O Castigador

Até laudo psicológico de anulação de seu casamento foi usado contra Duterte

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e sua primeira mulher, Elizabeth Zimmerman; o casamento dos dois foi anulado no ano 2000, por causa de episódios de adultério cometidos por Duterte Reprodução
Reportagem sobre apoio dado a Duterte pro sua ex-mulher, Elizabeth Zimmerman

Os números crescentes de eleitores dispostos a votar em Rodrigo Duterte no começo deste ano acirraram também os ataques ao candidato azarão cuja candidatura foi lançada na última hora.

Até mesmo o laudo psicológico usado no de anulação do casamento, pedida por sua ex-mulher, Elizabeth Zimmerman, foi objeto de divulgação e discussão.

O presidente sofre de desordem de personalidade antissocial e narcisista, na avaliação da ex-presidente do Conselho Internacional de Psicólogos, Natividad Dayan, que elaborou o laudo.

As características da desordem são descritas como "indiferença, insensibilidade e egocentrismo, comportamento manipulativo, megalomania e impulso incontrolável de humilhar os outros e agredir seus direitos e sentimentos".

Também implica "ausência de remorsos ou do sentimento de culpa", segundo a especialista.

Casada com Duterte em 1973, Zimmerman, ex-aeromoça, entrou com o processo em 1998, mas já vivia separada do atual presidente desde 1988.

Ela é mãe de 3 dos 4 filhos do presidente. Os dois mais velhos —Paolo ("Pulong") e Sara ("Inday Sara")— seguiram a carreira política; o mais novo, Sebastian ("Bastê"), administra empresas.

Na decisão que anulou o casamento, o juiz Pablo M. Roxas relata que Zimmerman testemunhou ter sido agredida e humilhada por sucessivas amantes do ex-marido.

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Duterte, sua atual companheira, Honeylet Avanceña, e a filha dos dois, Veronica, participam de campanha presidencial, em video do site Filipino Rappler
Vídeo do seite Rappler mostra Duterte, sua atual companheira, Honeylet Avanceña, e a filha dos dois, Veronica, durante a campanha presidencial

Segundo Dayan, seus exames constataram que Duterte é altamente impulsivo e incapaz de refletir sobre as consequências de seus atos.

O laudo ganhou notoriedade depois que o atual presidente afirmou, durante a campanha, apoiar os assassinatos feitos por esquadrões da morte na cidade em que foi prefeito, Davao.

O então candidato declarou que não queria ser eleito presidente porque, se fosse, em vez de 1.000 mataria 100 mil criminosos —para isso, seria preciso matar 46 em cada um dos 2.190 dias de seu mandato.

O laudo também afirma que o atual presidente tem baixa tolerância à frustração e é propenso a comportamentos destrutivos, que ele percebe apenas como desafiantes e estimulantes.

"Para todos os seus erros, ele tentará encontrar uma justificativa. Dificilmente sente culpa ou volta atrás."

A imprensa filipina também voltou suas lentes para a atual mulher do presidente, Cielito "Honeylet" Avanceña, que o presidente conheceu em 1988, quando ela estudava enfermagem.

Hoje dona de 11 franquias da confeitaria Mister Donut, ela é mãe da quarta filha do político, Veronica, hoje com 12 anos.

King Rodriguez - 31.mai.2016/AFP
Philippines President-elect Rodrigo Duterte (C) takes a selfie with Cabinet members during a press conference in the southern Philippine city of Davao on May 31.
Duterte e sua equipe em Davao, cidade que o atual presidente governou por três vezes

A imagem de rude, grosseiro e duro na queda é cultivada por Duterte.

Políticos, diplomatas e jornalistas ouvidos pela Folha dizem que ele pode ser incrivelmente cordato, amável e cavalheiro, mas o presidente parece ter escolhido propositalmente o caminho da polêmica.

As constantes declarações de desprezo pelo processo legal e o Estado de Direito, manifestações de hostilidade em relação a antigos parceiros internacionais e a restauração do ex-presidente Marcos têm sido vistos por parte da oposição como sinais de que Duterte corteja a ideia de concentrar poder e evoluir para algo semelhante a uma ditadura.

Para Nery, o risco maior não é que o próprio presidente queira se perpetuar no poder, mas, sim, que ele favoreça a criação de um Estado policial.

Lean Daval Jr - 21.ago.2016/Reuters
Philippine President Rodrigo Duterte speaks during a news conference in Davao city, southern Philippines August 21, 2016. Picture taken August 21, 2016. REUTERS/
Em entrevista em Davao, onde foi prefeito, Duterte reafirma guerra contra drogas

"Duterte está progressivamente dando mais poder à polícia e mais espaço para que ela influencie na política. O risco é que ele promova como figura nacional o chefe da PNP", Ronald dela Rosa, conhecido como "Bato" (rocha), diz o analista.

"Há diferentes facções sob Duterte, interessadas no que vem depois dele."

Para Nery, uma oposição efetiva aos abusos do governo teria que passar pela Igreja Católica, única instituição que permeia todo o país: "Está em mais lugares que o Exército".