Um dos principais pesquisadores brasileiros que analisam a influência das redes sociais no debate político, Fábio Malini afirma que bolhas surgem na rede social por ação de grupos organizados.
"Quer ter popularidade? Pegue de cinco a dez influenciadores para publicar conteúdo original, uns mil perfis [que retuitarão o conteúdo] e forme uma bolha. A partir daí, será visto, ouvido e até analisado", disse o pesquisador, que é do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura, da Universidade Federal do Espírito Santo.
Como é um grupo coeso, rapidamente uma mensagem padronizada pode ganhar força dentro da bolha e, então, passa a ser notada por outros grupos. Ele cita como exemplo o uso da imagem da mão imitando uma arminha, popularizada pelos seguidores do então candidato Jair Bolsonaro (que também usava a imagem).
O pesquisador afirma que a formação dessas bolhas "pode ser acelerado pelo uso computacional [robôs] por políticos e agências digitais".
A equipe do Twitter afirma que a rede oferece meios que permitem o usuário ter acesso a conteúdo de diferentes perfis, mesmo que a pessoa não os siga.
O usuário pode apenas consultar um perfil, sem necessariamente tê-lo em sua lista. Pode também clicar em hashtags, levando ao que todos os usuários estão falando sobre aquele tema.
O Twitter diz ainda que os dados públicos são insuficientes para se determinar a existência de bolhas ideológicas. Só seria possível fazer essa caracterização se analisado todo o hábito de navegação de todos os usuários – o que não é fornecido devido à privacidade e segurança, afirma a empresa.
Já o cientista político do Cepesp-FGV (Centro de Política e Economia do Setor Público) Jairo Pimentel afirma que "faz todo sentido falar em bolhas na internet. A psicologia cognitiva mostra há muito que as pessoas tendem a adotar ponto de vistas de referência e utilizar essas referências como balizadores da percepção política e de ação".
A novidade que o modelo usado pelo GPS Ideológico traz, segundo Pimentel, é indicar que a bolha dos mais à direita é mais fechada do que a da esquerda – quem está nos 5% mais à direita segue menos pessoas de fora de seu grupo (veja aqui a metodologia completa).
Essa observação sobre os conservadores também foi feita nos EUA, pelo autor do modelo matemático usado pela Folha, o cientista político Pablo Barberá (London School of Economics).
Em um artigo de 2015, Barberá cita autores que defendem que conservadores tendem a evitar incerteza e ameaças, por isso se expõem menos a opiniões divergentes.
O pesquisador da FGV ressalta que há poucos estudos sobre o tema no Brasil.
Para Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo, uma possível explicação para esse fenômeno é que grupos de direita no país estejam mais organizados para construir essas bolhas – que acabarão disseminando depois o conteúdo.
"Havia também no campo da esquerda Lulo-dilmista esse comportamento de coesão robótico, mas agora a esquerda não tem mais um governo a defender", afirmou.
O colunista da Folha Pablo Ortellado, que analisa o debate político nas redes sociais, afirma que o resultado mais relevante para ele é como os mais radicais, de direita e esquerda, têm comportamento diferente de quem está no centro (mais aberto a opiniões de segmentos diferentes).