GPS Ideológico

Análise do debate político no Twitter

Os influenciadores
Reta ideológica

Perguntas e respostas sobre o GPS Ideológico

A Folha lançou uma ferramenta chamada GPS Ideológico, que monitora o debate político no Twitter. A seguir, perguntas e respostas sobre a ferramenta.

O que faz o GPS Ideológico? O que é um influenciador na ferramenta?

Por meio de um modelo estatístico, a ferramenta analisa os usuários do Twitter, considerando quem eles seguem e por quem são seguidos. O modelo identifica as afinidades entre os usuários e aponta, por exemplo, que há uma parcela importante de pessoas que segue tanto os perfis dos integrantes da família Bolsonaro quanto do escritor Olavo de Carvalho. Bolsonaros e Olavo, então, ficam próximos numa reta. E ficam muito distantes de perfis como dos petistas Lula e Fernando Haddad, pois seus seguidores não tendem a seguir Bolsonaros e Olavo.

O modelo tem duas camadas de leitura, interligadas. Em uma delas, são analisados perfis considerados influenciadores, ou seja, que podem representar bem ideologicamente o padrão de seus seguidores. Esses influenciadores são posicionados nessa reta de acordo com a afinidade de seus seguidores, em comparação com os seguidores dos outros influenciadores.

Com a formação dessa reta de influenciadores, fica possível então classificar todos os seguidores desses influenciadores.

Como são escolhidos os influenciadores?

A reportagem escolheu inicialmente todos os deputados federais, senadores, ministros, veículos de imprensa e outros perfis que falavam de política na rede social (e que possuíam ao menos dois mil seguidores). O modelo estatístico, então, analisa a afinidade dos seguidores desses perfis-influenciadores iniciais, para sugerir outros perfis que também podem ser bons marcadores de posicionamento político e que tenham sido esquecidos. Ao grupo inicial, foram acrescentados 256 perfis, chegando a um grupo de mil influenciadores.

A posição na reta é definida pelo que o influenciador fala?

A posição dos influenciadores na reta depende do perfil dos seus seguidores, não necessariamente do que o influenciador posta. Um influenciador vai ficar à direita, por exemplo, porque seus seguidores tendem a também seguir aliados do presidente Bolsonaro.

Visto de outro modo, o influenciador é percebido por seu público.

Como o modelo aloca os influenciadores na direita, no centro e na esquerda?

O modelo não diz necessariamente que uma pessoa é de direita ou de esquerda. Ele mostra que perfis de Lula e Haddad estão muito distantes de Bolsonaro e Olavo de Carvalho. E que há centenas de influenciadores entre esses grupos.

A classificação esquerda (para perfis como de Lula e Haddad) e direita (Bolsonaro e Olavo) foi adotada pela reportagem.

Como se estabelece a distância entre cada influenciador?

Novamente, depende do perfil dos seguidores dos influenciadores. Um exemplo hipotético. O influenciador A é muito seguido por pessoas que seguem Lula e Haddad. O B também tem muito desses mesmos seguidores, mas também é seguido por alguns que também seguem Olavo de Carvalho. O influenciador B ficará levemente à direita do influenciador A. O modelo calcula essa distância para os mil influenciadores considerados.

Como contas institucionais (como as de Ministério Público Federal, Polícia Federal, veículos da imprensa etc.) surgem no mapa?

Tanto contas de pessoas física quanto jurídica podem ser boas marcadoras da posição ideológica (os influenciadores) de seus seguidores nessa reta.

Por que o número de seguidores apresentado no GPS Ideológico é diferente do número de seguidores que aparecem nos perfis das contas?

A ferramenta não utiliza a totalidade de pessoas no Twitter. Como a intenção é acompanhar contas que estejam envolvidas de alguma forma no debate político, foram excluídas as que seguiam menos de três influenciadores; que tuitaram menos de cem vezes; e que tuitaram mais de 25% vezes em língua que não fosse o português. Feitos os filtros, restaram 1,7 milhão de contas a serem analisadas.

Contas bloqueadas são consideradas na análise?
Não. O Twitter não fornece dados suficientes para essa análise. E a exclusão dessas contas bloqueadas não parece ter efeito muito grande na análise. Para ser considerado um influenciador, a pessoa precisa ter ao menos 5 mil seguidores. Não parece plausível que a pessoa consiga bloquear contas num volume suficiente para ter efeito.

Na minha avaliação, há pessoas que não estão no local correto da reta. Por quê?

Há um fator que pode deslocar ligeiramente o influenciador de uma eventual "posição correta": o número de seguidores, especialmente se o influenciador ocupa (ou ocupou) cargo de muito destaque, como a Presidência. Nesse caso, o influenciador tende a ser deslocado levemente em direção ao centro. São os casos, por exemplo, de Lula e Bolsonaro.

Por que a análise foi feita em cima do Twitter e não outras plataformas como Facebook ou WhatsApp?

Porque o Twitter é a plataforma que mais fornece dados para essas análises. Além disso, foi a escolhida por líderes políticos como Donald Trump e Jair Bolsonaro para interagir com o público.

Por que as análises usam o termo "bolha" para alguns grupos?

Foi identificado que, especialmente nos usuários que foram classificados como mais à direita ou mais à esquerda, eles seguem poucas pessoas fora de seus grupos. Também pouco retuitam (compartilham) de usuários distante de seus grupos. Ou seja, essas pessoas parecem estar fechadas dentro de seus grupos. Usuários que foram classificados mais ao centro tendem a seguir mais gente que esteja fora de seu grupo.

A equipe do Twitter diz que os dados analisados são insuficientes para falar em bolhas, pois desconsidera que os usuários, mesmo os mais radicais, podem estar acompanhando conteúdo de outras pessoas sem segui-las.

A reportagem, porém, decidiu manter o uso do termo (largamente usado por pesquisadores de redes sociais) por entender que os grupos mais radicais de direita e de esquerda têm comportamento muito diferente dos demais.

A Folha foi quem criou o modelo estatístico?

Não. O GPS Ideológico foi inspirado em modelo estatístico do cientista político Pablo Barberá, atualmente na London School of Economics. Ele analisou os usuários nos EUA. Os achados foram semelhantes: identificou "câmeras de eco" entre os mais conservadores e mais liberais.

​Antes do GPS Ideológico, o cientista político Luís Felipe da Graça, da Universidade Federal de Santa Catarina, também havia rodado o mesmo modelo.