A noção de "Afinidades Afetivas" que batiza a 33ª Bienal de São Paulo indica uma rota de associações livres e não necessariamente justificáveis em um só discurso.
O conceito formulado pelo curador espanhol Gabriel Pérez-Barreiro ganha maior densidade nas mostras organizadas por outros artistas, que conseguem firmar um terreno poético comum entre suas próprias práticas e as de outros por toda sorte de afetos.
Os 12 projetos individuais que participam desta edição compõem um grupo heterogêneo de modalidades, geografias e trajetórias.
Uma das marcas desta edição parece ser o desejo de jogar luz sobre a prática de autores que, por diversas razões, não tiveram seus trabalhos detidamente estudados e postos em circulação.
Nessa categoria, estão o artista paraguaio Feliciano Centurión, o guatemalteco Aníbal Lopez, ou A-1 53167, e a brasileira radicada em Londres Lucia Nogueira –todos mortos.
Centurión, que trabalhou toda a vida em Buenos Aires, ganha uma sala com bordados oníricos, atravessamentos sutis sobre a vivência de um homossexual latino-americano nas décadas de 1980 e 1990.
Nogueira expôs suas instalações e desenhos em instituições europeias, permanecendo praticamente desconhecida em seu país. Seu trabalho associa objetos banais em situações enigmáticas. Aqui, eles estão instalados em uma plataforma um pouco acima do chão e dispostos em salas com barreiras que lembram um tipo de zoológico.
Outra das propostas é a de Denise Milan, artista que construiu uma trajetória à margem do circuito tradicional. Conhecida como ativista da arte pública, ela exibe uma grande instalação sobre a lapidação dos cristais rodeada por rochas escuras, ametistas ainda não reveladas.
A videoartista Tamar Guimarães retorna à Bienal com uma obra feita a partir da leitura de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", clássico de Machado de Assis.
Em seu texto curatorial, Pérez-Barreiro diz querer romper com um modelo centralizado do protocolo padrão de bienais tradicionais. Ele desconsidera, no entanto, processos participativos e discussões estéticas e políticas travadas nas edições anteriores da mostra, que tentavam expandir fronteiras da arte.