Mais da metade (51%) dos servidores públicos estaduais têm direito a aposentadorias especiais, o que faculta a eles se retirarem de suas funções mais cedo por conta de atividades consideradas exaustivas ou de risco.
Entre os que têm esse direito, segundo o Ipea, 96% dos policiais militares se aposentam antes dos 50 anos de idade -como o fizeram centenas de PMs do Amapá neste ano.
"Daqui três ou quatro anos, os recursos na área estarão quase todos sendo direcionados para o pagamento de aposentadorias", diz Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
"Sem estratégias para mitigarmos essa bomba-relógio, os policiais acabarão sem aposentadoria, e o Brasil ficará sem polícia."
Além do Rio de Janeiro, vários estados do Nordeste aparecem com indicadores ruins na área de segurança, como Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará, Alagoas e Sergipe, onde há grande número de assassinatos.
O Ceará, segundo dados do Fórum, tornou-se uma espécie de "entreposto" para as drogas que são distribuídas nas regiões Norte e Nordeste.
"É o efeito perverso do desenvolvimento do estado, que hoje conta com uma boa rede de estradas vicinais. A capilaridade tornou a distribuição de armas e drogas pelo Ceará mais eficiente", diz Lima.
Já o estado de São Paulo, com as menores taxas de homicídios por 100 mil habitantes, vive, segundo o Fórum, um "paradoxo": a boa efetividade policial convive com o fato de uma grande organização criminosa, o PCC (Primeiro Comando da Capital) ter uma espécie de monopólio da violência.
Em outros estados, como no Rio, há guerra pelo controle do crime entre várias organizações, o que tende a contribuir para a violência.
"Mas se São Paulo quiser manter seu ciclo virtuoso, terá de se preocupar mais com sua Polícia Civil, que já teve 35 mil pessoas e agora tem 25 mil por conta de aposentadorias e demissões. Isso reduz muito a capacidade de esclarecer crimes", diz Lima.