Para um lado, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e a deputada federal Joice Hasselmann (PSDB-SP). Para o outro, o senador Marcos Rogério (PL-RO) e o ministro das Comunicações, Fábio Faria.
Em um ambiente polarizado, posturas contrárias ou favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PL) canalizaram as principais movimentações no Twitter entre os seguidores dos maiores influenciadores políticos do Brasil, mostra a nova atualização do GPS Ideológico da Folha.
Lançada em 2019, a ferramenta indica a posição de algumas das figuras mais relevantes da plataforma, de acordo com a afinidade entre os usuários. Ou seja, revela qual segmento um influenciador mais engaja na rede, ou como ele é percebido pelo público, ainda que o alinhamento não seja totalmente intencional (veja a metodologia abaixo).
A CPI da Covid no Senado é o melhor exemplo das mudanças na comparação com o início do governo Bolsonaro. Segundo o GPS Ideológico, 7 das 10 contas que mais atraíram usuários de esquerda ou repeliram os de direita são de opositores da gestão federal na comissão.
Além da crise institucional para o governo, a CPI ficou marcada pelo ativismo digital no Twitter: parlamentares eram abastecidos em tempo real com notícias e checagem de fatos por meio da plataforma.
Uma dessas contas é a de Simone Tebet (MDB-MS), atual candidata à Presidência. Considerando uma divisão de todos os usuários analisados em cinco grupos com tamanhos iguais, 88% dos seguidores ativos da senadora em 2019 se concentravam nos dois blocos mais à direita. Hoje, são menos da metade, enquanto 30% estão nas duas faixas mais à esquerda.
Com a projeção obtida na CPI, Tebet triplicou sua base total de seguidores na plataforma, de 124 mil para 367 mil. Mas não sem perder um terço dos adeptos ativos que tinha em 2019. Dos usuários que abandonaram o perfil da presidenciável, 89% eram do grupo mais à direita.
Essa nova composição dos inscritos posiciona a senadora próxima a 43 em uma escala de 0 a 100, na qual 0 representa o ponto mais à esquerda, e 100, o mais à direita.
O mesmo aconteceu com Fabiano Contarato (PT-ES), Alessandro Vieira (PSDB-SE), Eliziane Gama (Cidadania-MA), Leila Barros (PDT-DF), Jean Paul Prates (PT-RN) e o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). Entre perdas e ganhos de seguidores, esses representantes da linha crítica a Bolsonaro acumularam alguns dos maiores saldos à esquerda.
Do outro lado, quatro senadores pró-governo na CPI estão entre os 20 influenciadores que mais aglutinaram usuários à direita: Marcos Rogério, Jorginho Mello (PP-SC), Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e Ciro Nogueira (PP-PI). Antigo opositor de Bolsonaro e líder do Centrão, Nogueira é hoje ministro da Casa Civil e coordenador da campanha do presidente à reeleição.
Nogueira e Fábio Faria se destacam como influenciadores que mais atraíram seguidores nesse lado do espectro. Considerando a divisão dos usuários em cinco grupos, os dois ministros saltaram de 18% e 14%, respectivamente, para 90% de atuais adeptos na fatia mais à direita. No período, Nogueira pulou de 14 mil para 89 mil seguidores, e Faria, de 79 mil para 564 mil.
Entre os postulantes ao Planalto mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, a disposição na reta não surpreende. Lula (PT) é o candidato mais à esquerda, Ciro Gomes (PDT) e Tebet aparecem na sequência, e Bolsonaro é quem está mais à direita.
O GPS Ideológico indica um maior isolamento dos influenciadores próximos ao presidente. Isso provavelmente se deve a posicionamentos antagônicos a Bolsonaro adotados por figuras antes alinhadas a ele. Alguns exemplos são o cantor Lobão, o youtuber Nando Moura e o MBL (Movimento Brasil Livre), além de Joice Hasselmann.
A deputada foi líder do governo na Câmara, mas rompeu laços com a família Bolsonaro em 2019. No ano passado, assinou pedido de impeachment contra o presidente apresentado na Casa por 45 signatários, ao lado de Alexandre Frota (PSDB-SP) e Kim Kataguiri (União-SP), que também se descolaram do entorno presidencial.
Quem também viu sua base de seguidores reconfigurada foi o ministro do STF Alexandre de Moraes. Responsável pelo bloqueio de contas bolsonaristas, como as do blogueiro Allan dos Santos e do empresário Luciano Hang, e alvo de ataques diretos do presidente, como nas manifestações do 7 de Setembro de 2021, o magistrado perdeu seguidores de direita e agora está posicionado à esquerda da régua.
O GPS Ideológico coletou dados do Twitter entre junho e setembro deste ano. Com isso, captou efeitos dos apoios a Lula e as consequentes guinadas à esquerda de figuras anteriormente mais associadas à direita na rede social, como o deputado federal André Janones (Avante-MG) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), hoje candidato a vice na chapa do petista.
Num movimento contrário, o GPS também identificou uma maior rejeição entre usuários de esquerda à deputada Tabata Amaral (PSB-SP). A parlamentar recebeu ataques na rede após ter votado a favor da reforma da Previdência, contrariando a orientação de seu partido na época, o PDT.
O comportamento dos usuários do Twitter funciona como um ímã para definir as posições dos influenciadores no GPS Ideológico. Dois perfis com maior probabilidade de terem seguidores em comum se atraem, ao mesmo tempo em que repelem para longe de si as contas com maior tendência de agrupar seguidores distintos.
Foram posicionados 2.134 influenciadores políticos na reta ideológica, a partir dos dados de 1,8 milhões de usuários considerados ativos na rede.
A análise é baseada em metodologia desenvolvida pelo professor Pablo Barberá, da Universidade do Sul da Califórnia (EUA), descrita no artigo "Birds of a Feather Tweet Together: Bayesian Ideal Point Estimation Using Twitter Data". O estudo foi publicado em 2015 no periódico acadêmico Political Analysis.