Camisa usada por Pelé na Copa do Mundo de 1970

Camisa usada por Pelé na Copa do Mundo de 1970 Adriano Vizoni/Folhapress

Evolução do Futebol

Capítulo 5
Equipamentos

Tecnologia, estética e conforto determinam mudanças nas camisas

Especialista na área têxtil explica alterações nos tecidos dos uniformes no futebol, do algodão puro à microfibra

Gabriel Jesus, da seleção brasileira, em partida amistosa contra a Alemanha

Gabriel Jesus, da seleção brasileira, em partida amistosa contra a Alemanha

Alberto Nogueira
São Paulo

A expressão "camisa que enverga varal" é usada para exaltar força e tradição de equipes que conseguem vitórias importantes, mesmo quando não vivem seu melhor momento tecnicamente.

Esse ditado do futebol, porém, poderia ser mais literal se aplicado às camisas utilizadas pelos jogadores no passado, feitas inteiramente de algodão.

A fibra natural, usada na confecção dos uniformes esportivos até meados dos anos 1980, deixava a camisa com toque suave quando seco e apresentava um bonito brilho. Mas bastava a bola rolar para os problemas começarem a aparecer para os atletas.

Conforme os jogadores transpiravam, as camisas ficavam encharcadas de suor e, consequentemente, mais pesadas do que o habitual, como declarou à Folha o ex-lateral direito Zé Maria.

De acordo com o professor Maurício Campos Araújo, coordenador do curso de têxtil e moda da USP, isso acontece em razão do poder de absorção do algodão em relação aos outros tecidos.

"A fibra dele absorve muita umidade, ao contrário das fibras modernas de poliéster, que pouco retêm o suor e fazem essa transferência de líquidos da parte interna à externa da roupa de forma rápida", explica o professor.

Na segunda metade da década de 1980, o poliéster passou a ser usado junto com o algodão. Já no início da década de 1990, virou material único das camisas de futebol.

Isso resultou num uniforme mais leve, de secagem mais rápida. O tecido, porém, pinicava a pele dos jogadores.

"A fibra sintética do poliéster tem a característica de ser termoplástica, ou seja, ela é muito próxima do plástico. Antes da microfibra, evolução do poliéster, esses tecidos eram desconfortáveis no contato", afirma Araújo.

A evolução da fibra sintética deu origem no final dos anos 1990 às camisas "dri-fit", que permitem maior evaporação do suor, são mais leves, de melhor toque, e que traziam sensação de frescor aos jogadores durante as partidas.

O uniforme da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002, feito pela Nike, trazia duas camadas presas por uma costura interna na altura dos ombros. A segunda pele era uma malha "dri-fit", que transportava o suor para a camada externa, entrelaçada com um poliéster de baixo peso.

A inovação recebeu o nome de "cool motion" (movimento de resfriar) e tinha como objetivo tornar a camisa mais resistente a umidade e ao calor, segundo a fabricante.

Quando os jogadores tiravam a camisa para comemorar um gol, porém, vestir as duas camadas de tecido se tornava um empecilho.

Desde então, a tecnologia dos tecidos esportivos permanece em evolução.

Segundo coordenador do curso de têxtil e moda da USP, "as fibras atuais tem um formato geométrico chamado trilobal. Elas possuem canais que facilitam o transporte de líquidos da parte interna para a parte externa da camisa".

Seleção brasileira posa para foto com o uniforme que disputará a Copa do Mundo da Rússia antes de amistoso contra a Alemanha
Seleção brasileira posa para foto com o uniforme que disputará a Copa do Mundo da Rússia antes de amistoso contra a Alemanha - Fabrizio Bensch - 27.mar.2018/Reuters

Em março, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a Nike apresentaram os uniformes que a seleção brasileira usará na Copa do Mundo da Rússia. As mangas das camisas possuem os fios trilobais, citados pelo professor.

Para Araújo, em um futuro próximo, poderemos ver tecidos de nanofibras -menores que a microfibra, mas ainda em desenvolvimento- sendo utilizadas na confecção dos uniformes de futebol. Essas camisas seriam ainda mais leves absorveriam menos suor que as atuais.

Como novidades do uniforme da seleção para a Copa deste ano, a Nike diz ter desenvolvido um tecido "antiaderente", que não gruda na pele mesmo quando molhado.

Além disso, o tom do amarelo está mais próximo do usado na conquista do tricampeonato mundial, em 1970.

"O amarelo vivo e brilhante dos brasileiros era uma representação visual do modo de jogar daquela equipe", disse Pete Hoppins, diretor sênior de design da empresa.

A parceria entre Nike e CBF completou 22 anos em 2018, ano em que o contrato -que rende US$ 35 milhões (cerca de R$ 129 milhões) por ano à confederação- chega ao fim.

A empresa afirmou que não comentaria os valores do contrato e a existência de conversas para uma renovação.