Guilherme Afif Domingos, 74, pré-candidato à Presidência pelo PSD afirma que o ex-presidente Lula deveria ter tido preservado o seu direito de defesa "até o fim".
Ele se posiciona contra a prisão após condenação em segunda instância. "O que não se pode é usar o recurso com chicana", disse em entrevista à TV Folha.
Candidato a presidente em 1989, Afif chegou em sexto. Ele pensa em repetir seu bordão à época ("Juntos chegaremos lá!") e focará nos "batalhadores", empreendedores formais e informais.
PRISÃO DE LULA
Sou Constituinte e sei o que escrevemos na Constituição sobre a privação de liberdade. Lá está claro. Só pode haver (prisão) quando houve o trânsito em julgado.
Se olharmos a letra da Constituição, há o direito de defesa. O Lula tem de ter o direito de defesa até o fim.
O que não se pode é usar o recurso com chicana, que é o que se critica no Brasil.
Pode-se interpretar o recurso e ver o que é interposição de recurso protelatório. Mas o recurso legítimo tem de ser analisado como direito de defesa da pessoa. Isso vale para todo mundo.
PUNIÇÕES
Acredito que não tem retorno e esse é um consenso nacional. Agora, você jogar todas as suas fichas na punição não é o caminho. Temos de jogar as fichas na mudança desse sistema.
Existe um rompimento total entre Nação e Estado. As pessoas não se julgam representadas dentro do Congresso Nacional. A reforma do sistema eleitoral teria de ter sido muito mais profunda e não vejo mudança nessa direção, mas no sentido de (o sistema atual) se preservar. Não basta punir e o sistema continuar igual.
PULVERIZAÇÃO
Ainda estamos em um grande vácuo, e não acredito que essa pulverização de candidaturas se mantenha. Todos nós temos que nos viabilizar, inclusive o [Geraldo] Alckmin [pré-candidato do PSDB], que também não está preenchendo o espaço que lhe foi destinado. Os próximos 90 dias são de ocupação de espaço.
Em 1989 tivemos uma eleição muito pulverizada. Mas neste ano os partidos estão olhando muito a eleição parlamentar, até por conta do pouco caixa de campanha.
Quanto menos candidatos (para presidente) tivermos, melhor para a eleição de deputados, que é o que vai dar poder ao partido depois, inclusive recursos no futuro.
Esta é um a eleição ainda absolutamente aberta. Ninguém é favorito.
BATALHADORES
Há uma luta entre o que é moderno e o que é antigo no Brasil. Sou um liberal, e um liberal de massa. Da micro, pequena e média empresa, do regime de competição.
Nossa bandeira defende o batalhador, que é essa imensa classe de empreendedores. Essa será a mola mestra, essa multidão de batalhadores formais e informais.
É o Brasil real. Pode ser até que eu repita o mantra "Juntos chegaremos lá!" por conta do recall, que é muito grande.
No Brasil, se tivermos 200 municípios com médias e grandes empresas, é muito. Mas todos têm micro e pequenas empresas. É sobre esse batalhador que eu vou falar.
RENOVAÇÃO
A população quer renovação com experiência. Temos um recall do passado de que não foi bom ter um outsider [Fernando Collor], que confiscou a poupança e acabou em impeachment.
O eleitor quer renovação, quer uma pessoa não comprometida com as maracutaias, mas quer experiência.
COSTUMES
O mundo gay hoje consegue se manifestar com total liberdade e eu sou totalmente favorável. Mas quando se fala em casamento, o termo está errado. É um contrato, porque casamento é macho e fêmea, não tem jeito.
Sobre drogas, tenho profunda dúvida sobre a liberação. Sobre o consumo, tem de ter uma responsabilidade. Quem é consumidor deve ter um brutal agravante na hora que tem um acidente.
No caso do aborto, eu sou contra a pena de morte. Sou a favor do aborto nos casos já previstos em lei.
Fui contra o voto aos 18 anos e até hoje falo a mesma coisa, pois se baixasse a idade para votar, acabaríamos [em algum momento] baixando a maioridade penal.
Sou a favor de baixar a idade para trabalhar, de 16 para 14 anos, com a obrigatoriedade de estudar. Porque hoje jogamos essa leva de adolescentes na mão do crime.