Além das partidas, todo campeonato, da preparação para ele até o seu término, tem a marca, geralmente divertida, das histórias, dos bastidores, que o permearam.
Do arranca-rabo de Pelé com um companheiro à desconfiança infundada com a defesa.
Da concentração em um local pitoresco no México à folga com festinha e mulheres.
Da falta da braçadeira para o capitão do time ao jogador com vergonha de não suar a camisa.
Do sonho de Dario, o Dadá Maravilha, antes da final à investida para cortar o bigode de Rivellino depois da final.
Cada jogador tem pelo menos um causo, uma aventura para contar. Quase sempre, mais que isso. Dois, três, uma dezena.
Teve quem fugiu, à surdina, de evento comemorativo depois da final contra a Itália. "Larguei todo mundo e fui embora."
Teve quem se surpreendeu com a ausência completa do assunto sexo nas conversas. "Será que tá acontecendo alguma coisa que está levando você a não pensar em coisa desse tipo?".
Neste capítulo estão reunidas uma seleção desses casos, narrados por quem deles participou, sendo ou não protagonista.
Até o camarão carioca e a melancia mexicana tornaram-se ingredientes saborosos (ou não) na odisseia da seleção brasileira que culminou com o tricampeonato na Copa do Mundo de 1970.
O Pelé falou: 'Pedi essa reunião para saber se você, Fontana, tem algo contra mim'
O trabalho de grupo é muito difícil. Principalmente quando se fica com o mesmo grupo, de 50 a 60 pessoas, porque não pode se contar apenas os jogadores, tem comissão técnica, massagista, roupeiro, diretor. É muito difícil você conviver com cada um pensando de uma forma.
Lógico que de vez em quando acontece uma rusga, o cara fala uma piada que o outro não gosta, tem uma atitude que o outro não gosta, aí o cara chama a atenção e de repente o outro revida, né?
Nós tivemos um único problema, que foi sanado. A comissão técnica dava liberdade para que quem visse algum problema convocasse uma reunião.
Foi durante um treinamento, no início da Copa, no qual o Fontana... O Fontana jogava pesado, e no treino também. E ele deu uma chegada junto no Pelé no treino. O Pelé não gostou. Acabou o treino, o Pelé disse que queria uma reunião depois do jantar.
Fizeram uma reunião, e o Pelé foi lá e falou: "Olha, eu pedi essa reunião para saber se você, Fontana, tem alguma coisa contra mim. Porque, se tiver, vai acabar aqui e agora, porque nós temos que ganhar essa Copa do Mundo".
E aí o Fontana veio, abraçou o Pelé e ficou tudo resolvido.
Cadê a braçadeira?
Em relação ao fato de eu ser o capitão da seleção, eu já era o capitão no Santos, que era o grande time do Brasil, e aí eu trouxe a braçadeira do Santos para a seleção.
Agora, a minha função como capitão do time era facilitada. Primeiro, pela união do grupo. Segundo, porque eu tinha ao meu lado, no grupo todo, jogadores com liderança em suas equipes.
O Piazza era capitão no Cruzeiro, o Gerson foi capitão em todos os times em que jogou, o Brito, capitão no Vasco. O Pelé tinha a liderança natural do Pelé. Sem ter sido combinado, a gente dividia a função de capitanear o grupo entre esses jogadores.
Não era uma coisa comum, pelo menos aqui no Brasil, a gente usar a braçadeira de capitão. Foi uma coisa da época. Hoje, nos clubes, na seleção, o cara usa a braçadeira.
Eu usei uma tarja, uma vez, de capitão na seleção quando o [Cláudio] Coutinho assumiu. Ele que me deu uma tarja escrito "captain". Não era nem em português. Aí, com a saída do Oswaldo Brandão, em 1977... Eu nem tava na seleção com o Brandão. Eu tava com o Coutinho no Flamengo, e o Coutinho disse: "Vamos lá, vamos lá".
E aí eu fui, já como capitão. Eu tinha até uma fotografia da seleção, eu com a tarja. Foi a única vez, porque não era uma coisa obrigatória.
Tínhamos uma aposta com o Rivellino pra cortar o bigode, ele tinha um xodó enorme
[Encerrada a final] houve a invasão do campo, deixaram o Tostão só de sunga. Eu saí do tumulto, fiquei sentado no fundo do banco [de reservas]. E aquela galera puxando os caras, quebrando tudo, e eu no banco. Tava muita confusão, cara.
Quem ficou no campo... Pelé e Tostão, que estavam mais longe do banco, não conseguiram chegar. Não dava pra correr, correr pra onde? Aí, quando acabou o tumulto, saímos pelo lado e entramos no vestiário.
Nós tínhamos uma aposta lá com o Rivellino, pra cortar o bigode dele, ele tinha um xodó enorme com aquele bigode.
Nós íamos cortar, aí nós o seguramos lá no fundo do vestiário. Tesoura, gilete, e ele começou a gritar toda a vida. Aí o doutor Antônio do Passo [presidente da comissão técnica] veio.
"Não, não façam isso."
"Doutor, é uma aposta."
Aí o Rivellino: "Eu não apostei com ninguém!". Foi aquela coisa toda. E não deixou cortar. Porque era o xodó dele.
É exagero [dizer que a defesa do Brasil era fraca]. Houve falhas de cobertura do meio do campo, uma série de coisas.
O Carlos Alberto era um excelente jogador, é tido como um dos melhores, se não o melhor, lateral que teve aí. A gente sabia que ia embora para o ataque. Porque, tecnicamente, sabia fazer.
O Brito era um excelente jogador, junto com o Piazza. Eles se completavam. E o Piazza era um jogador que tinha noção de meio de campo, noção de cobertura, noção de sair jogando. Meio de campo tem que sair jogando, e ele fazia isso lá de trás, o que normalmente um quarto-zagueiro é difícil fazer.
E o Everaldo era um lateral marcador. O Marco Antônio, tecnicamente falando, era melhor do que ele. Aí você diz assim: "Vocês preferiam quem?". Era difícil. Porque um sabia jogar pra caramba, e o outro marcava pra caramba.
Pro esquema, o Everaldo era mais importante. Por quê? Porque o Everaldo só ia até o meio de campo. Não passava. Ele dizia: "Eu não vou. Quando eu chegar aqui, alguém vem porque, se não, eu vou dar um bico lá pra frente. Porque eu não vou fazer melhor no meio do campo do que Gerson, que Clodoaldo, que Rivellino. E na frente eu não vou fazer melhor do que Tostão, Jairzinho e Pelé, tá certo?".
O Félix era um baita de um goleiro embaixo dos paus, pelas defesas que ele fez, maravilhosas. Ah, ele não sabia sair do gol... Qual goleiro que sabe sair do gol, da seleção brasileira, até hoje? Vou dar dois dias pra você pensar. Não tem. Todos eles têm falhas, como tinha o Félix, até hoje na saída do gol.
Então isso era uma falha normal. Agora, ele saiu do gol várias vezes bem? Saiu várias vezes bem. Saiu várias vezes mal? Saiu. E aí, qual o problema? Isso não teve influência nenhuma nos gols que nós tomamos.
Então, era uma zaga em que a gente acreditava. Ponto. Se for perguntado a todos os jogadores de 1970, do meio do campo pra frente, eles vão dizer isso, exatamente o que eu tô dizendo: "Nós tínhamos confiança na nossa defesa". Ponto.
Não conseguia me alimentar após o jogo contra Inglaterra, então comia muita melancia
No jogo com a Inglaterra, eu cheguei a perder quase cinco quilos. Foi o jogo mais desgastante da Copa do Mundo, um jogo que o Brasil venceu de 1 a 0.
Mas o jogo poderia ter sido 2 a 1, 2 a 2, 1 a 0 pra Inglaterra, 2 a 1 pra Inglaterra. Foi um jogo com uma igualdade muito grande.
E nesse jogo eu perdi quase cinco quilos, a ponto de depois do jogo eu não conseguir me alimentar.
Eu não conseguia comer. Eu tomei muito líquido e houve uma preparação pelo departamento médico da seleção para que eu voltasse a me recompor para o próximo jogo.
Então eu tive uma alimentação nas primeiras 24 horas à base de líquido, de fruta, eu lembro que eu comia muita melancia, depois fui me alimentando com sopas, cremes, até voltar ao normal e conseguir me alimentar, até chegar ao ponto de estar recuperado para o próximo jogo. Foi uma coisa fantástica.
Um grupo assexuado
Como existia uma preparação física, e não sei se psicologicamente também a gente tava tão focado, quase, do que eu lembro, não surgia esse assunto [sexo].
A ponto de perguntar: "Será que tá acontecendo alguma coisa, será que a alimentação, a preparação física, está levando a um ponto de você não pensar em coisa desse tipo?".
Então não havia uma preocupação. E a gente ficava ali no hotel, com a multidão na frente, os brasileiros. Quer dizer, poderia haver um assédio por parte dos fãs, das fãs. Mas os torcedores ficavam ali cantando com os jogadores que gostavam do pagode, numa sacada que existia no hotel, e uma multidão ficava ali.
Mas era isso, era mais um prazer de estar ali cantando e vivendo o clima brasileiro, porque a torcida ficava ali na frente.
Podia ser que existisse alguma paquera, alguma coisa assim, de um ou outro, mas não que a gente... Foi uma seleção que eu entendo, analisando ao longo desses anos após a Copa, que estava muito focada num objetivo só.
Lógico, como ser humano, a pessoa pode ter seu momento de pensamento, de coisa, de solidão, mas era tão importante pro grupo a conquista da Copa, e eu sentia isso ainda muito jovem.
Ninguém pensava individualmente, ninguém pensava em dinheiro, ninguém pensava em lazer, ninguém pensava em nada a não ser na Copa do Mundo. Esse foi o grupo de 1970.
Isolados num castelo
Em Guanajuato [no México, antes da ida a Guadalajara], nós passamos três semanas praticamente isolados do mundo, numa sede de uma concentração que era um hotel no estilo de um castelo, parecia uma fortaleza com muros, que lembravam um estádio de futebol, com três metros de altura.
E ali nós convivemos com a imprensa, que cobria a seleção, a imprensa brasileira e de todo o mundo, com quem nós mantínhamos um contato. O campo de treinamento era bem próximo. Foi uma preparação toda especial e que foi bem-aceita pelo grupo.
Não sei se nos tempos de hoje, com essa facilidade de você ficar em hotéis luxuosos, ficar próximo do torcedor, da população... Nós tivemos a Copa da França [em 1998], parece que houve um excesso de liberdade.
Estávamos aqui no Brasil e era comum vermos os jogadores sendo filmados, fotografados nas lojas, passeando nos seus carros com seus familiares, com seus amigos. Isso era muito frequente.
Então, nesse aspecto, a seleção [de 1970] aceitou bem aquela preparação, entendeu a necessidade disso.
Show de Simonal
Eu lembro [após a vitória sobre a Itália] da grande festa no hotel, primeiro. Depois nós fomos a um local ter uma comemoração, não oficial ou recebendo medalhas. Isso aconteceu depois, na cerimônia que a própria Fifa organizou, um jantar com o vice-campeão mundial também e o terceiro colocado.
A nossa festa, só nossa, eu lembro que foi no hotel em que estava hospedado o [cantor] Wilson Simonal, que nos presenteou com um show naquele dia. Uma festa para poucas pessoas, não sei se 100 ou 200, não muita gente. Mas ali foi a nossa grande festa.
E, depois, as grandes comemorações na chegada ao Brasil. Aí, sim, na chegada ao Rio uma multidão desde o aeroporto até o hotel em Copacabana.
No hotel, de baixo até o último andar, ninguém conseguia andar, nem de elevador nem pelas escadarias. Não conseguia se mover ali.
Depois tivemos as homenagens em São Paulo, em Brasília, foram acontecendo várias homenagens que o Brasil queria nos prestar pela conquista do tri. Em São Paulo, carro aberto do Corpo de Bombeiros. Em Santos também desfilamos pela cidade.
Na folga podia ir a festinhas, tomar uma cervejinha ou ir pra igreja rezar
Tinha um dia de folga, era uma vez por semana. Nesse dia de folga, geralmente o jogador treinava de manhã, almoçava. O cara geralmente saía à uma hora da tarde e chegava às 11 horas da noite. Uma vez ou outra, um chegava atrasado.
E o cara, ali, fazia o que queria. Tinha um que tinha mulher, encontrava pra trepar. Tinha outro que gostava de ir pra festinha, tinha uma festinha organizada não sei onde. Tinha uns que iam passear no shopping. Igualzinho a hoje, não tinha diferença nenhuma.
Por exemplo, você jogava, no outro dia você não vai treinar. Era muito comum no outro dia ter uma massagem, uma hidromassagem, às cinco horas da tarde. O cara acorda, toma o café e tá de folga até as quatro.
Quer dizer, se ele programar um encontro pra dar uma trepada, não tem nenhum problema. Ele tem ali uma folga de algumas horas, ele pode, se ele quiser. Depende de cada um.
Se ele quiser, pode se encontrar com alguém em algum lugar, tomar uma cervejinha, escutar música ou ir pra igreja rezar. Aí vai de cada um.
Quando começam os jogos da Copa muda um pouco, mas a folga se mantém, com menos intensidade. Dentro do horário de folga, podia [fazer tudo], só que o horário era menor.
Eu lembro de um dia de folga que teve uma festinha lá. Cheio de mulher. Se eu quisesse, tinha mulher lá disponível. Quem quisesse fazia o que queria, naquele período ali você tá liberado.
Isso não traz nenhum prejuízo pro jogador. Agora, se ele dorme mal, se entra em confusão, em briga, fica bêbado, passa mal, vomita, no outro dia ele não pode treinar.
Um cri-cri na seleção
O Rivellino era ranzinza. Ele tava sempre reclamando de alguma coisa: "Isso não tá bom, eu não gostei". Mas sem grosseria, sem agressividade nenhuma.
Sabe como é que eu chamava o Rivellino, o apelido que dei pra ele? Dorinha. Porque ele vivia se queixando de dor. "Tá ruim. Tô com uma dor de estômago, tô com uma dor na perna, tô com uma dor não sei o quê. Não dormi bem." Ele não parava de reclamar. Era o maior chorão do mundo.
Vai treinar de um jeito, ele queria de outro, vai treinar de outro, ele queria de um jeito. Reclama de que tá com dor de barriga, reclama de que não dormiu bem, reclama de dor de cabeça, reclama de que não passaram a bola pra ele.
Chorão. O dia inteiro reclamando, sempre tem uma coisa ruim. Sabe que tem pessoa assim, né? Cri-cri.
Não é que ele levava aquilo a sério, não. Não que aquilo trazia prejuízo pra ele. Era o hábito de reclamar, de achar que tudo tá ruim. No jogo, por exemplo, quando ele jogava, qualquer bola que não desse certo ele ficava resmungando. Resmungos.
Camareira pra quê?
O Piazza era meu companheiro de quarto. Era o sujeito mais ordeiro do mundo.
Além de ele ser extremamente disciplinado dentro de campo, o Piazza era um fenômeno. Nunca jogou mal. Mesmo quando o time jogava mal, ele jogava bem.
Ele fazia sempre as mesmas coisas, do mesmo jeito, sempre corretamente. Não fazia nada espetacular, mas não errava. Esse tipo de jogador é importantíssimo num time. Confiável.
E fora de campo ele era ordeiro, organizado. Então com o Piazza eu brincava, aí era brincadeira de sacanagem, eu jogava todas as coisas no chão e saía do quarto. Deixava no chão porque eu sabia que ele ia arrumar.
Não precisava ter camareira no quarto, não, porque ele botava tudo no lugarzinho certo, deixava tudo limpinho. Era hábito dele, era sempre assim. Ele era todo... [risos] organizado.
O Piazza é desse tipo que nunca se altera, extremamente racional com tudo, bom senso, pessoa que nunca se exalta. Não fica nervoso, não dá chilique, não fica pra baixo também, achando que as coisas estão ruins. Uma pessoa animada, sempre do mesmo jeito.
O sonho de Dario
O jogo [contra a Itália] foi ao meio-dia. Nós acordamos pro café da manhã e tava um silêncio enorme na mesa, todo mundo tenso, como é normal.
Aí o Dario, que nem no banco ficou nenhuma vez durante a Copa, pois quem ficava na reserva, de centroavante, era o Roberto... O Dario ficou em pé e começou a falar que ele tinha tido um sonho. Que ele tinha feito três gols. E que o Zagallo podia colocá-lo que ele garantia que ia fazer os três gols.
Todo mundo começou a rir, a gargalhar, descontraiu o ambiente. Foi gozadíssimo.
O Dario era uma peça. Era meio bobo da corte, porque todo mundo ficava atiçando, e ele ia falando, não parava. Tinha um caderninho que ele levava pro quarto e ficava decorando as frases que ele ia falar no microfone, nas rádios. Todo dia uma frase nova.
Fuga da festa
Foi uma festa enorme [depois da final]. À noite, nós fomos pro hotel e mais tarde teve uma festa, não sei onde. Teve uma festa de comemoração, eu não sei se foi num restaurante, numa boate. Era um lugar grande. Eu fui, tava muito feliz, comemorando e tal, mas eu larguei todo mundo e fui embora. É.
Porque eu queria ir pro hotel telefonar, falar com as pessoas. Eu não tinha falado com as pessoas, com ninguém. Fui pro hotel e chorei, liguei pras pessoas da minha relação. Os meus pais eu já tinha estado com eles, meu pai e minha mãe estavam lá. Foi uma coisa muito bacana.
Depois houve aquelas festas todas na volta ao Brasil. Festa no Rio, festa em Brasília, festa em Belo Horizonte. Eu tive três festas. Depois teve o pessoal de São Paulo também. As festas não pararam durante muito tempo.
Teve jogo em que me senti um pouco envergonhado, porque a camisa não tava suada
Eu sempre fui um jogador muito combativo, de tomar embaixo das pernas e correr. Me driblava uma vez, vou lá pra me driblar a segunda, chego lá e tomo a bola. "Tá vendo? Não adiantou nada. Eu vim aqui e tomei." Eu sempre gostei de participar, de suar a camisa. Então, eu, médio-volante, sempre acostumado a perder dois, três quilos às vezes num jogo.
Na seleção brasileira, quando eu fui pra posição de quarto-zagueiro, eu confesso que teve jogo em que eu me senti um pouquinho envergonhado, um pouco frustrado, porque eu punha a mão na minha camisa e achava que ela não tava suada suficientemente.
Claro que a minha participação era mais limitada que a do médio-volante, que combate aqui, vai ali, arma, desarma, volta. Ali como quarto-zagueiro, a função era mais de contenção, e às vezes como o último homem de contenção.
Mas eu punha a mão na minha camisa e tinha hora que eu a sentia muito seca. Eu queria ver a minha camisa molhada, do jeito que eu fazia nos jogos quando tava na seleção ainda jogando de médio-volante ou quando tava no Cruzeiro mesmo.
Isso me trouxe um pouco de frustração, mas não tirando o brilho, absolutamente, de nada.
Camarão indigesto
Quando foram fazer o teste de avaliação [do grupo de jogadores da seleção] no Maracanã... Eu acho que foi falta de vivência da comissão, apesar de todo o estudo científico da parte deles. Pô! Eu podia ter morrido, ter tido uma congestão.
Porque na hora do almoço a gente tava lá, fomos de manhã um pouquinho na praia, aquele negócio de mineiro, e na hora do almoço fui comer um camarão com molho azeitado, aquela coisa toda.
Quase deu uma congestão na hora de fazer o teste de avaliação. Quase lancei o coração pra fora. Quer dizer... Foi uma falta de um trabalho melhor.
Você vai fazer um teste, tem que estar preparado. É aquele negócio, eu vou dirigir mas não posso beber. Você bebe, bebe, bebe e vai dirigir? Ó o risco.
O jogo de US$ 10 mil
A Copa do Mundo de 1970 representou 14.500 dólares pra nós.
O último jogo, contra a Itália, foi importante pra premiação. Aqueles cinco primeiros jogos valeram US$ 4.500, foram US$ 900 por cada jogo. O último jogo, contra a Itália? US$ 10 mil pra cada um.
E nós aceitamos. Porque a gente podia, perfeitamente, chegar e falar: "Peraí! Vamos fazer cinco jogos pra ganhar US$ 4.500? Pega esses US$ 10 mil, joga US$ 5.000 aqui, e US$ 4.500 transforma em US$ 9.500, pelo menos. E pega esses US$ 5.000 contra a Itália".
Ou seja, a gente ganhou algum dinheiro, que dava pra comprar, sei lá, eram CR$ 60 mil na época... Dava pra comprar um apartamento de três quartos? Dava. Nem se compara com a premiação que tem hoje.
A proposta da premiação foi acertada no Rio de Janeiro. E lá no México, se fôssemos vice-campeões, não íamos ganhar nada.
Eu falo: é falta de cultura. Não é cultura nossa, é falta de cultura. A gente não valoriza o vice, queremos só o título. É assim no Brasil. Infelizmente há essa falta de cultura e o vice, pra nós, não é lá essas coisas.