquecido com lenha durante cerca de oito horas. A brasa então é retirada e a lata com a cabeça é colocada no buraco. Para vedá-lo, a brasa é colocada por cima e coberta com terra.
Na tradição dos índios xerentes, os fornos de terra são usados para assar variados tipos de carne, incluindo a de gado, peixe ou caça.
Edvaldo Xerente, 50, explica que o berarubu dos índios não é feito com cabeça de animais. É uma massa de mandioca recheada com carne, envolvida na folha de bananeira e assada no forno subterrâneo por cerca de duas horas.
Essa iguaria é preparada em dias específicos, como nas festas de nominação das crianças (batismo) e de casamento. A comida é oferecida para os participantes.
São as mulheres da tribo xerente que manejam os fornos de terra e preparam os alimentos.
Celio Costa fará palestra sobre o berarubu, no Espaço Conhecimento, no sábado (4), às 16h