Aos 12 anos, Carlos Martins de Oliveira mascava tabaco para melhorar a dor de dente. Pegou gosto e logo começou a fumar cigarro. Hoje, aos 44, vivendo em uma cabana emendada a um corrimão embaixo do elevado Presidente João Goulart, diz que esse é seu único vício: "nem pedra, nem cachaça. Mas o cigarro não tem jeito".
Saiu de Rondônia aos 38 anos para viver em São Paulo. Aqui trabalhou em obras e, durante esse período, morou em uma pensão em São Bernardo do Campo. Quando não havia mais trabalho, teve que ir para rua. "Foi um dia difícil. Muito difícil. Não deu nem para pegar todas as minhas coisas. Só fui embora e comecei a andar."
Oito meses depois, ele ainda não se acostumou ao fato de não ter um teto. "É uma humilhação muito grande." Por orgulho, prefere não encontrar a família, que está parte em São Paulo, parte em Rondônia. "Acho que eles não sabem que eu estou vivendo embaixo de uma ponte", diz.
Para ele, a causa do aumento do número de moradores de rua não é o crack, mas sim o desemprego. "É a desocupação que tira a dignidade do camarada. Aí é que ele sai de casa. A droga normalmente vem depois".
Embora a solidão seja uma dos sentimentos que mais o perturbam, por receio, prefere não tentar fazer amigos. Sua cabana é um pouco afastada das dos demais. Segundo ele, aos domingos há uma certa socialização entre os vizinhos, mas no dia a dia evita se aprofundar na vida dos outros. "Tenho medo. Tem muita gente ruim na rua. Gente drogada, perigosa. Tem vezes que passa um dia inteiro sem falar com ninguém", diz.
Para ganhar algum dinheiro, Carlos cata latinhas e as entrega nas cooperativas de reciclagem. A cada quilo do material, ele consegue R$ 5 ou 6. Com o dinheiro compra alguma coisa para comer. "Tem vezes que eu prefiro usar a grana pra um cigarrinho", confessa. "É uma coisa ou a outra."
Estas reportagens foram produzidas pela equipe do 62º Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, patrocinado pela Philip Morris Brasil.