30 anos de privatização

A Folha publica uma série de reportagens especiais em seis capítulos para detalhar o que mudou no Brasil em três décadas de privatizações e concessões de atividades públicas à iniciativa privada. Em todos os setores, os investimentos se multiplicaram, assim como o contingente de brasileiros atendidos por mais e melhores serviços.

Capítulo 3
Bancos estaduais

Privatização de bancos públicos favoreceu concentração

Cinco maiores instituições no país dominam mais de 70% dos depósitos bancários

Gustavo Patu
São Paulo

O aspecto mais controverso da privatização dos bancos estaduais é sua associação com o processo de concentração bancária no país.

Em 1994, ano do Plano Real, os cinco maiores bancos abrigavam 48% dos depósitos do público. Hoje, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander, juntos, têm mais de 70% dos depósitos.

Nesse período, o fim da inflação descontrolada e, posteriormente, turbulências na economia global levaram a negócios que favoreceram o agigantamento de instituições e reduziram a competição.

O movimento se deu tanto no setor privado como entre os bancos públicos, especialmente os estaduais. Nos dois casos, o Banco Central teve participação ativa nos ajustes.

Logo que a inflação caiu de forma abrupta, a preocupação imediata era evitar que bancos mal geridos de médio e grande porte quebrassem e provocassem reações em cadeia na economia.

Em situações assim, a derrocada de uma instituição leva junto outras que com ela mantém transações, além de depositantes, incluindo grandes empresas e funcionários.

A saída foi encontrar compradores para os bancos problemáticos –não sem gastos bilionários de dinheiro público para cobrir perdas irrecuperáveis nos balanços.

Houve, na época, a preocupação de promover a concorrência no mercado, relata Gustavo Loyola, que esteve à frente do BC entre 1995 e 1997.

Uma das principais providências foi autorizar o ingresso de bancos estrangeiros no sistema financeiro nacional, o que depende de um decreto presidencial para cada caso.

Assim, o Bamerindus, de Curitiba, foi comprado pelo britânico HSBC. O holandês ABN AMRO levou os estaduais Bandepe (PE) e Paraiban (PB).

No caso mais célebre, o espanhol Santander foi o vencedor do leilão do Banespa. Seu conterrâneo, o BBVA, adquiriu o Excel Econômico, da Bahia.

A partir dos anos 2000, porém, os estrangeiros foram debandando ou reduzindo sua participação no país –e ganharam corpo os gigantes que conhecemos hoje.

O Bradesco, comprador de quatro bancos estaduais, também ficou com o HSBC e o BBVA, além do BCN, que comprara o mineiro Credireal.

O Itaú, também vitorioso em quatro leilões de instituições estaduais, fez o negócio de maior impacto do setor privado ao incorporar o Unibanco em 2008.

O Santander, único estrangeiro a manter operação de larga escala no Brasil, assumiu as operações do ABN e do ex-federal Meridional.

No setor público, o Banco do Brasil absorveu a paulista Nossa Caixa, o catarinense Besc e o piauiense BEP.

Os cinco bancos estaduais remanescentes –de Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Espírito Santo, Pará e Sergipe– têm pouco peso no setor.

"O mercado brasileiro é complexo, precisa de escala", diz Loyola, sobre a saída dos estrangeiros e a concentração bancária no país.

Essa dinâmica negativa para a concorrência deverá ser progressivamente quebrada, aponta, com as inovações tecnológicas que facilitam o acesso aos serviços financeiros.

Segundo o ex-BC, a expansão das cooperativas de crédito é outro fenômeno importante a diversificar o mercado.