Desigualdade global

Capítulo 4
Ásia

Classe média encolhe no Ocidente, mas China puxa renda global

Apesar do avanço dos asiáticos, EUA e Europa concentram a maior fatia de altos rendimentos

Fernando Canzian
Washington

Rakesh Kochhar

Para o economista Rakesh Kochhar, do Pew Research Center, de Washington, a China é o país que mais tem contribuído para o aumento da classe média no mundo.

Segundo ele, vários fatores levam, porém, ao encolhimento desse estrato no Ocidente.

Rakesh Kochhar, pesquisador sênior do Pew Research Center, em Washington, com foco nas classes médias americana e global. É doutor em economia pela Brown University

Os países asiáticos, sobretudo a China, estão tirando rapidamente milhões de pessoas da pobreza extrema e, ao contrário do que ocorre no Ocidente, têm ampliado as suas classes médias. Quais as perspectivas futuras desse processo?

Consideramos a distribuição das pessoas em cinco grupos. Começamos no nível de pobreza e vamos para os grupos de baixa renda, renda média, renda média alta e renda alta.

A renda média engloba pessoas que ganham entre US$ 10 a US$ 20 ao dia. Globalmente, o número de pessoas com essa faixa de rendimentos médios dobrou a partir de 2000.

Grande parte desse crescimento veio apenas da China, responsável por mais da metade desse aumento. Por isso, a história do crescimento da classe média em alguns locais do mundo deve-se ao grande número de pessoas na China que se beneficiaram de um tremendo crescimento, baseado em reformas econômicas iniciadas na década de 1980.

Secundariamente, há crescimento da classe média vindo também da América Latina, particularmente da Argentina e do Brasil. Essa região contribuiu com cerca de 50 milhões de pessoas que recentemente chegaram à renda média neste século.

Em outros países em rápido crescimento, como a Índia, principalmente, pessoas migraram da pobreza para o grupo de baixa renda. Mas um grande número de pessoas ainda têm de ser colocado no grupo de renda média, de acordo com o padrão global.

Portanto, há crescimento, mas ele não é igualitário. Alguns países de renda média ainda estão atrás da curva em comparação a outros de renda alta, como a Europa Ocidental ou os Estados Unidos e o Canadá, onde a classe média alta prevalece.

Houve alguma melhora no sentido de alcançá-los. Mas a grande maioria, entre 80% e 90% das pessoas consideradas globalmente como de renda alta, ainda vivem nesses países do Ocidente.

Quando se fala em concentração de renda e do encolhimento da classe média no Ocidente, muitos apontam para a Ásia como uma das causas, devido ao deslocamento da produção industrial para lá. Mas há outros aspectos, como a diminuição dos sindicatos e a tecnologia. Qual a sua opinião?

Há uma infinidade de fatores aqui. Infelizmente, não temos uma boa resposta para o quanto determinado aspecto contribuiu para a diminuição da participação da classe média.

O declínio dos sindicatos, associado ao declínio da indústria manufatureira, desempenhou um papel importante.

A globalização e a concorrência, com mais mão de obra no exterior capaz de fazer o trabalho que se fazia nos Estados Unidos, por exemplo, desempenham um papel também.

O mesmo acontece com a tecnologia. A maioria das pessoas diz que a tecnologia tem mais a ver com isso do que qualquer outra coisa.

Por tecnologia entendemos aquele engenheiro que projeta o carro e é muito produtivo. Ele ou ela realmente se beneficia da informatização. Essa pessoa é produtiva e é bem paga.

Mas a mesma informatização, ou automação, tira o trabalho da pessoa que costumava montar o carro. Ela é substituída, e seus rendimentos e empregos sofrem pressão.

A maioria apontaria para a tecnologia, a globalização e o enfraquecimento dos sindicatos como forças que contribuíram para o declínio da classe média. Mas é impossível definir se isso explica 50% ou 80% do problema