Capítulo 1
Os limites da IA

Gigantes de tec criam suas próprias regras, mas pedem regulação para IA

Empresas como Amazon, Facebook, Google, IBM e Microsoft defendem publicamente a criação de leis sobre o uso da tecnologia

Raphael Hernandes

A expansão da IA (inteligência artificial) provoca um movimento pouco comum entre empresas como Amazon, Facebook, Google, IBM e Microsoft: pedidos por regulação, acompanhados pela divulgação de regras próprias para o uso da tecnologia.

Com empresas de tecnologia sob os holofotes após múltiplos escândalos envolvendo privacidade, conquistar a confiança do público para a IA aparece como um motivador para tentar compartilhar a responsabilidade de regular a área.

"Se as pessoas não confiarem na IA, então corremos riscos tremendos de todos os benefícios que ela pode trazer serem prejudicados", diz Michael Philips, que chefia o desenvolvimento de políticas para essa tecnologia na Microsoft.

Para o italiano Luciano Floridi, professor de filosofia e ética da informação na Universidade de Oxford, o interesse das gigantes de tecnologia por regulação no setor pode ser motivado pelo desejo de se ter clareza sobre o que é certo e errado. A presença de regras comuns, avalia, é o que permite a competição.

Reportagem publicada em janeiro no jornal "Wall Street Journal" compara a movimentação à de outras indústrias no passado, particularmente seguros e petróleo. Ao ver que a regulação é inevitável, as empresas apoiam a criação de regras publicamente enquanto atuam nos bastidores para influenciar como elas são feitas.

No discurso, embora as abordagens e regras das gigantes tecnológicas variem um pouco, o que elas têm em comum é pregar uma IA justa e transparente.

"Nós tomamos muitas decisões e não devemos tomar tantas decisões sozinhos sem a presença do debate público", avalia Norberto Andrade, líder global para políticas de ética digital e em IA no Facebook. "As questões éticas não têm que ser respondidas apenas pelas empresas. Precisamos chegar a um consenso como sociedade."

Swami Sivasubramanian, vice-presidente de IA da AWS (empresa de computação em nuvem da Amazon) faz coro a Andrade. "É muito fácil dizer "tal pessoa não deveria poder usar essa tecnologia". Mas, se está de acordo com as leis do país em que ela vive, não cabe a nós dizer o que devem ou não fazer", diz.

Jeff Dean, diretor de IA do Google, diz achar razoável que países adotem regras diferentes entre si. "Já estamos vendo isso acontecer."

Colaborou Bruno Fávero