Em uma noite estrelada, uma mulher só de roupas íntimas parece caminhar sobre a superfície do mar. Essa cena está retratada num quadro de Mamma Andersson, artista contemporânea sueca, que está à frente de uma das mostras na atual Bienal.
Ao lado do também artista-curador Waltercio Caldas, Mamma propõe um cenário completamente contrário aos traços minimalistas do vizinho. Para isso, ela traz uma seleção de nomes que inspiram a sua produção baseada na figuração expressionista.
Escalada pelo espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, Mamma Andersson apresenta uma série de pinturas, mas conta ainda com relicários russos, esculturas e videoinstalações.
A parte organizada por ela leva o nome de "Stargazer II" . A artista diz que a escolha do título vem de um "lindo nome para uma espécie feia de peixe, que vive no fundo do oceano e navega seguindo as estrelas". Ela diz, aliás, que se identifica com o bicho –"é como eu dentro do ateliê".
Mamma, na verdade, é como Karen Andersson ficou conhecida no mundo das galerias e museus. Reconhecida como uma das mais importantes artistas suecas, seu trabalho se constrói a partir de cenas e espaços de grande tensão.
Antes da Bienal, suas pinturas estiveram no mesmo pavilhão do Ibirapuera em abril deste ano, porém, para fins comerciais, na SP-Arte. Suas obras foram levadas pela galeria nova-iorquina David Zwirner e pela londrina Stephen Friedman.
Agora, no papel de curadora, ela convocou artistas em sua maioria suecos. Um americano entrou na lista e Andersson selecionou também obras de russos do século 15. "Para este trabalho foi importante encontrar artistas que dialogassem com as minhas próprias obras", disse.
Sobre suas escolhas, ela acrescenta que o que a fascina na obra desses artistas tem a ver com a honestidade que demonstram. "Todos escolheram seus próprios destinos sem grandes atitudes e presunções", afirma. "Todos eles me inspiraram durante a minha carreira."
Entre os suecos, estão Dick Bengtsson, conhecido por pinturas de prédios que denunciam autoritarismo e poder. Há ainda trabalhos da cineasta Gunvor Nelson, que fala sobre infância e memória.
O único americano presente em sua seleção é Henry Darger, morto em 1973, aos 81 anos. O artista levou uma vida reclusa em Chicago, onde trabalhava como zelador de um hospital e teve as obras descobertas pouco antes de morrer. Suas pinturas mostram paisagens habitadas por crianças e seres fantásticos.
Mamma Andersson, que acredita que uma pintura é algo "sem momento e nem fim", pretende refletir sobre a melancolia e a introspecção no espaço idealizado por ela para os três meses da Bienal.
Interessada em figuração, a curadora diz que essa nem sempre foi sua fixação e mostra que tem um gosto variado. Entre suas artistas favoritas ela elege a sua conterrânea Hilma af Klint, reconhecida como uma das pioneiras do abstracionismo, estilo diferente do que é apresentado por Mamma nesta Bienal.