Tanto usuários radicais de esquerda no Twitter quanto de direita seguem poucas pessoas fora de seus grupos ideológicos e pouco compartilham mensagens de perfis de outros segmentos. A bolha na direita, porém, é mais fechada.
A partir de modelo estatístico, a Folha categorizou 1,7 milhão de usuários brasileiros com interesse em política na rede social e criou a ferramenta GPS Ideológico, para monitorar o debate na rede social (veja aqui a metodologia completa).
Nesse infográfico estão mil perfis que podem ser considerados influenciadores desses quase dois milhões de usuários.
Os resultados do GPS Ideológico mostram, por exemplo, que um usuário classificado como de centro tende a ter em sua lista 67% de pessoas fora de seu próprio grupo. Entre os 5% mais radicais de esquerda, esse indicador de diversidade cai para 35%.
A diversidade é ainda menor entre os 5% mais radicais de direita. Eles têm em suas listas somente 28% de perfis distantes de seu espectro.
Cientistas políticos dizem que essa organização dos usuários prejudica o debate, pois as pessoas ficam imersas em mensagens que apenas reforçam suas ideias, com pouco espaço para o contraditório.
A equipe do Twitter afirma que a rede social oferece meios que permitem o usuário ter acesso a conteúdo de diferentes perfis, mesmo que a pessoa não os siga. O usuário pode apenas consultar um perfil, sem necessariamente tê-lo em sua lista. Pode também clicar em hashtags, levando ao que todos os usuários estão falando sobre aquele tema.
Seguir uma pessoa, porém, faz com que o usuário tenha mais chances de receber em sua tela o conteúdo desse outro perfil.
O Twitter ganhou importância política após presidentes como Donald Trump e Jair Bolsonaro passarem a usá-lo como uma de suas principais formas de comunicação. Também tem sido ferramenta usada por pesquisadores para analisar comportamento de usuários por fornecer mais dados do que plataformas como Facebook e WhatsApp.
O posicionamento nessa reta ideológica, gerado pelo modelo estatístico, leva em conta a afinidade entre os seguidores que o perfil-influenciador tem. Ou seja, mostra para qual público o perfil mais fala ou representa na rede, mesmo que o influenciador não tenha intenção de ter esse público.
A análise da rede social pode, por exemplo, indicar o perfil dos seguidores dos partidos políticos do país.
Autor do algoritmo que foi adaptado para o GPS Ideológico, o cientista político Pablo Barberá (London School of Economics) afirma que, ao seguir uma pessoa, via de regra o usuário tem afinidade com esse perfil.
Isso porque a pessoa passará a visualizar mais tuítes desse usuário. E receber conteúdo de alguém sem afinidade é algo custoso, em termos de tempo e de atenção – por isso, tende a ser exceção.
Após identificar a posição no espectro político de cada perfil-influenciador, é possível então categorizar todos que seguem esses perfis.
O 1,7 milhão de usuários analisados pelo GPS Ideológico seguem ao menos três dos perfis-influenciadores e tuitaram ao menos cem vezes. Foi aplicada ferramenta para excluir robôs evidentes.
O modelo estatístico mostra que os grupos mais à direita e à esquerda, além de seguirem poucas pessoas fora de seus grupos, também pouco retuitam (compartilham) materiais de pessoas longe de seu espectro.
Nessa análise de retuítes, a Folha considerou mensagens que continham as palavras Bolsonaro ou Lula, postadas entre 15 e 24 de abril.
Essa situação encontrada no Brasil, de uma direita mais fechada que a esquerda, foi verificada também pelo pesquisador Barberá em estudo feito com tuítes nos Estados Unidos.
Além de serem mais fechados que os demais, os grupos radicais de direita e de esquerda destoam também pela intensidade de mensagens na rede social.
A reportagem contou quantas mensagens contendo a palavra Bolsonaro foram postadas pelos diferentes grupos. Os que estão mais à direita postaram quase cinco vezes mais do que os demais.
Em outra análise, foram consideradas as mensagens contendo a palavra Lula. Aí, são os mais à esquerda que tuítam quatro vezes mais que a média.
O estudo sobre o Twitter foi desenvolvido pelo DeltaFolha, editoria de jornalismo de dados da Folha que atua desde 2017 e agora foi rebatizada com esse nome.