Quarta-feira, 17 de junho.
Os dias que antecederam a semifinal em Guadalajara tiveram, no ambiente da seleção brasileira, um personagem onipresente: o Maracanazo.
Imprensa e torcida abordavam insistentemente o tema que mais abalara o futebol do Brasil até então: a derrota por 2 a 1, de virada, na final da Copa de 1950, no Maracanã.
O algoz? O Uruguai. Mesmo oponente, passados 20 anos, agora na Copa de 1970.
"A gente via os jornais: "E a forra?". Aquela coisa toda", lembrou Gerson.
"Isso aí foi influindo negativamente no nosso emocional", reconheceu Carlos Alberto.
Efeito do Maracanazo ou não, o Brasil emperrou. E o Uruguai abriu o placar.
"Aquela bola pererecando perto do Félix... Ele [Cubilla] resolveu chutar um pouco sem ângulo, e o chute dele saiu de canela com peito de pé, não forte, mas quicando. E o Félix parece que ficou imobilizado no gol", conta Piazza.
Para piorar, Gerson, o cérebro da seleção, era marcado individualmente. Como solução, ele pediu a Clodoaldo que avançasse. E, a um minuto do intervalo, deu certo. Clodoaldo correu para a área, recebeu lindo passe de Tostão e empatou.
No segundo tempo, o Brasil melhorou e, mais inteiro fisicamente, criou oportunidades e fez dois gols, classificando-se para a final.
A partida ficou marcada ainda por dois lances envolvendo Pelé.
Uma cotovelada fortíssima no rosto de Dagoberto Fontes, não vista pela arbitragem, e um outro famoso "não gol", quando, após lançamento, enganou Mazurkiewicz na meia-lua: passou por um lado do goleiro, a bola pelo outro, chutou, e por muito pouco ela não entrou.
Os brasileiros falavam: Será que vai acontecer o mesmo que em 1950?
Esse jogo aí, o detalhe importante, curioso, é o seguinte: nós ficamos concentrados num local que era beira de rua, ou de uma avenida, e o acesso dos torcedores não era proibido, pelo menos até a porta do hotel em que a gente estava.
Então eu lembro que os brasileiros que lá estavam, que foram assistir aos jogos, sempre falavam, chegavam falando: "Pô, será que vai acontecer o
mesmo que em 1950?".
Pô, ninguém lembrava. Eu não lembrava o que aconteceu em 1950 [derrota na final da Copa para o Uruguai, por 2 a 1, no Maracanã] porque eu tinha 5 anos de idade. A maioria dos jogadores não lembrava. Não se tinha, naquela época, a facilidade de ver um jogo pela televisão.
As próprias emissoras de rádio e os jornais, acredito que não davam tanta cobertura como hoje se dá a um evento como Copa do Mundo. Então ninguém tava ligado.
Mas aquela coisa, aquela insistência das pessoas, "1950, será? 1950, meu Deus...", isso aí foi, de alguma forma, influindo negativamente no nosso emocional, vamos dizer assim. Porque, queira ou não, tanto falavam, tanto falavam, pô, você pensa: "Caramba!".
E eu lembro que nosso time não começou bem o jogo, talvez por esse aspecto... Com certeza. Na minha opinião, com certeza isso prejudicou muito.
E o Uruguai, primeiro, tinha um time bom, eles tinham jogadores muito bons. E, segundo, o técnico da seleção do Uruguai foi o único que sacou que o cabeça do nosso time era o Gerson. Nós tínhamos o Pelé, que, pô, o Pelé liquidava os caras, mas o cabeça do nosso time era o Gerson.
Por quê? Porque todas as bolas que saíam da defesa, quando a gente saía jogando de trás, forçosamente elas passavam pelo Gerson, instintivamente passavam pelo Gerson: "Gerson, toma, Gerson". Mesmo comigo. A bola vinha pra mim, eu dava pro Gerson no meio, e as ações ofensivas começavam através dele.
E o técnico da seleção do Uruguai, o que fez? Pôs um cara próximo ao Gerson, fazendo com isso que a gente evitasse dar a bola pro Gerson: "Como eu vou a dar a bola pro Gerson se tem um cara perto dele? E se o cara toma?". E o time, tecnicamente, sentiu muito isso. Até que eles fizeram 1 a 0, e estavam com uma ligeira superioridade na partida.
E teve uma hora em que o Jairzinho foi atingido por um jogador uruguaio, eu diria deslealmente, porque naquela época eles jogavam dando porrada mesmo, não era nem jogo duro, era porrada mesmo, que eles diziam que futebol era pra homem.
E aí o Jairzinho estava sendo atendido e o Gerson veio a mim e falou assim: "Pô, Carlos, tá difícil jogar, o cara tá perto de mim. Eu tô com uma ideia, o que você acha?". O Gerson falou assim pra mim, talvez nem ele lembre, é tanta coisa. Mas eu lembro. São detalhes, alguns, que a gente não esquece.
"O que você acha? Eu vou trocar de posição com o Clodoaldo. Porque, se o cara continuar junto de mim, eu trocando aqui com o Clodoaldo, eu de cabeça de área, quem vai marcar ele sou eu, pô." O Gerson falando. "E vamos liberar o Clodoaldo."
O Clodoaldo não passava do meio de campo. Ele não passava do grande círculo, ele ficava ali, protegendo a defesa, cobrindo os meus avanços.
Aí eu chamei o Clodoaldo, junto com o Gerson, e falei: "Ó, o Gerson deu a ideia de... Tá difícil pra ele jogar, vamos trocar de posição, vamos tentar. Ele vai ficar aqui, você sai pro jogo".
E o que aconteceu? Ele foi lá e empatou o jogo. A única jogada em que o Clodoaldo chutou pro gol em toda a Copa do Mundo.
Mas por que nós fizemos isso? Porque nós tínhamos a autorização do nosso treinador, através das reuniões, dos bate-papos todos que a gente fazia, qualquer um tinha aquela liberdade. "Ó, se sentir alguma dificuldade não tem problema, troca. Não vamos esperar chegar ao intervalo pra saber o que eu vou falar", o Zagallo dizia.
O Zagallo tinha tanta confiança no grupo, jogadores que, apesar de jovens, eram experientes nos clubes, Cruzeiro, Botafogo e Santos, principalmente... Nós trocamos e deu certo.
Aquele gol deu a confiança que faltava pra gente se encontrar no jogo. Voltamos para o segundo tempo, o time já tranquilo, jogando bem, nós passamos a controlar a partida.
Como é que você vai admitir que o Pelé jogue 45 minutos mal?
Pô, o Uruguai, a forra de 1950... Não tinha nada disso. Tinha gente ali, eu, por exemplo, que era um dos mais velhos... Eu, o Félix e o Pelé éramos os mais velhos da seleção, e eu tinha 9 anos na Copa de 1950.
A gente via os jornais: "E a forra?". Aquela coisa toda. A imprensa botou, mas nós não tínhamos nada a ver com isso aí. Então, era mais um bicho-papão.
Mas isso para nós não importava porque a gente sabia da força da gente. Nós tínhamos visto o time uruguaio. Não era bom. O time uruguaio não era bom. O Pedro Rocha também não jogou esse jogo e para nós facilitou um pouco, ele era um bom jogador e tal.
Resultado: vamos pro campo. Chegamos no campo, a realidade foi essa: a nossa seleção não jogou nada no primeiro tempo. Nada! Por quê? Essa foi a grande pergunta. Não jogamos nada.
Aí eles fizeram o primeiro gol, tá certo? Numa bobeira nossa. Saída má de bola, cruza pra cá, cruza pra lá... O cara sabe que não pode cruzar a bola na defesa porque, se falhar, matou tudo. Bom, foi o que aconteceu e não podia acontecer. Falha nossa.
Eu não tava jogando. Eu escutava o treinador do Uruguai gritar pro Montero Castillo: "Pega o Gerson, pega o Gerson! Não deixa o Gerson jogar!". E eu não joguei. Toque de bola, esse não era o meu jogo. Meu jogo era de lançamento, metida de bola, e eu não consegui.
Aí conversamos ali: "Clodoaldo, vai fazer o meu, que eu vou fazer o seu. Eu fico um pouco mais aqui e você entra lá. Vamos começar a mexer tudo isso aqui porque nós não estamos jogando". E aí o Clodoaldo, numa arrancada dessas, o Tostão abriu, o cara abriu com ele, o Clodoaldo entrou, o
Tostão meteu a bola pra ele e o Clodoaldo empatou o jogo.
Veio o descanso, fomos pro intervalo. O Zagallo deu uma bronca em todo mundo, com muita razão: "Quando é que nós vamos jogar? Nós não estamos jogando. O que está acontecendo?". Mas ninguém sabia explicar, esse é que era o problema.
Como é que você vai admitir que o Pelé jogue 45 minutos mal? De não ter uma tabela, um lançamento, uma entrada do Jair, uma chegada do Carlos Alberto, um chute a gol de fora de área... Como é que você vai admitir isso nessa seleção, que fez isso o tempo todo?
Bom... Vamos jogar? Vamos jogar. Não tinha nada pra falar. Vai falar o quê? Vamos jogar? Vamos. Então tá bem, vamos. Entramos no campo e arrebentamos com eles. Acabou o problema.
E eles continuaram jogando a mesma coisa, ou seja, nada. Não jogaram nada. Nós é que jogamos mal, eles não jogaram nada. No segundo tempo nós jogamos bem, porque nós tínhamos que jogar. E eles continuaram jogando o que estavam jogando, ou seja, nada.
O time deles era fraco, não era um time bom. Era um time com alguns jogadores violentos... Como foi com o Pelé, né? O cara deu um pontapé nele sem bola, depois ele deu uma cotovelada no lateral direito [Dagoberto Fontes] lá e tal.
Quando terminou o jogo, nós entramos no vestiário e falamos: "Então, acabou o jogo, vamos pra concentração". Com samba, nos reunimos lá. Não tinha o que dizer. Não jogamos, não tinha explicação [para o primeiro tempo]. Sentamos lá, discutimos, argumentamos, chegamos à seguinte conclusão: "Nada".
Eu fazer um gol? Pra mim foi um sonho, não tinha essa ambição
Começou aquela história de 1950. E aí eu vinha com aquelas minhas desculpas: "Em 1950 eu era recém-nascido, tava com um aninho de idade, nem imaginava que ia poder estar aqui hoje jogando uma Copa e falando da Copa de 1950".
Mas isso era uma fuga, né, porque, claro, eu estou dentro do futebol, você tá vivendo o futebol, tá dentro de uma Copa do Mundo... Não conhecer a história das Copas? Então, era uma desculpa. No nosso íntimo a gente sabia da importância do jogo.
Logicamente que alguns jogadores tinham mais conhecimento do que eu, porque eu era um dos mais jovens da seleção. Mas, mesmo aqueles com mais idade, que tinham 29 ou 30 anos, casos do Gerson, do Pelé, também tinham as informações necessárias sobre a Copa de 1950.
E o Carlos Alberto dizia, com sua experiência, sua liderança: "Vamos lá! Que Uruguai, que nada. Vamos lá e pumba!". E isso despertava uma autoconfiança.
Foi um jogo difícil. Sofremos um gol numa bobeira lá, um chute meio despretensioso que pegou o Félix no contrapé. O Uruguai comandou o Brasil até os 44 minutos do primeiro tempo. Foi quando eu empatei o jogo.
Nós tivemos um papo com o Zagallo fantástico [no intervalo], ele mexeu com o emocional, falou do país, falou do povo brasileiro, só falou disso. Não falou de tática, não falou de nada. Falou que o brasileiro é brasileiro, e isso tinha um peso, como ser humano, como homem, como tudo. E encheu a nossa bola.
O Brasil voltou pra campo, nós comandamos as ações. Podia ter sido 5 a 1. Teve aquela jogada do Pelé, fantástica, ele dribla o Mazurka [Mazurkiewick, goleiro uruguaio], dá aquele drible da vaca, chuta, a bola vai fora. Enfim, foi o Brasil que vinha comandando os seus adversários.
*
Foi o gol mais importante da minha vida.
Eu era o volante e fazia uma função que eles chamavam de terceiro zagueiro. E eu acho que você tem que ter um jogador que tenha essa mobilidade de fazer a dupla função porque, se não, eu acho que você perde um jogador.
Eu fazia essa função. Eu era volante com a posse de bola e era defensivo sem a bola, porque eu precisava defender e estava sempre enfiado entre os meus dois zagueiros, ou então entre um zagueiro e um lateral pra fazer a cobertura.
Então, quando eu saí ali para o ataque, houve um fato, logicamente durante a partida... O Gerson tava sendo marcado, porque o Uruguai marcava a saída de bola pra evitar que a bola fosse passada pro Gerson e o Gerson fizesse o lançamento, que era a nossa jogada de curta a longa distância.
Aí o Gerson falou com o Carlos Alberto e deu um toque no Zagallo: "Ó, vou mandar o Corró sair um pouquinho mais. O Clodoaldo vai começar a sair e eu vou fazer a vez dele".
O Gerson começou a ficar quase de volante, então eu comecei a sair um pouquinho. Aí, teve uma saída de bola pela esquerda, eu participei. Joguei pro Piazza, o Piazza me devolveu, o Tostão se deslocou pra esquerda, e eu dei ao Tostão.
Quando eu dei ao Tostão, eu percebi que teve um zagueiro que saiu atrás do Tostão. E ficou aquele clarão. Eu olhei e... disparei ali. Disparei, correndo ali naquele vazio, e o Tostão deu o tempo, né, de bola que ele tinha, era fantástico nos lançamentos.
Deu uma curva assim na bola, ela foi quicando uma, duas vezes, na terceira eu só finalizei. Fui feliz na maneira como eu peguei na bola, peguei de bate-pronto, empatei o jogo.
Pra mim, foi até um espanto, porque... Puxa! Eu fazer um gol? Pra mim foi um sonho. Eu marquei poucos gols na minha carreira, acho que 10, 12, 15, não sei, porque eu não saía muito da defesa.
Eu não tinha essa ambição do gol, porque eu me sentia super-realizado dentro da minha função. O pessoal falava que eu era o cara que mais roubava bola durante o jogo, que eu dava o combate, que eu isso, que eu aquilo. Em determinado momento me compararam com o Beckenbauer.
Foi como se eu tivesse realizado um sonho que representou, nos 14 anos da minha carreira... Um gol que significou muito, como se eu tivesse marcado muitos gols durante a minha carreira. Foi muito emocionante aquele momento.
Quando pensei em vibrar, já tava sendo agarrado pelo Pelé, pelo Jairzinho, tal. Legal, foi uma emoção inesquecível. Eu estou relembrando o lance como se tivesse sido ontem.
Foi o dia em que eu vi o Zagallo mais bravo na minha vida, ele ficou possesso
Eu não esqueço o dia em que a imprensa foi à concentração, uns dias antes do jogo, dois dias antes. Só se falava no Maracanazo, como é que o Brasil ia se comportar diante do Uruguai. Perguntas se ia ter medo, se o Brasil ia entrar muito nervoso, se ia ter revanche. Girou o tempo todo nisso.
E o Uruguai... Um jogo que o Brasil correu risco, né? Nesse jogo o Uruguai entrou em campo marcando muito bem, o Uruguai tinha um time muito bom.
O Uruguai, na época, era realmente uma força mundial. Não só a seleção, como os times uruguaios. Os times uruguaios rivalizavam com o Santos, com o Real Madrid, disputando os principais títulos mundiais.
Então foi um jogo muito duro porque o time uruguaio era muito alto, muito forte, marcava muito bem. E o Brasil praticamente não jogou no primeiro tempo. O Brasil cresceu no segundo tempo. Se o jogo vira 1 a 0, o gol de empate do Brasil foi no último minuto, no finalzinho do primeiro tempo, podia ser pior.
Chegou um certo ponto, eles colocaram um jogador pra fazer marcação individual no Gerson. Porque sabiam que as jogadas começavam no meio e o Gerson era o organizador das jogadas. E o Gerson não tava jogando. Sempre eles tomavam a bola, ou chegavam junto, ou faziam a falta. O jogo truncado, parado.
Aí o Gerson, por iniciativa própria... Na hora lá parou o lance, nós conversamos e tal, o Gerson tomou a iniciativa de trocar de posição com o Clodoaldo. "Vamos trocar de posição. Eu fico mais atrás, você avança. Porque eles tão me marcando."
O Clodoaldo começou a entrar, a aparecer livre, e assim saiu o gol do Brasil. Eu caí pela esquerda como um ponta, recebi, o Clodoaldo entrou pelo meio, eu dei um passe por trás dos zagueiros e o Clodoaldo, entrando pelo meio, livre, fez o gol de empate. Quer dizer, uma jogada... Foi um momento decisivo essa mudança que houve naquele momento.
Eu lembro também que, no vestiário, foi o dia em que eu vi o Zagallo mais bravo na minha vida. O Zagallo ficou possesso. Gritava, xingava, falava alto que o time tava apático, que o time não conseguia jogar. E gritando e tal. Eu acho que ele não deu nenhuma instrução tática, não. Foi aquela coisa do grito mesmo. E isso também ajuda. Todo mundo ficou assustado, né?
E outra coisa. Time que marca muito, isso é uma história que se repete, eu tô cansado de ver... Time que joga marcando, marcando, marcando, chega no segundo tempo, cansa. Ninguém consegue ficar correndo todo o jogo atrás do adversário. O Uruguai fez um gol e ficou marcando, marcando, marcando.
O Brasil, superbem preparado fisicamente... Aí o jogo ficou fácil no segundo tempo. As jogadas foram saindo, os gols foram saindo.
Mesmo assim foi um jogo difícil. Inglaterra e Uruguai foram os dois jogos que o Brasil correu risco de não ganhar.
Dos jogos todos, foi o que mais mexeu com os nervos do jogador brasileiro
Eu não recordo qual jornalista chegou pra mim e falou: "Piazza, você não teme que Guadalajara se transforme amanhã no Maracanã de 1950?".
Eu falei: "Ó, eu não vivenciei 1950. Isso é da história, infelizmente o Brasil perdeu o título quando tinha a melhor seleção. A gente respeita o Uruguai, mas não tem essa preocupação com 1950".
Mas é gozado. Por mais que você faça para ficar isolado, acaba sendo afetado pelo vírus, contaminado e, de repente, um colega ou outro dá mais importância a isso. É interessante que eu acho que, dos jogos todos, foi o que mais mexeu com os nervos do jogador brasileiro.
Eu acho que pela postura do Uruguai, porque o Uruguai, eu sempre defini o time do Uruguai assim... Eles jogam de forma viril, desleal, brigam com você na casa deles e brigam com você na sua casa. Eles são um pouco malucos.
O Brasil não se encontrou, até porque o Uruguai acabou fazendo 1 a 0. Aconteceu. Foi esquisito o gol. Mas, com isso, ainda deu mais força pro Uruguai. E marcando forte, marcando em cima, com virilidade e às vezes até com deslealdade, tanto que essa deslealdade aconteceu em alguns lances. Como aconteceu pelo lado do Brasil, principalmente com o nosso rei, o Pelé, no segundo tempo.
Só vi essa jogada, que era de expulsão pro Pelé, no tempo que a gente ia ao cinema, pelo Canal 100. O Pelé dá uma olhada assim, como nós dizemos, com o rabo do olho... O Pelé é tão capaz, tão inteligente, é rei não é à toa. Ele, até pra dar essa porrada no cara, deu aquela de rei. E o árbitro não deu nem falta do Pelé, deu do jogador do Uruguai.
Ficou 1 a 1 até o intervalo, e o próprio Zagallo falou: "Peraí, gente! Ô, ô, acorda!". Como quem diz: "Não vai repetir o Maracanã de 1950!". Mais ou menos uma coisa assim. Mas o que resolveu não foi esse alerta do Zagallo.
É que você, quando tá preparado fisicamente, aí entra a parte psicológica, entra tudo, tem uma série de coisas em que você cresce perante o adversário.
Às vezes você tem uma equipe que faz um bom primeiro tempo e chega no segundo tempo não aguenta, não consegue se encontrar fisicamente pra poder manter aquele ritmo.
O Brasil não teve essa preocupação. No segundo tempo o Brasil sempre foi melhor. No meu ponto de vista, o Brasil tava sempre sobrando fisicamente. Isso em todos os jogos.
Se não foi brilhante no primeiro tempo, no segundo tempo o brilho da seleção foi muito maior e compensou esse jogo contra o Uruguai, essa vitória de 3 a 1 que nós tivemos.