Fios de tecidos coloridos escorrem estendidos por um varal criando uma sensação de movimento. Trata-se de uma das obras da americana Wura-Natasha Ogunji.
Convidada para compor uma das sete seções dos artistas-curadores, Ogunji apresenta "Sempre, Nunca", com a participação de trabalhos comissionados por seis artistas –todas elas mulheres.
Nascida nos Estados Unidos e baseada em Lagos, na Nigéria, Ogunji costuma retratar a resistência em gestos do corpo como em performances em que reivindica a voz das mulheres.
Em 2013, ela orquestrou, em Lagos, a ação "Will I Still Carry Water When I Am A Dead Woman" (ainda vou carregar água quando eu estiver morta?). Ali, um grupo de mulheres vestindo macacões estampados e máscaras no rosto andavam por vários espaços públicos da metrópole nigeriana carregando galões de água.
Na Bienal, o objetivo de Ogunji é dialogar com os territórios que cada uma delas carrega em suas bagagens.
"Quis convidar artistas engajadas a dialogarem com o espaço da Bienal e de alguma forma com o histórico brasileiro", disse a artista.
Na sua seleção, obras conceituais com cores e formas conversam com o prédio de concreto e as colunas arquitetadas por Oscar Niemeyer.
Os trabalhos estão dispostos no ambiente de forma colaborativa e horizontal, diferente da maioria dos outros curadores que determinam um espaço específico para
cada um de seus artistas.
Entre os nomes escalados ali está a americana Nicole Vlado, que tem propostas semelhantes às de Ogunji. Formada em arquitetura, ela explora a relação entre espaços públicos e privados, por meio de performances e esculturas.
Além de Vlado, outra convidada para o time é Lhola Amira, uma artista nascida na África do Sul, que dedica seu trabalho a questões da sobrevivência das mulheres negras.
Para a Bienal, ela preparou "Sente-se Deixe-me Te Cobrir", uma obra que dialoga com a questão racial no Brasil.
Mame-Diarra Niang é uma artista e fotógrafa autodidata que nasceu na França e viveu no Senegal. Para o evento, ela traça um diálogo entre os lugares em que viveu por meio de uma videoinstalação intitulada "Uma Vez que o Tempo É Distância do Espaço".
Além delas, há trabalhos da libanesa Youmna Chlala que investiga a relação entre o destino e arquitetura por meio das mais variadas expressões artísticas.
Ruby Onyinyechi Amanze completa a seleção de Ogunji. Nigeriana, ela concentra seu trabalho em desenhos sobre papel que têm como foco o hibridismo na cultura –processos estéticos que não se definem com rótulos mesmo partindo da mesma origem.
Assim, estabelecendo diálogos sobre esses territórios, a artista-curadora pretende entrecruzar ideias e questões sobre coragem, liberdade e experimentações ao longo do processo criativo no pavilhão da Bienal.