Ensaio da arquitetura dos prédios de escolas públicas na cidade de São Paulo - Fotos: Tuca Vieira/Folhapress

Ensaio da arquitetura dos prédios de escolas públicas na cidade de São Paulo - Fotos: Tuca Vieira/Folhapress

E agora, Brasil? - Educação

Um retrato da educação no Brasil

Capítulo 1
Introdução

Ensino de má qualidade acentua desigualdade e violência no país

Dados negativos prevalecem apesar do aumento do número de matrículas de crianças e jovens

Ensaio da arquitetura dos prédios de escolas públicas na cidade de São Paulo - Fotos Tuca Vieira/Folhapress

Ensaio da arquitetura dos prédios de escolas públicas na cidade de São Paulo - Fotos Tuca Vieira/Folhapress

Fábio Takahashi e Paulo Saldaña
São Paulo

Ano após ano, dados negativos sobre a educação no Brasil vêm a público. Os alunos não aprendem o esperado e o sistema não garante sequer que todos cheguem até o final do ensino médio.

O que parece ficar nas sombras são os efeitos dessa situação. Indivíduos sem educação de qualidade tendem a sofrer mais com o desemprego, e os que estão empregados recebem salários menores.

O adulto que chegou apenas ao ensino fundamental ganha, em média, 62% do que aquele que completou o médio. E esses com diploma do antigo colegial são superados em 235% por aqueles que conseguiram concluir e se formar em um curso superior.

É uma das maiores diferenças do mundo, aponta a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne países desenvolvidos).

Ou seja, avançar no ensino aumenta consideravelmente a chance de a pessoa melhorar sua condição de emprego. Amplia também sua chances de inserção na sociedade.

Tomando ciências como exemplo, entre os jovens com as piores notas na disciplina, só 38% dizem estar a par do problema de emissão de gases do efeito estufa. Entre aqueles com as melhores avaliações, 96% sabem do que se trata.

A educação é também um escudo contra a violência. Há diminuição de 2% dos homicídios a cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos na escola, apontam estudos e pesquisas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

A baixa qualidade educacional prejudica ainda a economia. São necessários quatro trabalhadores brasileiros para produzir o que um americano produz, de acordo com a consultoria The Conference Board, organização norte-americana que reúne empresas e pesquisadores.

Especialistas apontam que essa defasagem, em grande parte, é explicada pelas diferenças educacionais.

Nem os alunos brasileiros mais ricos conseguem o desempenho dos estudantes com o mesmo perfil em países desenvolvidos.

Se o panorama da educação brasileira é negativo, existem ao menos alguns alentos. O país registrou forte avanço nas últimas décadas no número de matrículas de crianças e jovens, ainda que esteja abaixo do desejado.

Há iniciativas localizadas de êxito, como o apoio mútuo entre o estado do Ceará e seus municípios, arranjo que dura décadas e que ajuda a colocar em algumas cidades pobres da região uma qualidade de ensino de países ricos.

Grande avanço na qualidade da educação no Brasil como um todo, porém, exige mudanças estruturais e pontuais, que este especial visa discutir.