Domingo, 7 de junho.
No estádio Jalisco, Brasil e Inglaterra duelam pela liderança do Grupo 3 da Copa de 1970.
Na estreia, a seleção brasileira goleou a Tchecoslováquia por 4 a 1, de virada, e a inglesa passou pela Romênia por um apertado 1 a 0.
A Inglaterra era a atual campeã mundial —triunfara em 1966, em casa, superando a Alemanha Ocidental na final—, e comissão técnica e jogadores brasileiros consideravam esse jogo chave.
Pois, se o Brasil ganhasse, e depois passasse pela Romênia, seria o campeão do grupo e permaneceria em Guadalajara na sequência do Mundial.
Havia certo temor em relação aos ingleses devido ao estilo de jogo, de muita bola aérea. "Nossa, como é que vai ser isso? Eu tenho 1,76 m, não tenho boa impulsão", preocupava-se Piazza. E com razão.
Carlos Alberto conta que, especialmente depois de o Brasil ter feito o gol —Jairzinho, aos 14 minutos do segundo tempo, após grande jogada individual de Tostão e passe perfeito de Pelé—, a Inglaterra passou a lançar bolas na área de Félix.
"O treinador deles [Alf Ramsey] começou a colocar uns caras do tamanho de um poste, justamente pra explorar as bolas altas. E eles sempre levavam vantagem."
Para o capitão da seleção, o Brasil contou com a sorte, e com a boa atuação de seu camisa 1, para não levar gol.
Nesse jogo, a seleção não teve Gerson, poupado devido a um desconforto muscular. Jogou Paulo Cézar Caju.
Esse foi o grande jogo da Copa do Mundo, e nós demos muita sorte de ganhar
Sem o Gerson, o Rivellino veio para o meio de campo e o Paulo [Cézar Caju] foi para a ponta esquerda.
Olha, esse foi o jogo da Copa, foi o grande jogo da Copa, porque a seleção da Inglaterra era um time muito bom. Eles tinham jogadores muito bons tecnicamente. E eles vinham já com a experiência de quatro anos, era um time que se formou na Copa de 1966.
Com o peso de campeã do mundo. E com jogadores... Bobby Moore, até hoje se fala desse jogador. Bobby Charlton, Gordon Banks, enfim, eles tinham jogadores realmente muito bons.
E nós sabíamos e nos preparamos pra enfrentar esse jogo e ganhar. Porque era aquela coisa do futuro da seleção. Quem ganhasse praticamente estaria na final, como acabou acontecendo.
Tenho certeza de que, se nós não tivéssemos ganhado da Inglaterra, sem dúvida, a final seria Brasil e Inglaterra. A Inglaterra seguiria jogando em Guadalajara, nós iríamos jogar com a Alemanha e penso que poderíamos ganhar, mais ainda pela preparação física para jogar na altitude.
A Alemanha foi até a semifinal, contra a Itália. E seria o Brasil lá, jogando a semifinal contra a Itália. Poderíamos ganhar da Itália e jogar contra a Inglaterra na final. Por isso que nós sabíamos da importância desse jogo, Brasil e Inglaterra.
Eu lembro exatamente do lance do gol, eu vi bem porque eu estava numa posição em diagonal mas que dava pra notar o que estava acontecendo, mesmo sendo do outro lado.
Foi uma jogada em que o Tostão entrou ali pela meia esquerda, deu um drible no Bobby Moore e virou, metendo a bola na área. Eu, sinceramente, não acredito que ele tenha visto [o Pelé]. Eu acho que ele falou: "Vou meter porque acho que o Pelé deve estar lá".
Quando o time está bem, tudo dá certo, até aquela jogada. O Tostão virou sem olhar pra meter a bola dentro da área e, com certeza absoluta, se o time não estivesse bem, o zagueiro inglês tirava. Mas, quando as coisas dão certo pra uma equipe, até essas jogadas assim dão resultado positivo.
E a bola caiu justamente no pé do Pelé, que com um toquinho tirou todo mundo da jogada, um toquinho passando a bola pro Jairzinho, e o Jairzinho fez o gol, que foi um alívio porque o jogo tava muito equilibrado. E quem fizesse aquele primeiro gol fatalmente ganharia o jogo.
Foi um jogo excepcional, e eu digo até que nós demos muita sorte de ganhar. Porque no final eles meteram umas duas bolas na trave. Eles começaram a colocar uns jogadores muito altos pra explorar os cruzamentos, e o nosso goleiro, o Félix, teve uma atuação excepcional naquele jogo.
Eles tiveram alguns lances [de perigo] e nós tivemos muita sorte de não tomar o gol. Não por fragilidade da nossa defesa, nada disso, mas porque realmente o time deles era excelente.
No final do jogo, faltando 10, 15 minutos, o treinador deles começou a colocar uns caras do tamanho de um poste, justamente para explorar as bolas altas. E eles sempre levavam vantagem. Mas, como eu disse, o Félix estava muito bem naquele jogo, fora a sorte que nós tivemos. Ou a bola pegava na trave ou o Félix defendia.
Eu acho que foi o maior jogo da Copa do Mundo, Brasil e Inglaterra.
O Félix deu um rebote [no primeiro tempo], e o Lee, em vez de evitar [o choque], entrou chutando e pegou o rosto do Félix.
E ali eu chamei o Pelé e falei, porque o Pelé sabia dar uns [safanões], e os caras sentiam: "Pelé, tem que dar uma nesse cara aí pra ele sossegar". E o Pelé: "Deixa comigo, deixa comigo".
Acontece que o jogo foi reiniciado e, na primeira bola dele [Lee], ele dividiu comigo. Eu falei: "Não vou esperar o Pelé". Aí eu fui e dei.
Mas foi uma coisa escandalosa, eu pensei até que fosse ser expulso, mas acho que o juiz levou em consideração o fato de o cara estar jogando mais forte e meu deu o cartão amarelo.
Assisti ao jogo na boca do túnel, no meio dos guardas, e foi uma sensação horrorosa
Eu não joguei. Eu me machuquei 15 dias antes da Copa do Mundo, um problema na coxa, fiquei fazendo tratamento e fiz o primeiro jogo. Se nós ganhássemos, o Zagallo me liberava do segundo jogo, tá certo?
E, se nós ganhássemos o segundo jogo, ele me liberaria também do terceiro jogo, para que nós entrássemos [com força total] na outra fase. E foi o que aconteceu.
Agora, esse jogo com a Inglaterra, não teve problema nenhum. A minha falta pode até ter sido sentida, [pela falta] de lançamento, embora o Rivellino soubesse fazer.
Mas o Rivellino já tava fazendo uma outra função, e ele era um jogador diferenciado porque tinha um chute forte, e eu não tinha um chute forte, meu chute era colocado. Ele tinha um chute forte, então ele poderia tranquilamente, como fez, entrar um pouquinho mais pra bater de fora da área e tal, tá certo?
E o posicionamento do Paulo Cézar... O Paulo Cézar era um superjogador, tanto na ponta esquerda como no meio. Ele sabia jogar no meio, também como armador, tá certo? Porque ele era um armador também, ele vinha atuando como um terceiro homem.
Então, essa situação foi perfeitamente acertada ali, não teve nada de alteração. Foi perfeito, o time continuou o mesmo, jogando a mesma coisa, tanto é que ganhamos de uma seleção que era temida durante todo o campeonato.
O Félix fez uma grande defesa num chute do Lee. E o Carlos Alberto deu uma trombada nele porque ele deu uma pancada no Félix depois da defesa. Ele veio e chutou o Félix, depois o Carlos Alberto veio e deu nele. E deu no Bobby Charlton também.
A defesa do Banks... O Pelé cabeceou a bola como manda o figurino: pra baixo. A bola bateu e subiu. Normalmente, se o goleiro vier pra baixo, ela entra, tá certo? E ele subiu acompanhando a bola. Quer dizer, é um negócio que ninguém esperava.
Eu não sei como é que ele fez aquela defesa. Ele pulou de uma maneira lá que ele deu um tapa na bola, e a bola passou por cima. Isso ficou marcado como uma das principais jogadas da Copa do Mundo.
Lembro da jogada do gol. O Pelé... Foi no meio do campo, o Jair veio do meio do campo, driblou um pra esquerda, driblou outro pra direita e bateu cruzado, foi mais ou menos assim... Deixa eu me lembrar um pouco... Perdão, eu tô confundindo com outro gol... Foi o Tostão pro Pelé, o Pelé pro Jair. O Jair ajeitou e meteu um chutão, é isso aí mesmo.
Teve pressão porque o time inglês era muito bom. Mas nós resistimos a essa pressão e poderíamos ter feito até mais pelo menos um gol, porque nós tínhamos seleção pra isso.
O problema é esse, é que era um jogo muito tenso, muito nervoso, teve pancadaria com o Carlos Alberto, o pontapé que levou o Pelé. Houve lá uns desacordos, mas eu acho que passamos bem.
Assisti ao jogo do banco, e foi uma sensação horrorosa. Eu tava do lado de cá, a comissão técnica tava do lado de lá. Eu tava no meio dos guardas, na boca do túnel.
E eu gritava pra caramba, tentando, né, orientar também do lado de cá da melhor maneira. Mas todo mundo tava muito bem orientado pelo Zagallo. A comissão técnica era excepcional, todos eles.
Bom... Mas a gente gritava: "Fecha aí, olha aqui". E ia orientando da melhor maneira. E o Paulo Cézar ora fechando, ora entrando pelo lado esquerdo quando ele vinha pela ponta esquerda... Porque ele se virava muito bem tanto com a perna direita quanto com a perna esquerda.
Então, quando ele ia pra dentro, ele passava perto de mim [e ouvia]: "Vai pra dentro! Vai pra dentro que esse cara não joga nada!". Incentivando. E o outro lado dizendo as coisas que o Zagallo tava vendo.
Então era um ajudando o outro, ali era uma coisa só, todo mundo remando pra um lado só.
Pra bater esse time tinha que ocorrer algo extraordinário; perdi quase 5 kg no jogo
Eu, quando entrei em campo e olhei aqueles monstros sagrados, jogadores de uma composição física invejável, falei: "Como é que eu vou bater esses caras aí?".
Talvez seja por isso que eu tenha perdido quase cinco quilos no jogo, por entender que esse time, pra ser batido, tinha que acontecer algo, sabe, de extraordinário.
Talvez o meu empenho... Eu lembro que depois no jogo, no vestiário, o pessoal da comissão técnica dizia: "Onde você foi buscar força?". Eu dei um pique, né, de uns 40, 50 metros lá pelo lado esquerdo, até saindo do meu posicionamento. Eu saí porque estava no final do jogo e eu achei que no final eu poderia segurar um pouco mais a bola.
E saí, disparei, foram uns 40, 50 metros com a bola. E o pessoal da comissão técnica depois falou: "Clodoaldo, como é que aos 43 minutos você foi buscar força?".
Teve a mudança do Gerson. Ele teve uma lesão muscular e a comissão entendeu que ele deveria ser poupado. Aí, o meio-campo teve eu como médio-volante, Rivellino e Paulo Cézar, um jogador fantástico o Paulo Cézar.
Foi 1 a 0 o jogo, uma jogada linda do Tostão, depois a preparada [do Pelé] pro Jairzinho, só que num espaço mais curto... O passe do Pelé pro Carlos Alberto no quarto gol [contra a Itália] foi muito parecido com esse pro gol do Jairzinho. O Jairzinho estava mais próximo e o Carlos Alberto, mais distante do gol. O Pelé ajeitou pro Jairzinho, e o Jairzinho chutou e fez o gol.
O Pelé foi muito bem marcado e foi um jogo igual, a Inglaterra teve chance de empatar o jogo. O Félix fez uma grande partida. Gostaria de parabenizar o Félix porque ele era criticado, mas foi fundamental, teve uma importância muito grande na conquista e principalmente nesse jogo contra a Inglaterra.
Foi o nosso jogo mais difícil. Porque foi 1 a 0, e a Inglaterra teve oportunidade de empatar. Também teve aquela defesa do Banks, fantástica, o Brasil poderia ter feito ali outro gol na cabeçada do Pelé. Mas foi um jogo igual, 1 a 1 seria normal, 2 a 1 pro Brasil, 2 a 1 pra Inglaterra... Nós seguramos o resultado, levamos em alguns momentos do jogo alguma sorte pra conseguir esse resultado.
Não foi fácil. E o resultado, no futebol, é construído às vezes com o fator sorte. Não pense que é só jogar e ganhar, não. Tem momentos em que você tem que contar com a sorte, o adversário errar um chute, perder um gol, o seu goleiro fazer uma grande defesa, enfim, faz parte do jogo e do resultado essa relação de sorte dentro da partida.
Foi um jogo tenso. Como eles eram muito fortes, os jogadores da Inglaterra, era difícil você até mesmo ter uma jogada mais dura, porque existia o perigo de uma lesão, de você não conseguir levar vantagem numa disputa de bola. Então a gente evitava até [o choque]...
Mas o Carlos Alberto, ele deu uma chegada no Lee, falou: "Opa, aqui nós também sabemos fazer isso". E foi ali que o Brasil ficou em condições de igualdade, eles sentiram realmente que o Brasil não tava ali pra brincadeira.
Foi um grande jogo, um jogo fantástico. Eu acho que a Inglaterra poderia ser uma das seleções finalistas da Copa do Mundo e, com certeza, seria um adversário que... Nós iríamos encontrar mais dificuldade do que encontramos contra a Itália.
O Zagallo deve ter pensado: 'Mesmo se ele não estiver bem, é melhor deixá-lo'
Havia um conhecimento razoável do time inglês. Razoável. Na preleção foi falado que a Inglaterra joga no esquema 4-4-2, a gente sabia que a Inglaterra jogava nesse esquema.
Começou com a Inglaterra, em 1966, o esquema que até hoje é o mais prevalente no mundo: a linha de quatro defensores, depois uma linha de quatro no meio-campo, dois pelo meio e um de cada lado, e dois atacantes, o 4-4-2 tradicional.
A gente sabia que os caras entravam pelos lados do campo e cruzavam muito. Tinha dois atacantes geralmente sempre próximos da área. Muito cruzamento. Os dois volantes mais plantados, uma linha de quatro defensores, os dois laterais avançavam pouco.
Muita marcação, poucas opções ofensivas, que eram mais de jogadas pelos lados e cruzar. O principal a gente sabia.
O jogo foi parelho, com poucas chances de gols dos dois times. Havia uma dificuldade de o Brasil jogar muito grande. Esse sistema dos ingleses, um esquema muito rígido de posicionamento, e o time inglês tinha muitos jogadores bons.
Foi um jogo muito difícil, e nessas bolas cruzadas eles tiveram umas duas chances boas de gol. Foi um jogo muito equilibrado.
Eu não vi o Pelé [na jogada do gol]. Eu fui cercado e fui pro lado, driblando pro lado, e fiquei sem jogada. Naquele momento, eu joguei a bola pro outro lado porque certamente tinha alguém mais livre. Caiu no pé do Pelé. Que dominou e, quando o cara foi em cima, ele já tocou pro Jairzinho, livre, fazer o gol.
O Brasil foi crescendo, e esse jogo com a Inglaterra foi um divisor. Porque o Brasil jogou bem contra a Tchecoslováquia, mas nada espetacular.
Contra a Inglaterra, a Inglaterra era favorita. Foi um jogo igual. A Inglaterra podia até ter vencido. Aí o Brasil ganhou da Inglaterra e ali se classificou praticamente. O jogo da Romênia era mais pra decidir primeiro e segundo [lugares na chave].
Então, ali, o time disparou.
Até a estreia na Copa, o Zagallo não tava com certeza de que eu daria conta do recado jogando nessa posição [atacante fixo]. E ele gostava muito do Roberto e confiava muito no Roberto porque o Roberto fazia muito gol no Botafogo.
No primeiro jogo foi tudo bem, eu joguei o jogo todo. No segundo jogo, com a Inglaterra, a Inglaterra numa marcação espetacular, a gente não tinha chance nenhuma, o jogo 0 a 0, nem o Pelé conseguia jogar, muito marcado. Eu também pegava pouco na bola porque eu tava ali na frente e o time não conseguia chegar trocando passes. E o jogo indo.
Quando chegou no meio do segundo tempo, eu olho pra lateral e vejo o Roberto se aquecendo. Então eu falei: "Claro que vai entrar no meu lugar. Não vai entrar no lugar do Pelé, né?". E, na primeira bola que eu recebo, sai aquela jogada em que eu driblei vários jogadores, dei [a bola] ao Pelé e saiu o gol [do Jairzinho].
Eu, sinceramente, na hora eu não pensei assim, eu não lembro de ter pensado "agora eu vou tentar uma jogada individual porque eu vou sair". Mas eu não tenho dúvida nenhuma de que uma coisa na minha inconsciência percebeu.
Depois daquilo, eu lembro que nós assistimos ao filme do jogo e àquela jogada. O Zagallo deve ter pensado: "Mesmo se ele não estiver bem, é melhor deixá-lo". Eu acho que ali eu conquistei definitivamente o meu lugar.
Fiquei bobo e não consigo entender o Banks defendendo a cabeçada do Pelé
A gente sabia que a Inglaterra tinha uma excelente seleção, tinha sido a última campeã mundial, só que agora jogava em território diferente.
Nós temos que nos preocupar com o adversário, claro. Vamos jogar com a Inglaterra de Bobby Charlton, de Bobby Moore, com esse e aquele jogador? Vamos. Mas peraí. Não vamos só ficar preocupados com o adversário, não. Sem nenhum tipo de máscara, o adversário tem que se preocupar com a gente também. Nós temos que tirar proveito disso na parte psicológica.
Senão nós vamos ficar tão impregnados de pensar só no adversário, no que nós temos que marcar, naquele que é bom, e a gente se esquece dos nossos valores, se esquece das nossas potencialidades. E acaba chegando no campo e você mesmo se anula, diminui perante o adversário.
É aquele negócio. Tem que marcar o Bobby Charlton? Tem. Tem que marcar o jogador que é considerado o grande jogador, mais um ou dois? Sim. Mas, em compensação, vamos parar e pensar: "E eles, lá? Se a gente tá pensando assim, e eles, do lado de lá? O que estão pensando a respeito?".
Bom, se te tem o Pelé, se tem o Jairzinho, se tem o Tostão, se tem o Gerson, se tem o Edu, se tem o Rivellino... Pô! Vamos passar a preocupação maior pra lá.
Teve aquela cabeçada do Pelé que o Banks... A defesa dele foi espetacular. Agora, o que me impressionou naquela defesa, porque a cabeçada foi mortal, foi certeira, foi da forma como tem que ser feita, pra baixo, no canto, com força... Eu fiquei bobo, pela beleza plástica da jogada, de o Banks ter conseguido fazer a defesa.
Eu não consigo entender hoje, eu fico parado, pensando, lembrando... Como é que ele conseguiu jogar aquela bola por cima da trave, do travessão? O normal era jogar ela pra escanteio pelo lado do gol, mas por cima? Eu não consigo entender até hoje aquele lance do Banks defendendo a cabeçada do Pelé.
Foi um jogo complicado, foi um jogo em que eles tiveram chances de fazer o gol até antes do Brasil. Foi um jogo que mexeu o tempo todo com os nervos de todo o mundo.
É aquilo que a gente fala: "Essa é uma final antecipada". Ou: "Quem passa aqui ganha uma força muito grande pra chegar lá". Tem jogos que são assim.
Nas competições, você passa por um adversário, principalmente quando você não tá bem e consegue ganhar, e cresce. Quando você tá bem, arruma mais força pra ir pra frente, pra melhorar mais ainda.
Então a gente passou pela Inglaterra, o que deu o primeiro lugar no grupo e a condição de a gente permanecer em Guadalajara.
Vou confessar uma coisa da qual até hoje eu me arrependo. Eu tenho todas as camisas dos times que eu enfrentei. Só não tenho a da Inglaterra.
Eu não quis trocar a minha camisa. Não por falta de esportividade. Eu não quis trocar porque eu achei que os ingleses estavam muito pedantes. Acho que eles estavam muito confiantes de que seriam os campeões.
Tanto que, quando ganhamos da Inglaterra nesse jogo, 1 a 0 num jogo que podia ter dado Inglaterra, foi lá e cá, não tenha dúvida de que mexeu o tempo todo com os nervos, não só os nossos como os dos ingleses, eu achei que eles estavam um pouco esnobes, muito convictos de que seriam novamente campeões.
E por isso, depois do jogo, eu falei: "Não vou trocar a minha camisa". E, de repente, eu queria ter a da Inglaterra com todas as outras que eu tenho, de lembrança. E não tenho.