Centro municipal ajuda idosos, mas faltam vagas
CAIO SPECHOTO LUISA PINHEIRO DA EDITORIA DE TREINAMENTO
A copeira aposentada Conceição Rodrigues, 71, passava os dias sozinha em casa por ter dificuldade para descer e subir as escadas do prédio em que mora.
Agora, ela participa de atividades físicas e culturais no centro-dia para idosos de Sapopemba (zona leste de São Paulo). Para chegar lá, recebe ajuda do motorista do centro. Ele faz o transporte dos idosos com problemas de locomoção.
"Antes, eu ficava do quarto para a sala, da sala para a cozinha. No centro, tem espaço e gente para conversar", diz a aposentada.
Cada centro desses -são seis espalhados pela cidade- tem 30 vagas para pessoas com mais de 60 anos. Para usufruir da instalação, é preciso ter grau leve de dependência nas atividades diárias.
Os idosos recebem alimentação e cuidados de profissionais especializados. É uma espécie de creche, que visa evitar problemas que o isolamento pode causar, como a depressão.
Em Sapopemba, os idosos dividem espaços de lazer com crianças e adolescentes da comunidade.
A Prefeitura de São Paulo mantém os centros-dia -criados a partir de outubro de 2015, na gestão Haddad (PT)-, em convênios com organizações sociais. A meta é inaugurar mais dez espaços até o final do ano.
Como o idoso volta para casa no final do dia, esse modelo de atendimento preserva os vínculos familiares, dizem os especialistas ouvidos pela reportagem. O problema é que há poucas vagas.
Para a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do município, Luciana Temer, o ideal seria que o serviço estivesse disponível em cada uma das 32 subprefeituras. É o dobro da meta da gestão.
Não há, porém, de acordo com a secretária, um estudo que aponte a quantidade necessária para a cidade.
Em Sapopemba, onde esteve a reportagem, existe demanda para outro centro-dia, além do que foi inaugurado há cerca de um mês.
A avaliação é da coordenadora do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) daquela região, Déborah La Rocca.
É a partir de cada Creas local que os idosos são encaminhados para os centros.
Com a redução do número de pessoas por família, fenômeno observado no Brasil, a expectativa é que aumente a procura por modelos de atendimento aos idosos.
Pelas projeções do Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), 20% dos habitantes da cidade terão mais de 60 anos em 2030. Hoje, a parcela da população nessa faixa etária é de 14%.
PERSPECTIVAS
A Organização Mundial de Saúde recomenda uma política de cuidados de longa duração para os mais velhos, como creches para idosos e visitas de cuidadores em casa.
Desde 2005, a cidade conta com uma iniciativa de cuidadores domiciliares, o PAI (Programa do Acompanhante do Idoso). Há, hoje, 24 equipes que atendem cerca de cem idosos cada.
A frequência das visitas varia de uma a quatro por semana, de acordo com as necessidades de cada pessoa.
Para Nivaldo Carneiro Junior, professor de saúde coletiva na Santa Casa, é necessário aumentar a oferta desses serviços, levando em conta os diferentes graus de dependência dos idosos.
Sem vagas suficientes nos centros-dia, alguns NCIs (Núcleos de Convivência do Idoso), destinados aos idosos com autonomia em todas as atividades diárias, acabam atendendo também quem depende de cuidadores.
No núcleo administrado pelo Gaia (Grupo de Assistência ao Idoso, à Infância e à Adolescência), pelo menos metade dos frequentadores precisaria dos serviços como os de um centro-dia. A afirmação é da gerente de serviço do NCI, Sonia Fernandes.
O centro-dia visa evitar internação em asilos. Mas, para que dê o resultado esperado, as unidades deveriam receber idosos com grau de dependência mais avançado, diz a especialista em políticas públicas do envelhecimento da USP Marilia Louvison.
De acordo com Marilia, uma solução seria investir nas chamadas políticas de envelhecimento ativo, promovendo, por exemplo, condições para que os mais velhos consigam circular pela cidade, como calçadas acessíveis.
O uso de estruturas do bairro, como academias ao ar livre, para melhorar a qualidade de vida dos idosos, seria uma boa alternativa, na visão do professor de medicina preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Luiz Roberto Ramos.