Não passava de meio-dia quando um homem tentou ir com Joelma, 40, a um hotel. Ele havia prometido levá-la a um lugar onde ela pudesse tomar banho. No caminho, disse que queria "fazer sexo a noite inteira". Ela o rejeitou e voltou sozinha ao ponto em que havia passado a noite, nas escadas do monumento do Pátio do Colégio, no centro.
Chegou trêmula e sem fôlego, mas não soube dizer por que tremia. Um homem que havia dormido próximo ao ponto disse que o tremor era efeito de abstinência do álcool. Ela contou que realmente bebe muito para aguentar a vida nas ruas da cidade, em que teme ser vítima de estupro.
Joelma explica que veio de Santos há dez anos fazer um curso de roteiro, que não chegou a realizar. Ela dorme na rua há um mês, por querer distância do ex-marido, agressivo, e, segundo ela, por não encontrar vaga em abrigos. Prefere o Centro porque avalia que recebe mais doações de alimentos.
Não é qualquer lugar em que ela pernoita, porém: na noite anterior, tinha planos de dormir na avenida Dom Pedro I, também no centro. Foi abordada por outro homem em busca de sexo, então decidiu mudar de ponto.
Não foi o único homem de quem fugiu. Segundo ela, o ex vive em um quartinho no bairro Santa Cecília e às vezes a vê pela rua. Faz um escândalo, puxa-a pelo braço e pelo cabelo. Ela não gosta mais dele, e não pretende retomar o relacionamento.
Joelma não tem namorado, mas explica que outras mulheres em situação de rua que conhece procuram um parceiro para protegê-las. Ela está apaixonada por um homem que promete levá-la para longe -sorri quando fala dele, mas diz sofrer.
Sofrer por amor?
"Sim, mas por outras coisas também."
Estas reportagens foram produzidas pela equipe do 62º Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, patrocinado pela Philip Morris Brasil.