Dedos de um boneco sujos de sangue são cortados por uma faca. À primeira vista, pode parecer um filme de terror. A aflição se transforma em constrangimento logo em seguida, quando um pênis de plástico tem uma ereção repentina. As cenas descritas são mostradas em looping em televisores de tubo dispostos em fila indiana.
Ao lado das telas, uma parede de cores vibrantes no estilo pop art remetem a Andy Warhol. Tanto os monitores como o mural são trabalhos da americana Sturtevant, morta em 2014, aos 89 anos. Durante a vida, ela copiou o trabalho de artistas consagrados.
É assim que se inicia o recorte do artista-curador Alejandro Cesarco. O hall de entrada, segundo ele, é uma introdução aos temas que serão retratados dentro do seu espaço que, além da repetição, trabalha com questões como a originalidade e seus limites.
"São questões fundamentais e básicas sobre como lidar com as sombras do passado e as suas influências. São difíceis de responder, mas necessárias para um diálogo", detalha o artista uruguaio.
Denominada "Aos Seus Pais", a mostra organizada pelo autor radicado em Nova York tem nomes de três gerações diferentes, nascidos entre os anos 1920 e a década de 1980 -só a geração mais nova realizou trabalhos inéditos.
Em diálogo com Sturtevant, o austríaco Oliver Laric, nascido em 1981, também trabalha com questões da originalidade. Na Bienal, há uma obra em que ele imprime em 3D esculturas gregas clássicas usando um material transparente.
Em uma parede da exposição de Cesarco, fotografias de copos emolduradas em quadros surgem enfileiradas. São de obras de autoria do hiper-realista alemão Peter Dreher, que retrata utensílios do
cotidiano.
Por ali, estão também obras ready-made, entre elas as de um discípulo de Marcel Duchamp, Cameron Rowland, o mais jovem do espaço. Ele se apropria de objetos cotidianos e subverte seus significados.
Outra artista que trabalha com a repetição é Louise Lawler. Ela cria intervenções sobre fotografias de obras de outros autores. Na Bienal, há desenhos dela como "Still Alive (Candle)", que recria a imagem de uma natureza-morta só com linhas negras.
Há também videoinstalações, como a da artista Sara Cwynar, que relaciona cores vermelhas a uma fábrica, com cenas de trabalhadores e marcas. Para Cesarco, há um diálogo "com a beleza, a nostalgia e o respeito pela comercialização e produção das coisas".