Plataforma digital para busca de remédios da prefeitura ainda é pouco utilizada
BRUNO MIRRA TÚLIO AMARAL DA EDITORIA DE TREINAMENTO
Quem precisa de remédio da rede municipal paulistana corre o risco de acabar peregrinando por várias UBS (Unidades Básicas de Saúde) até conseguir a droga. O motivo disso é a falta de informação na distribuição dos remédios pela cidade.
Uma das propostas da gestão Haddad na área, o "Aqui tem remédio", está derrapando para resolver o problema.
Trata-se de uma plataforma digital, que pode ser acessada por um site ou um aplicativo, lançada pela Prefeitura de São Paulo em dezembro de 2015. A ideia é facilitar a localização de medicamentos nas UBS. O problema é que o sistema ainda é pouco utilizado pela população.
Esse é o caso do bancário Marcelo de Lima, 48, que todo mês vai a alguma unidade de saúde atrás do antibiótico azitromicina.
Da última vez, foi informado de que a azitromicina estava em falta e que não havia previsão de reabastecimento.
Em nenhuma das farmácias que visitou, diz Lima, ele foi orientado sobre quando o medicamento seria reposto.
Tampouco foi aconselhado a usar o aplicativo. "Não saberia nem em que site pesquisar essa informação."
Questionada pela reportagem, a prefeitura afirma que há cartazes sobre o serviço nas UBS e que os farmacêuticos são orientados a informar os usuários sobre o app.
Desde que foi criado, o site "Aqui tem remédio" contabilizou cerca de 295 mil acessos, de acordo com a prefeitura. Já a versão app foi baixada 53 mil vezes.
Se comparada ao número de pessoas que retiraram medicação nas UBS, a quantidade de acessos é baixa. Até 30 de junho, quase 5 milhões de pessoas foram atendidas na rede municipal, de acordo com a prefeitura.
A ideia do sistema é orientar os usuários da rede municipal de saúde na hora de encontrar um remédio. Antes dele, a única maneira de saber se um medicamento estava disponível era indo pessoalmente a diferentes UBS.
A falta de informação sobre a disponibilidade de remédios na rede foi objeto de crítica em inquérito recente do Ministério Público do Estado de São Paulo.
A promotora Dora Martin Strilicherk, responsável pelo processo, afirma que o aplicativo não havia sido divulgado de forma eficiente.
Deve-se ter em mente –diz a promotora– a quantidade de pessoas que não têm acesso à internet. Além disso, uma parcela significativa dos que buscam medicamentos é composta de idosos que, muitas vezes, diz ela, podem ter dificuldade em mexer no aplicativo.
Dora ressalta que saber a disponibilidade dos remédios é importante para o usuário e também para o médico que prescreve a droga.
Se fica claro quais remédios estão faltando, o especialista pode receitar um fármaco equivalente. "O médico também está desinformado, receita um medicamento que está faltando há um tempão na rede", diz.
SOLUÇÕES
Para Cleber Sant'anna, consultor de projetos do Instituto Tellus, que desenvolve soluções para o setor público, algumas medidas podem disseminar o uso do app.
A primeira é simples: os funcionários da rede pública de saúde –de atendentes a médicos– devem informar o usuário sobre a plataforma.
"Se o usuário não tem acesso à internet, pode-se distribuir tablets para agentes comunitários irem às suas casas ", diz Sant'anna.
Outra medida importante seria a instalação de pontos de acesso à ferramenta espalhados pelas UBS e fora delas –algo que, segundo a prefeitura, está sendo estudado.