Da esquerda para a direita: a estudante de sistemas da informação Vitória Fernandez confia no futuro; o pedreiro José Hortêncio vive de bicos esporádicos há mais de três anos; "nunca fui muito dada a bater cartão", diz a pesquisadora Plicila Ferreira; para Tarci Silva, o cobrador faz muito mais do que lidar com dinheiro.

Da esquerda para a direita: a estudante de sistemas da informação Vitória Fernandez confia no futuro; o pedreiro José Hortêncio vive de bicos esporádicos há mais de três anos; "nunca fui muito dada a bater cartão", diz a pesquisadora Plicila Ferreira; para Tarci Silva, o cobrador faz muito mais do que lidar com dinheiro. Fotos: Bob Wolfenson/Folhapress

E agora, Brasil? - Mercado de Trabalho

Um diagnóstico do mercado de trabalho no Brasil, os problemas e as propostas vindas de pesquisas, dados nacionais e internacionais e análises

Capítulo 3
Revolução Digital

Pelo menos 3% da população global vai precisar mudar de ocupação

Érica Fraga
SÃO PAULO

A quarta revolução industrial levará entre 3% e 14% da força de trabalho global a se reinventar até o fim da próxima década. Em números absolutos, isso significa que entre 75 milhões e 375 milhões de pessoas precisarão migrar para uma ocupação diferente da que realiza nos dias de hoje.

Essas estimativas foram divulgadas recentemente pela Mckinsey. Segundo a consultoria, essa dança das cadeiras poderá representar um deslocamento de gente maior do que a migração do emprego da agricultura e da indústria para o setor de serviços.

Nas últimas décadas, a transição entre setores ocorreu na maior parte do mundo. No Brasil, desde meados de anos 1990, essa transferência se deu principalmente da agricultura para os serviços, enquanto a fatia de emprego na indústria permaneceu relativamente estável.

Agora, as mudanças de postos de trabalho ganham caráter ocupacional, com a criação de novas profissões e a eliminação de antigas.

O desafio dos países é garantir que sua força de trabalho esteja bem preparada para enfrentar a transição.

Em relatório recente, a OCDE (organização que reúne nações ricas e alguns emergentes) avaliou que o avanço dos anos de estudo não tem sido suficientes para garantir a empregabilidade.

O estudo concluiu que 62% da população adulta nos países do grupo aplicam as habilidades adquiridas via educação formal, mas fazem isso com proficiência inferior à que os computadores já possuem ou terão.

Mas, para especialistas, há bastante espaço para que a tecnologia complemente as tarefas humanas em muitas ocupações, facilite a interação nas empresas e abra espaço para a expansão de vínculos mais flexíveis de trabalho, como o serviço autônomo.

No Brasil, existe a expectativa de que a reforma trabalhista, apesar dos problemas iniciais, abra espaço para a expansão de arranjos nessa direção.

Em consequência das mudanças que já começaram, empregadores colocam ênfase cada vez maior na busca por habilidades como criatividade, empatia e capacidade de trabalhar em grupo. Essa nova visão tem levado a uma reformulação de currículos.

"A formação precisa ir além da técnica e do conteúdo e contribuir para o desenvolvimento da capacidade de ouvir, reagir, antecipar, trabalhar em time e analisar", afirma Carolina da Costa, vice-presidente do Insper.

Além de contemplar a importância dessas competências, o país tem o desafio urgente de melhorar o ensino.

Deficiências que vêm desde a educação básica fazem com que uma fatia significativa de brasileiros com ensino superior tenha dificuldade para fazer contas básicas. Isso pode ser uma das causas da estagnação do retorno salarial garantido pelo diploma de ensino superior.

A urgência do tema da qualificação também se aplica aos trabalhadores mais maduros que, com as mudanças demográficas no país, se tornarão fatia cada vez maior da mão de obra brasileira.