Milho verde, ingrediente que será destaque no festival Fartura

Milho verde, ingrediente que será destaque no festival Fartura Keiny Andrade/Folhapress

Caminho da roça

Terceira edição paulistana do festival Fartura busca a base mais autêntica da cultura alimentar do Brasil

Capítulo 4
Chefs e suas criações

Vai aí uma cabeça de boi enterrada e assada?

Festa do Berarubu celebra há 20 anos, no Tocantins, iguaria preparada à moda dos índios no forno de chão por 12 horas

Índia da aldeia Kyikatêjé, na região de Marabá (PA), prepara o berarubu, carne assada com massa de mandioca em forno de terra (Augusto Dauster - 27.nov.15/Folhapress)

Índia da aldeia Kyikatêjé, na região de Marabá (PA), prepara o berarubu, carne assada com massa de mandioca em forno de terra (Augusto Dauster - 27.nov.15/Folhapress)

Jacqueline Lattari
São Paulo

A carne de uma cabeça de boi alimenta cerca de 20 pessoas. Com esse cálculo, o contador Celio Costa, 53, programa todos os anos, desde 1998, a Festa do Berarubu, em Tocantínia (TO).

Para preparar a iguaria, Costa conta com a ajuda do policial militar Antônio Dias. É ele quem tira couro, olhos, narinas, chifres e glândulas da cabeça do boi e a lava com mangueira. A língua fica. Segundo Costa, é a parte mais cobiçada.

Foi Dias quem herdou o ensinamento do berarubu de um antigo morador, já falecido, chamado Nazaré Brito, que aprendeu a técnica com os índios xerentes. Berarubu é um termo usado para descrever o alimento assado em forno subterrâneo.

Costa prepara as cabeças em sua chácara, às margens do rio Tocantins. "A primeira vez que fizemos a festa usamos três cabeças, depois já juntou uma turma maior, e a gente foi aumentando", diz.

São assadas de 10 a 15 cabeças. Chegaram a fazer 20 de uma só vez, no evento que reuniu cerca de 400 pessoas.

Cabeça de boi enrolada em folhas de bananeira, na Festa do Berarubu, em Tocantins
Cabeça de boi enrolada em folhas de bananeira, na Festa do Berarubu, em Tocantins - Pablo Saborido - 26.qbr.15/Folhapress

A cabeça não leva nenhum tipo de tempero. Depois de limpa, é enrolada em papel alumínio e folhas de bananeira, colocada dentro de uma lata e enterrada no buraco previamente aquecido com lenha. Assa de um dia para o outro, por cerca de 12 horas.

Como acompanhamento, é servido arroz e molho com pimentão, cebola, tomate e alho. Os ingredientes do molho são batidos no liquidificador e ele é fervido e consumido bem quente, assim que a carne sai do buraco.

"É um prato trabalhoso. Um dos segredos é vedar bem o buraco para que não entre oxigênio, porque pode queimar a carne", diz Celio.

O buraco, com cerca de 70 centímetros de profundidade e 60 de diâmetro para cada cabeça, é pré-aquecido com lenha durante cerca de oito horas. A brasa então é retirada e a lata com a cabeça é colocada no buraco. Para vedá-lo, a brasa é colocada por cima e coberta com terra.

Na tradição dos índios xerentes, os fornos de terra são usados para assar variados tipos de carne, incluindo a de gado, peixe ou caça.

Edvaldo Xerente, 50, explica que o berarubu dos índios não é feito com cabeça de animais. É uma massa de mandioca recheada com carne, envolvida na folha de bananeira e assada no forno subterrâneo por cerca de duas horas.

Essa iguaria é preparada em dias específicos, como nas festas de nominação das crianças (batismo) e de casamento. A comida é oferecida para os participantes.

São as mulheres da tribo xerente que manejam os fornos de terra e preparam os alimentos.

Celio Costa fará palestra sobre o berarubu, no Espaço Conhecimento, no sábado (4), às 16h