Capítulo 2
Campanha

Como pensam os candidatos a deputado federal

Folha analisou respostas de 1.032 concorrentes em 25 partidos; grau de coesão varia entre eles

Ana Estela de Sousa Pinto e Daniel Mariani
São Paulo

O NIF (Núcleo de Inteligência da Folha) analisou as respostas de candidatos a deputado federal por São Paulo ao Match Eleitoral, ferramenta criada pela Folha que aproxima candidatos e eleitores a partir de um questionário com 20 perguntas.

Os candidatos podem concordar total ou parcialmente com (ou discordar total ou parcialmente de) temas como reforma da Previdência, proteção da indústria, participação do Estado na economia, aborto, casamento gay e liberação de drogas.

A análise considerou partidos com respostas de no mínimo um terço dos candidatos, e excluiu os com menos de dez participantes.

Ficaram dentro dos parâmetros 25 partidos e 1.032 candidatos –67% do total de candidatos desses partidos e 96% dos participantes do Match.

Para analistas, novas regras que tornam a representatividade geográfica obrigatória para ter acesso ao fundo partidário podem explicar parte da diversidade. Há risco, porém, de dificultar a articulação política no Congresso (leia a reportagem).

Dos 25 partidos analisados, 19 lançaram candidatos cujas posições aproximam as agremiações do centro.

Nos extremos, há quatro destaques: PSOL e PT, cujos candidatos dão respostas de esquerda e progressistas, Novo, com respostas à direita e progressistas, e PSL, que aparece como o mais conservador e à direita em economia.

Rede e DEM se afastam do centro em um dos eixos –a primeira tem candidatos progressistas, mas sem viés econômico, enquanto o segundo tem candidatos de direita, sem viés moral.

O grau de coesão nas posições dentro de um mesmo partido variou bastante.

No PT e no PSOL, por exemplo, a grande maioria fica à esquerda na economia (mais presença do Estado) e progressista nos costumes. No Novo, há concentração também no polo progressista, mas à direita (mais liberal).

Já em partidos como o MDB, o Podemos ou o Solidariedade, as respostas ocupam todas as graduações de opinião.

A posição dos partidos nos campos de opinião econômica e social coincide em grande parte com as respostas dos próprios candidatos sobre seu próprio posicionamento no espectro político.

Numa escala de 1 a 7, sendo 1 o máximo à esquerda e 7 o máximo à direita, os candidatos do Psol e do PT se colocam perto do 2, e o PSL fica mais perto do 6.

Em todos os outros partidos, os candidatos se colocam na faixa que vai de 3 a 5.

Apesar das diferenças ideológicas entre os partidos, há assuntos nos quais a grande maioria dos candidatos pensa de forma semelhante.

Nos temas econômicos, por exemplo, a tendência geral é aprovar a avaliação de funcionários públicos e a proteção da indústria nacional, considerar necessário o programa Bolsa Família e condenar o uso de áreas de floresta para agricultura e a ocupação de imóveis por quem não tem moradia.

Em temas sociais e de comportamento, a quase totalidade concorda que a defesa dos direitos humanos é fundamental, condena a pena de morte e discorda de que a liberalização das drogas seja importante para combater crimes.

Outros temas mostram clara divisão na posição dos partidos.

Em economia, eles são a reforma da Previdência, privatizações e o uso de recursos públicos para ajudar empresas. Também há polêmica sobre a afirmação de que pobreza ou não depende do esforço de cada um, e na discussão sobre o que é prioritário: controlar inflação ou crescer.

No campo social e moral, há grande divergência sobre o ensino de valores religiosos na escola, o aborto, casamento gay, cotas para negros e o uso do Exército para garantir a segurança nas ruas. A afirmação de que a Operação Lava Jato é imparcial em suas ações também divide a opinião dos partidos.

Colaborou Simon Ducroquet (infográficos).