Capítulo 2
Introdução

Campeões recontam a Copa de 70

Especial reúne depoimentos a partir de entrevistas feitas há dez anos (e nunca antes publicadas) com cinco titulares daquela seleção

Luís Curro
São Paulo

México-70. Brasil tricampeão mundial de futebol. Incontestável. Irrepreensível. Inesquecível.

Em 1970 eu não era ainda nascido, mas essa é uma das duas únicas Copas que despertam em mim um sentimento intenso, aquele algo que vem de dentro e emociona intensamente.

A outra é a de 1982, na Espanha, quando o Brasil vivenciou a maior tristeza desde a derrota para o Uruguai, 2 a 1, de virada, na decisão da Copa de 1950, no Maracanã —o Maracanazo.

Hão de se lembrar do 7 a 1, em 2014. Mas a derrota acachapante para a Alemanha, na semifinal no Mineirão, desvia-se do rol das tristezas. Encaixa-se no das vergonhas.

No início da década de 1980, quando comecei a acompanhar futebol com mais atenção, e no decorrer dela, eu li, e vi programas, sobre a Copa de 1970.

E passei a conhecer e admirar o futebol de Pelé (o Rei do Futebol), Gerson (o Canhotinha de Ouro), Tostão, Rivellino (a Patada Atômica), Jairzinho (o Furacão da Copa) e companhia.

Pelé é carregado nos braços após o Brasil golear a Itália por 4 a 1 e conquistar título da Copa do Mundo de 1970, no estádio Azteca, no México
Pelé é carregado nos braços após o Brasil golear a Itália por 4 a 1 e conquistar título da Copa do Mundo de 1970, no estádio Azteca, no México - Xinhua - 21.jun.1970/Imago/ZUMAPRESS

A campanha em 1970 foi incontestável, diferentemente da do penta, em 2002, quando o Brasil foi ajudado pela arbitragem em duas situações-chave.

Na estreia, venceu a Turquia com um gol de pênalti "inventado", pois a falta foi fora da área; nas oitavas de final, eliminou a Bélgica, que endurecia e teve, quando o jogo estava 0 a 0, um gol legítimo anulado.

A campanha em 1970 foi irrepreensível, 100% de aproveitamento: seis vitórias em seis partidas. Ah! Mas a do Brasil-2002 também, e com sete vitórias em sete partidas.

Só que e o sofrimento nas eliminatórias? A seleção, derrotada seis vezes, viu-se ameaçada de não se classificar para jogar na Coreia do Sul e no Japão.

A equipe de 1970 registrou 100% também na etapa de classificação para o Mundial. "Foi o único time que ganhou todos os jogos nas eliminatórias e na Copa", lembrou Carlos Alberto Torres, o capitão do tri, ao citar a performance perfeita.

Em 1994, na caminhada para o tetra, o Brasil ganhou a Copa dos EUA com cinco vitórias e dois empates, incluindo o 0 a 0 na final contra os italianos, vencida na disputa de pênaltis.

A campanha em 1970 foi inesquecível. Cada lance! Cada momento!

Foto oficial da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1970, no México
Foto oficial da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1970, no México - Reprodução

Marcaram-me especialmente a comemoração de Jairzinho, fazendo o sinal da cruz a cada gol, os "não gols" de Pelé (chute do meio de campo contra a Tchecoslováquia, cabeçada para defesa "impossível" contra a Inglaterra, "drible da vaca" no goleiro sem tocar na bola contra o Uruguai) e a invasão de campo ao encerramento da final, um mar de gente no gramado do estádio Azteca, com o empolgado povo mexicano deixando Pelé e Tostão quase nus.

O futebol apresentado foi mágico, foi maravilhoso, foi monumental. E houve amplificação disso pela tecnologia: a primeira Copa que vi na TV com imagens coloridas. Que me perdoem os amantes do "preto e branco", mas a vida em cores é muito mais bonita.

Que seja mantido, entretanto, em P&B o conteúdo das Copas de 1958 e 1962, as primeiras que o Brasil faturou: é justamente aí que reside o fascínio. Nesses casos, abaixo a colorização por computador.

A seleção de 1970 possuía talento à flor da pele de sobra do meio para a frente, algo em falta hoje —Neymar é exceção.

Tanto que o técnico Zagallo assim me disse, no início da década: "Olha o material humano que eu tinha em mãos. Eram cinco "camisas 10": Jairzinho, Pelé, Tostão, Rivellino e Gerson. Fizemos uma Copa sensacional, ganhamos uma Copa belíssima e o mundo inteiro gostou daquilo que o Brasil realizou lá no México".

Diferentemente de 1994 e de 2002.

Nos EUA, Romário era o único fora de série em um time de bons jogadores que prezava o pragmatismo.

Na Coreia e no Japão, Ronaldo Fenômeno (principalmente), Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho (em dose menor) fizeram a diferença, mas não houve encanto.

São seleções cujo maior mérito foi a objetividade.

O Brasil de 1970, não. Era, sim, objetivo, mas tinha arte, tinha fantasia. O Brasil de 1970 foi o Brasil de 1982 que triunfou.

Publicado em capítulos, este conteúdo —quase todo inédito, reunido a partir de entrevistas feitas pessoalmente no final de 2010, no Rio de Janeiro, em Niterói, em Santos e em Belo Horizonte, com titulares daquela seleção, todos grandes ídolos do futebol nacional— apresenta cinco versões da mesma história, visões individualizadas do antes, do durante (jogo a jogo) e do depois do México-70.

A quem já conhece os acontecimentos fica o convite para relembrá-los e para percorrer fatos e histórias com riqueza de detalhes. A quem pouco ou nada sabe dos mesmos, que saiba agora, faça suas avaliações e tire suas conclusões.

Vale para os mais velhos, vale para os mais jovens. É como colírio em tempos de futebol de qualidade bastante discutível e com altíssimas doses de rispidez.

Os entrevistados

Carlos Alberto Torres
Nascimento: 17 de julho de 1944, no Rio de Janeiro
Morte: 25 de outubro de 2016, no Rio de Janeiro
Clubes: Fluminense (1962-1964 e 1975-1976), Santos (1965-1974), Botafogo (1971), Flamengo (1977), New York Cosmos (1977-1980 e 1982) e California Surf (1981)
Copa do Mundo: México-1970 (campeão)

Gerson de Oliveira Nunes
Nascimento: 11 de janeiro de 1941, em Niterói (RJ)
Clubes: Flamengo (1959 a 1963), Botafogo (1963 a 1969), São Paulo (1969-1972) e Fluminense (1972 a 1974)
Copas do Mundo: Inglaterra-1966 (eliminado na 1ª fase) e México-1970 (campeão)

Clodoaldo Tavares de Santana
Nascimento: 25 de setembro de 1949, em Itabaiana (SE)
Clubes: Santos (1965-1980) e Nacional-AM (1981)
Copa do Mundo: México-1970 (campeão)

Eduardo Gonçalves Andrade (Tostão)
Nascimento: 25 de janeiro de 1947, em Belo Horizonte
Clubes: Cruzeiro (1963 a 1972) e Vasco (1972 a 1973)
Copas do Mundo: Inglaterra-1966 (eliminado na 1ª fase) e México-1970 (campeão)

Wilson da Silva Piazza
Nascimento: 25 de fevereiro de 1943, em Ribeirão das Neves (MG)
Clubes: Renascença (1962 a 1963) e Cruzeiro (1964 a 1977)
Copas do Mundo: México-1970 (campeão) e Alemanha-1974 (4° lugar)

A delegação brasileira


  • 1

    Goleiro

    Félix (1937 - 2012)

    FÉLIX Miéli Venerando

    Fluminense

  • 2

    Zagueiro

    Brito (1939 - )

    Hércules BRITO Ruas

    Flamengo

  • 3

    Zagueiro/Volante

    Piazza (1943 - )

    Wilson da Silva PIAZZA

    Cruzeiro

  • 4

    Lateral-direito

    Carlos Alberto (1944 - 2016)

    CARLOS ALBERTO Torres

    Santos

  • 5

    Volante

    Clodoaldo (1949 - )

    CLODOALDO Tavares de Santana

    Santos

  • 6

    Lateral-esquerdo

    Marco Antônio (1951 - )

    MARCO ANTÔNIO Feliciano

    Fluminense

  • 7

    Atacante

    Jairzinho (1944 - )

    Jair Ventura Filho

    Botafogo

  • 8

    Meia

    Gerson (1941 - )

    GERSON de Oliveira Nunes

    São Paulo

  • 9

    Atacante

    Tostão (1947 - )

    Eduardo Gonçalves Andrade

    Cruzeiro

  • 10

    Atacante

    Pelé (1940 - )

    Edson Arantes do Nascimento

    Santos

  • 11

    Meia-atacante

    Rivellino (1946 - )

    Roberto RIVELLINO

    Corinthians

  • 12

    Goleiro

    Ado (1946 - )

    Eduardo Roberto Stinghen

    Corinthians

  • 13

    Atacante

    Roberto (1943 - )

    ROBERTO Lopes de Miranda

    Botafogo

  • 14

    Zagueiro

    Baldocchi (1946 - )

    José Guilherme BALDOCCHI

    Palmeiras

  • 15

    Zagueiro

    Fontana (1940 - 1980)

    José de Anchieta FONTANA

    Cruzeiro

  • 16

    Lateral-esquerdo

    Everaldo (1944 - 1974)

    EVERALDO Marques da Silva

    Grêmio

  • 17

    Zagueiro

    Joel Camargo (1946 - 2014)

    JOEL CAMARGO

    Santos

  • 18

    Meia-atacante

    Caju (1949 - )

    PAULO CÉZAR Lima

    Botafogo

  • 19

    Atacante

    Edu (1949 - )

    Jonas Eduardo Américo

    Santos

  • 20

    Atacante

    Dario (1946 - )

    DARIO José dos Santos

    Atlético-MG

  • 21

    Lateral-direito

    Zé Maria (1949 - )

    José Maria Rodrigues Alves

    Portuguesa

  • 22

    Goleiro

    Leão (1949 - )

    Emerson LEÃO

    Palmeiras


Comissões técnica e médica

Mario Jorge Lobo ZagalloTécnico
Admildo de Abreu ChirolPreparador físico
Carlos Alberto Gomes ParreiraPreparador físico
Rogério HetmanekOlheiro
Lídio ToledoMédico
Mauro PompeuMédico
Mário AméricoMassagista

Equipe administrativa
Jerônimo Bastos Chefe da delegação
Roberto Câmara dos Guaranys Secretário
Antônio do Passo Presidente da comissão técnica
Tarso Herédia de Sá Assessor da presidência da comissão técnica
Cláudio Pecego de Moraes Coutinho Supervisor
José de Almeida Filho Administrador
Walter José dos Santos Assistente administrativo
Abilio de Almeida Delegado
Sylvio Corrêa Pacheco Delegado
José Ermirio de Moraes Filho Delegado
Sebastião Martinez Alonso Tesoureiro
Achilles Chirol Jornalista
Mário Vieira da Rocha Cozinheiro
Edgar Barbosa Cozinheiro
Abílio José da Silva Roupeiro