Abaixada a poeira da censura de um livro com beijo gay na Bienal do Rio, no início de setembro, o youtuber Felipe Neto consolidou-se como uma das principais vozes do antibolsonarismo e anticonservadorismo.
O jovem de 31 anos comprou e distribuiu gratuitamente 14 mil livros com temática LGBT no evento, ganhando pontos com o público progressista.
O DeltaFolha revisitou o GPS Ideológico, ferramenta que indica a posição ideológica de influenciadores no Twitter, de acordo com sua base de seguidores, para mostrar, em números, o deslocamento de Felipe Neto à esquerda.
Para isso, comparamos a flutuação com outros 19 perfis que orbitavam o mesmo espectro de centro-esquerda de Felipe Neto.
Vale lembrar que o posicionamento nessa reta ideológica leva em conta a afinidade entre os seguidores que o perfil-influenciador tem. Ou seja, mostra para qual público o perfil mais fala ou representa na rede, mesmo que o influenciador não tenha intenção de ter esse público.
Felipe Neto atinge -2.7, em uma escala de 0 a 100, o que significa que ele foi o que mais caminhou à esquerda dentre os 20 pesquisados.
Na outra ponta, o jornalista Pedro Doria rumou à direita –ele fez recentemente posts críticos ao jornalista Glenn Greenwald.
O índice de Felipe Neto é ainda mais impressionante se levarmos em conta sua enorme base de seguidores na plataforma, atualmente em 9,6 milhões de pessoas. Quanto mais gorda essa quantia, mais difícil é de ocorrer essa variação.
Nas últimas semanas, o influenciador ainda declarou que parou de comer carne, o que provavelmente colaborou com esses números.
Essa "esquerdização" do youtuber não começou agora. Durante a campanha das eleições de 2018, ele começou a se mostrar uma voz antibolsonarista. Um tuíte logo após a vitória de Jair Bolsonaro foi um dos mais compartilhados daquela noite.
Na mensagem, o influenciador lamentava o resultado. "O dia 28/10/2018 entra para a história como um dos mais tristes da história do Brasil. O dia em que a extrema direita voltou ao poder. Esse dia será estudado por décadas e crianças perguntarão: 'pq eles fizeram isso?'. Boa sorte a todos nós. A intolerância e o radicalismo venceram."
Esse intenso mês de setembro significou para Felipe Neto não só a caminhada à esquerda, mas números recordes de interação e crescimento nas redes sociais, segundo dados tabulados do Crowdtangle.
Até agora ele ganhou no Twitter mais de 150 mil seguidores em 23 dias, e pode superar os 180 mil de janeiro, a maior taxa do ano.
Em interações (soma de curtidas, compartilhamentos e comentários), Felipe Neto registra seu recorde histórico.
Na semana da Bienal, ele acumulou três milhões de interações.
É preciso somar as duas semanas de protestos pela educação, em maio, para ultrapassar esse valor, totalizando 3,5 milhões.
Na semana da vitória de Bolsonaro, no final de outubro, foram "apenas" 1,1 milhão de interações.
Já a hashtag #PaisContraFelipeNeto, impulsionada pelo deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), teve mais de um milhão de menções até 17 de setembro, segundo monitoramento da Sprinklr.