33ª Bienal de São Paulo

Mostra comandada por time de artistas vai de 7 de setembro a 9 de dezembro

Capítulo 9
Mamma Andersson: 'Stargazer II'

Sueca cria um espaço que dialoga com ideia da melancolia

Mamma Andersson apresenta seleção formada por pinturas, relicários russos, esculturas e videoinstalações

'Pigeon House', de Mamma Andersson, de 2010 (Divulgação)

'Pigeon House', de Mamma Andersson, de 2010 (Divulgação)

Isabella Menon
São Paulo

Em uma noite estrelada, uma mulher só de roupas íntimas parece caminhar sobre a superfície do mar. Essa cena está retratada num quadro de Mamma Andersson, artista contemporânea sueca, que está à frente de uma das mostras na atual Bienal.

Ao lado do também artista-curador Waltercio Caldas, Mamma propõe um cenário completamente contrário aos traços minimalistas do vizinho. Para isso, ela traz uma seleção de nomes que inspiram a sua produção baseada na figuração expressionista.

Escalada pelo espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, Mamma Andersson apresenta uma série de pinturas, mas conta ainda com relicários russos, esculturas e videoinstalações.

A parte organizada por ela leva o nome de "Stargazer II" . A artista diz que a escolha do título vem de um "lindo nome para uma espécie feia de peixe, que vive no fundo do oceano e navega seguindo as estrelas". Ela diz, aliás, que se identifica com o bicho –"é como eu dentro do ateliê".

Mamma, na verdade, é como Karen Andersson ficou conhecida no mundo das galerias e museus. Reconhecida como uma das mais importantes artistas suecas, seu trabalho se constrói a partir de cenas e espaços de grande tensão.

Antes da Bienal, suas pinturas estiveram no mesmo pavilhão do Ibirapuera em abril deste ano, porém, para fins comerciais, na SP-Arte. Suas obras foram levadas pela galeria nova-iorquina David Zwirner e pela londrina Stephen Friedman.

A sueca Mamma Andersson
A sueca Mamma Andersson - Pedro Ivo Trasferetti/Divulgação

Agora, no papel de curadora, ela convocou artistas em sua maioria suecos. Um americano entrou na lista e Andersson selecionou também obras de russos do século 15. "Para este trabalho foi importante encontrar artistas que dialogassem com as minhas próprias obras", disse.

Sobre suas escolhas, ela acrescenta que o que a fascina na obra desses artistas tem a ver com a honestidade que demonstram. "Todos escolheram seus próprios destinos sem grandes atitudes e presunções", afirma. "Todos eles me inspiraram durante a minha carreira."

Entre os suecos, estão Dick Bengtsson, conhecido por pinturas de prédios que denunciam autoritarismo e poder. Há ainda trabalhos da cineasta Gunvor Nelson, que fala sobre infância e memória.

O único americano presente em sua seleção é Henry Darger, morto em 1973, aos 81 anos. O artista levou uma vida reclusa em Chicago, onde trabalhava como zelador de um hospital e teve as obras descobertas pouco antes de morrer. Suas pinturas mostram paisagens habitadas por crianças e seres fantásticos.

Mamma Andersson, que acredita que uma pintura é algo "sem momento e nem fim", pretende refletir sobre a melancolia e a introspecção no espaço idealizado por ela para os três meses da Bienal.

Interessada em figuração, a curadora diz que essa nem sempre foi sua fixação e mostra que tem um gosto variado. Entre suas artistas favoritas ela elege a sua conterrânea Hilma af Klint, reconhecida como uma das pioneiras do abstracionismo, estilo diferente do que é apresentado por Mamma nesta Bienal.