Saúde mental

Atendimento à saúde mental tem boa avaliação, mas é restrito

ANNA VITÓRIA ROCHA
LUCAS ROCHA

DA EDITORIA DE TREINAMENTO

Os centros da prefeitura de apoio à saúde mental oferecem atendimento de boa qualidade à população, ainda que tenham carência de profissionais e precisem ser ampliados. A avaliação é de especialistas no tema, corroborada pelo coordenador municipal da área.

Chamadas de Caps (centros de atenção psicossocial), as unidades atendem pessoas em situações de crise ou em reabilitação, que enfrentam problemas com álcool, drogas e transtornos emocionais.

Psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais realizam atendimentos individuais e coletivos, com atividades ao longo do dia e sem internação.

Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Pessoas com Esquizofrenia, Jorge Cândido Assis, quem consegue o tratamento se sente satisfeito. A Folha ouviu a mesma avaliação de 15 usuários.

"O atendimento é razoável", diz o coordenador municipal de saúde mental, Roberto Tykanori. "Mas ainda aquém do necessário."

O representante da prefeitura considera que a rede de Caps deveria ser maior. Hoje são 82 unidades, sendo duas delas inauguradas pelo governo Fernando Haddad (PT). A meta da gestão era criar outras 28 até o fim do mandato. A Secretaria de Saúde não informou se vai conseguir cumprir esse objetivo.

Outro problema apontado pelo coordenador municipal é a falta de psiquiatras nas unidades –ele não disse qual seria a quantidade ideal de profissionais por unidade.

O presidente do Cremesp (conselho de medicina de SP), Mauro Aranha, avalia que, se os Caps tivessem mais profissionais, seria possível ampliar a integração com outros espaços, como escolas e bibliotecas.

As unidades receberiam e encaminhariam usuários de forma mais eficiente, segundo as necessidades específicas de reabilitação.

MELHORA

Os Caps atendem casos como o de Pedro (nome fictício), 10, que frequenta o centro há cinco anos. Ele vai semanalmente à unidade na Mooca (zona leste) para tratar de sintomas de transtorno global do desenvolvimento –distúrbio de interação social que inclui o autismo.

"Ele tinha comportamento ruim, batia, mas isso foi trabalhado na terapia. Ele evoluiu muito e se adapta melhor aos diversos locais, como um cinema, por exemplo", disse a mãe, de 45 anos.

A unidade oferece sessões com psicólogo e fonoaudiólogo (terapia ocupacional está sem profissional na unidade). Há também oficinas de desenho, fotografia e jogos.

O modelo do Caps foi ampliado no país com a lei de 2001, que implementou a reforma psiquiátrica. As unidades se espalharam para substituir os antigos hospitais psiquiátricos, onde as pessoas ficavam isoladas do convívio social.

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, discorda do modelo dos Caps, em que os usuários passam o dia em atividade, por um longo período. Para ele, o ideal é a pessoa passar por uma consulta e voltar para casa, para que não se crie uma dependência desse cuidado.