Funcionários usam gruas para checar mercadorias no depósito da Receita Federal em São Paulo

Funcionários usam gruas para checar mercadorias no depósito da Receita Federal em São Paulo (Eduardo Knapp/Folhapress)

A escalada do contrabando

Comércio ilegal sofistica sua logística e se expande prejudicando a indústria, os cofres públicos, o bolso e até a saúde do consumidor

Capítulo 5
Seminário segurança e desenvolvimento

Hizbullah atua no comércio ilegal com PCC, diz especialista

Grupos agem na Tríplice Fronteira no tráfico de droga e contrabando de cigarro

Marcelo Toledo
BRASÍLIA

O Hizbullah está presente na Tríplice Fronteira -entre Brasil, Paraguai e Argentina- e há elementos que indicam que o grupo extremista atua em parceria com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

A afirmação é do italiano Emanuele Ottolenghi, cientista político e membro sênior da FDD (Foundation for Defense of Democracies), instituto de política externa e segurança nacional dos EUA, e foi feita no seminário Segurança e Desenvolvimento, promovido pela Folha, com patrocínio do Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial).

Emanuele Ottolenghi, cientista político e membro sênior da FDD, instituto de política externa e segurança nacional dos EUA
Emanuele Ottolenghi, cientista político e membro sênior da FDD, instituto de política externa e segurança nacional dos EUA - Keiny Andrade/Folhapress

O contrabando de cigarros é apontado como forma de financiamento de atividades do Hizbullah, movimento xiita libanês, conforme relatório da fundação divulgado no ano passado.

Segundo Ottolenghi, o PCC controla portos clandestinos às margens do rio Paraná e facilita o envio de cocaína ao exterior. "A cocaína atravessa áreas onde o Hizbullah tem forte presença e infraestrutura para lavar o dinheiro", disse.

De acordo com o especialista, há transações provadas de venda de drogas entre figuras do PCC que foram presas e clãs do Hizbullah.
Essas relações são os elementos conhecidos que indicam que os dois lados trabalham juntos na fronteira.

Além de drogas e cigarros, o grupo extremista também atuaria com contrabando e tráfico de armas em áreas controladas pelo PCC. Em Foz do Iguaçu, a facção brasileira se concentra na região da Vila Portes, bairro próximo à Ponte da Amizade.

Não há relato de membros do Hizbullah mortos nas fronteiras brasileiras, fato que, na visão do especialista, é mais um indicativo de que os grupos trabalham juntos. "Grupos criminosos como o PCC não autorizariam competidores em seu território sem uma guerra."

SENADO DOS EUA

Especialista do centro de sanções e finanças ilícitas da fundação, Ottolenghi disse ao Senado dos EUA, em maio de 2017, que redes terroristas islâmicas ampliam sua área de influência por meio de parcerias com grupos criminosos locais, como é o caso do PCC no Brasil.

O presidente do Etco, Edson Vismona, disse que a existência do Hizbullah na Tríplice Fronteira é motivo de apreensão. "A questão gera preocupação nos EUA. E não vai gerar aqui?"

De acordo com Vismona, tráfico de drogas, transporte de armas ilegais e contrabando de cigarro fazem normalmente a mesma rota, com a mesma logística, o que contribui para as parcerias firmadas pelas organizações criminosas, prejudicando a economia nacional.

Policiais federais ouvidos pela Folha disseram não ter efetuado prisões de membros do grupo terrorista na região de Foz do Iguaçu.