GPS Ideológico

Análise do debate político no Twitter

Capítulo 1
Reta ideológica 2020

A posição ideológica de 1,8 mil influenciadores no Twitter em 2020

Folha atualiza a ferramenta GPS Ideológico, que analisa comportamento de 1,7 milhão de usuários e influenciadores políticos

Daniel Mariani Fábio Takahashi Thiago Almeida
São Paulo

Qual a posição ideológica dos atuais prefeitos no país? E dos principais candidatos na eleição municipal? E de outros políticos, jornalistas, artistas? Para responder perguntas como essas, a Folha atualizou o GPS Ideológico, ferramenta lançada em 2019, que monitora o debate político no Twitter.

No interativo abaixo, é possível ver a posição na reta ideológica de mais de 1,8 mil influenciadores na rede social. Eles são dispostos do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com o perfil dos seus seguidores.

Dentro desse universo de 1,8 mil contas, estão as 1 mil que já haviam sido analisadas ano passado, mas com suas posições atualizadas. E outras cerca de 800 novas contas que não estavam na versão de 2019, incluindo candidatos a prefeito nesta eleição, estatais e colunistas.

A posição dos influenciadores na reta é calculada a partir do perfil de 1,7 milhão de usuários do Twitter no Brasil, com interesse em política (foram excluídas contas que um modelo matemático classificou como possíveis robôs).

O algoritmo do GPS Ideológico busca encontrar padrões nos perfis de seguidores entre os influenciadores (veja aqui a metodologia completa, de 2019).

O modelo capta, por exemplo, que usuários que seguem o vereador Carlos Bolsonaro tendem a seguir também o deputado Flávio Bolsonaro e o jornalista Alexandre Garcia. Esses ficam próximos na reta.

Mas esses seguidores tendem a não seguir contas como do petista Fernando Haddad, da comentarista Gabriela Prioli e do cantor Emicida. Esses três ficam próximos na reta, mas distantes dos Bolsonaros e de Alexandre Garcia.

Ou seja, a posição na reta depende do perfil dos seguidores do influenciador, não necessariamente mostra a ideologia da conta (ainda que haja uma forte correlação entre o perfil de seguidores e o perfil do influenciador).

Autor do algoritmo que foi adaptado para o GPS Ideológico, o cientista político Pablo Barberá (Universidade do Sul da Califórnia e London School of Economics) afirma em seus trabalhos acadêmicos que, ao seguir uma pessoa, via de regra o usuário tem afinidade com esse perfil.

Isso porque a pessoa passará a visualizar mais tuítes desse usuário. E receber conteúdo de alguém sem afinidade é algo custoso, em termos de tempo e de atenção - por isso, tende a ser exceção.

Um fator que pode influenciar a posição da conta é o número de seguidores. Contas menores tendem a ser deslocadas para os extremos da reta, enquanto as maiores tendem a ficar mais centralizadas.

Essa tendência pode ser verificada, por exemplo, na comparação entre o petista Jilmar Tatto e o psolista Guilherme Boulos, ambos candidatos à prefeitura de São Paulo.

Classificações da ciência política colocam o Psol à esquerda do PT, mas, no GPS Ideológico, o petista Tatto está à esquerda de Boulos. Uma possível explicação é o tamanho das contas. Enquanto Tatto tem apenas 12 mil seguidores considerados, Boulos, que já foi candidato a presidente, tem mais de um milhão.

Assim, o perfil de Boulos tende a ser mais heterogêneo que o de Tatto. Comparações na ferramenta ficam mais precisas quando se comparam perfis de tamanhos semelhantes.

Para as mil contas que já estavam na ferramenta em 2019, foram recalculadas suas posições para o momento atual. Em reportagem publicada em setembro, com uma primeira análise desse reposicionamento, a Folha mostrou que boa parte desses influenciadores andaram em direção ao centro e à esquerda.

Entre os que tiveram as maiores variações no período, estão as contas que possuíam perfil de seguidores posicionados nos pontos mais extremos da direita em 2019. E, após passarem a criticar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ganharam seguidores mais ao centro.

Foi o caso, por exemplo, do ex-ministro Sergio Moro e do governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).

Existem diferentes explicações do porquê uma conta pode ter se deslocado:

- Se tinha poucos seguidores (em geral de um nicho específico) e agora ganhou relevância (atraindo "curiosos" de diferentes perfis);
- Perdeu seguidores de um lado;
- Ganhou seguidores de outro lado;
- Na ultra direita, muitos seguidores foram removidos (em geral, pelo próprio Twitter).