Dia Internacional da Mulher

Doze personalidades femininas refletem sobre as conquistas e os desafios de ser mulher

Capítulo 12
Regina Navarro Lins

Para Regina Navarro Lins, quem ataca o feminismo desconhece a história

'As pessoas precisam aprender a discutir ideias. Nossa luta é contra a ignorância'

Anahi Martinho
São Paulo

Para Regina Navarro Lins, 69, o Dia Internacional da Mulher não é um dia para celebrações, e sim para atrair atenção para a causa da igualdade de gênero.

"Durante os últimos 5.000 anos, as mulheres foram oprimidas, desqualificadas, violentadas e subjugadas para o prazer do homem", afirma a psicanalista. Para ela, a luta pela igualdade de gênero é uma obviedade. Quem se diz contra o feminismo, na verdade, ignora a história.

Regina Navarro Lins é uma das 12 personalidades entrevistadas pelo F5, site de entretenimento da Folha, na semana do Dia Internacional da Mulher.

Regina Navarro Lins

Regina Navarro Lins Caiuá Franco/Divulgação

Ela afirma que a falta de conhecimento faz com que as pessoas não percebam a importância do feminismo. "Ele surgiu com a primeira Revolução Industrial, depois ensaiou uma volta na virada do século 19 para o 20, mas a Primeira Guerra Mundial [1914-1918] acabou com tudo."

Nos anos 1960, a pílula anticoncepcional representou um divisor de águas, mas na década de 1980 houve uma tentativa de retrocesso. "Disseram que as mulheres tinham perdido a dignidade, o casamento, e as próprias mulheres começaram a dar seus depoimentos dizendo que por causa do feminismo não arrumavam mais marido. Foi uma tentativa de devolver a mulher para dentro de casa, cuidando das crianças."

Para a psicanalista, uma terceira onda do feminismo começou nos 2000 em um contexto no qual a situação sociopolítica brasileira está sob tempos de retrocesso e negação dos direitos humanos. "O feminismo está se afirmando cada vez mais, o que é ótimo. As pessoas que atacam o feminismo desconhecem a história."

Defensora da igualdade de gênero e pautas progressistas como o amor livre, Lins é constantemente atacada por "haters" na internet. "Eles me chamam de velha mal-amada, pedófila, feminazi, de nazista e de comunista. É uma ignorância. A gente pode discutir de tudo, mas as pessoas precisam aprender a discutir ideias, a argumentar. Nossa luta é contra a ignorância", afirma ela, acrescentando que os ataques partem inclusive de mulheres.

Questionada sobre qual seria uma saída para a opressão da mulher, Regina defende uma aliança entre homens e mulheres para romper com a mentalidade patriarcal. "O ideal masculino cobrado pela sociedade patriarcal também é inalcançável, essa ideia de superioridade masculina, de provação. Os homens estão exaustos."

A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins
A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins - Caiuá Franco/Divulgação

Para a psicanalista, não há nada de errado em um homem afirmar que é feminista, no sentido de apoiar a igualdade de direitos entre os gêneros. "A fronteira entre masculino e feminino está se dissolvendo", diz ela, que vê com olhos otimistas as recentes discussões sobre o fim do gênero, encabeçadas por pensadores como Paul B. Preciado e Judith Butler.

"Estamos assistindo a movimentos muito importantes e ainda vamos assistir. O ideal feminino de submissão, fragilidade, limitação e o sentimento de que os homens sempre tiveram superioridade em relação à mulher estão acabando. Todos nós somos fortes e fracos, corajosos e medrosos, passivos e ativos."

CAVALHEIRISMO É MACHISMO

Regina Navarro Lins é autora de 12 livros sobre questões de gênero, sexualidade e relacionamento, psicanalista e blogueira do UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha. Ela é casada há 17 anos com o escritor Flávio Braga, seu terceiro marido e coautor de algumas das suas obras. Ela é mãe de dois filhos e avó de uma neta.

Quando pergunta em suas palestras se cavalheirismo é prejudicial às mulheres, ela costuma ser alvo de revolta entre a plateia. Segundo ela, o cavalheirismo reforça estereótipos de gênero, de que a mulher é incompetente, frágil, incapaz até de abrir um carro sozinha ou segurar o guarda-chuva.

"Esse pensamento vem de uma época em que a mulher era tão oprimida, mas tão oprimida, que só tinha o corpo dela para conseguir trocar por alimento, por roupa. [...] Todos, homens e mulheres, devem refletir sobre as crenças e valores aprendidos para se livrar dos moralismos, preconceitos e viverem melhor. É fundamental que a gente reflita. As pessoas só repetem o que já ouviram sem pensar."