Nesse contexto, a editora seguinte a Marcos Augusto Gonçalves, Márion Strecker, começou a expandir o caderno. Foram criadas novas páginas a partir de seções que faziam sucesso, como Livros ou Comida, e cadernos especiais eram publicados em praticamente todo grande evento que aportava na cidade: Free Jazz, Mostra de Cinema, Bienal de São Paulo, entre outros.
"A gente chegava a fazer cadernos de 36 páginas naquele momento. Só a Ilustrada tinha 36 páginas. É claro que a equipe foi crescendo e eu tive a oportunidade de contratar muita gente", conta Strecker.
Paulo Francis, com sua coluna Diário da Corte, provocava amor e ódio. Era uma das maiores atrações do jornal e foi ganhando uma página só dele.
Nos quadrinhos, Angeli, Glauco (1957-2010), Laerte e Fernando Gonsales encantavam uma geração com Rê Bordosa, Geraldão, Piratas do Tietê e Níquel Náusea. Eles abriram caminho para Adão Iturrusgarai e Caco Galhardo, entre muitos outros quadrinistas que brilharam nas páginas do caderno.
No caso de Glauco, acontecia uma coisa curiosa, lembra o editor de arte Jair de Oliveira, que trabalhou no jornal por 39 anos, entre 1974 e 2013: "Ele mandava o Geraldão sempre com o bilau de fora. O Otavio [Frias Filho] via e mandava a gente colocar uma tarja em cima. No dia seguinte, vinha o bilau de fora de novo. Até que o Otavio cansou e deixou sair sem tarja. Aí o Glauco começou a mudar de personagem. Não tinha mais graça", diverte-se Jair.
"Mas o pinto para fora era um dos detalhes escandalosos da tira. Ele fica se picando com três ou quatro seringas, fumando, bebendo, olhando a mãe no banheiro. Era uma depravação total [risos]. A tira do Glauco foi fundadora nesse sentido. Difícil pensar em um outro jornal que publicasse esse tipo de coisa", comenta Laerte.
Joyce Pascovitch, contratada em 1986, inventava uma nova forma de colunismo social, voltada a furos e à política.
"Quando Caio Túlio e Matinas vieram me convidar, eu aceitei, né? Quem vai dizer não à Folha de S.Paulo? Mas eu não quero meu nome escrito. "Mas como não vai ter nome na coluna?" Eu falei não, põe o nome Coluna. "Não, tem que ter seu nome." Eu pedi para pôr lá embaixo, pequenininho." Não foi atendida.
José Simão começava a escrever sobre televisão, após uma passagem relâmpago como redator: "No meu primeiro fechamento de edição, pediram que eu cuidasse de metade de uma página e meu colega da outra metade. Só que nós dois fechamos a mesma metade! Rarará".
Críticos de música como Luis Antônio Giron e Pepe Escobar causavam celeumas. O primeiro destruiu uma pianista veterana com uma crítica tão ferina ("A sombra de uma grande pianista"), que foi objeto de abaixo-assinado exigindo sua demissão.
O outro atraiu uma turma de roqueiros revoltados à Redação, que terminou numa tentativa do vocalista do Ira! em arrebentar sua cara -fato devidamente noticiado pela Ilustrada, com três fotos documentando o momento.
Glauco, Angeli e Laerte extrapolaram as páginas da Ilustrada quando seus livretos e revistas, com parte do material republicado do jornal, foram lançadas pela Circo Editorial e bateram recordes nas bancas. A Chiclete com Banana, de Angeli, chegou a vender 150 mil exemplares por mês, no fim dos anos 1980
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Era uma depravação total. A tira do Glauco foi fundadora nesse sentido. Difícil pensar em outro jornal que publicasse esse tipo de coisa
— Laerte, quadrinista, colaboradora da Folha desde 1982