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MOBILIDADE SOCIAL

Condição de vida melhora, mas brasileiro dificilmente sobe de classe

Rafael Hupsel/Folhapress

DANIEL MARCONDES
EMMANUEL SARINHO
MARCO LEMONTE
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

Apesar da modernização da economia brasileira nas últimas décadas, a ascensão social no país ainda é rara. A melhora no nível de renda e na escolaridade não é suficiente para promover a pessoa para um estrato mais alto que a da geração anterior. "O filho de um agricultor trabalha numa loja. Ele ganha melhor, mas a posição dele na pirâmide social tende a ser muito parecida com a do pai. A probabilidade de a pessoa vir dos níveis baixos para os mais altos é muito pequena", diz o economista Francisco Ferreira, do Banco Mundial.

O caso da família de Leanderson Amorim, 39, (foto) é um exemplo do modo como ocorre a mobilidade social no Brasil. Nascido em Gentio do Ouro (a 470 km de Salvador), teve que se mudar, a exemplo de seus irmãos, para a casa de parentes em outra cidade, porque seus pais não tinham condições de criá-los.

Depois de viver com tios em Minas Gerais, Leanderson veio para São Paulo, onde terminou o ensino médio e trabalhou na área de cobrança em algumas empresas. Hoje é técnico de imagem e som e obtém uma renda adicional administrando um blog no qual promove a cultura nordestina.

Leanderson cria, com a mulher, dois filhos adolescentes no bairro paulistano da Penha (zona leste). Ambos os filhos são bolsistas em colégios particulares. Do grupo de sete irmãos, todos se encontram em situação melhor do que aquela que os fez sair de Gentio do Ouro.

A renda, a escolaridade e a ocupação de Leanderson e de seus irmãos são melhores em relação à geração anterior --o pai era zelador e a mãe era dona de casa. As posições relativas na distribuição de renda, entretanto, não são muito distantes entre as gerações.

Para Leanderson, a vida melhorou por causa da mudança para a cidade, mas ele ressalta que mesmo em Gentio do Ouro a realidade é diferente daquela de algumas décadas atrás. "Naquele tempo não tinha nada na cidade. Hoje tem estrada asfaltada, ônibus escolar, Samu. Antes muita gente saía de lá porque não tinha emprego, agora tem gente querendo voltar", diz.

Em pesquisa do Banco Mundial de 2013, o Brasil aparece como um dos países onde há menos oportunidades econômicas, isto é, menos chance de modificar sua posição social em relação ao resto da população (veja gráfico abaixo). No Brasil, a desigualdade de oportunidades é 16 vezes maior do que na Noruega.

Os dois fatores mais determinantes na possibilidade de ascensão social são a condição socioeconômica da família de origem e a escolaridade. O sociólogo Carlos Ribeiro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), ressalta que a qualidade das escolas é muito heterogênea. "Geralmente as famílias com mais recursos colocam os filhos em escolas de mais qualidade", diz.

Viver em ambiente urbano também ajuda a ascender. A cor da pele influencia, mas nos degraus mais altos da pirâmide social. "Não há diferenças consideráveis entre as probabilidades de um branco e um negro saírem da pobreza, mas os negros levam desvantagem para se inserir nos estratos mais altos", diz Ribeiro.

DE VOLTA À POBREZA

O economista Francisco Ferreira alerta para o risco de que as pessoas que saíram da pobreza no Brasil nos últimos anos voltem à condição anterior devido à crise econômica. Ele atribui a situação de vulnerabilidade de um grande número de brasileiros à maneira como se deu o crescimento no país, sobretudo a partir dos anos 2000.

Segundo um estudo do Banco Mundial de 2013, houve aumento do consumo, mas as pessoas não atingiram uma situação estável, já que em geral não adquiriram propriedades, como imóveis. Márcio Pochmann, professor de economia da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo -ligada ao PT-, tem opinião semelhante e afirma que é um equívoco descrever como "nova classe média" (ou "nova classe C") o contingente de trabalhadores que experimentou melhoria nas condições de vida nos anos recentes.

Em seu livro "Nova Classe Média?" (São Paulo, Boitempo, 2012, 128 págs., R$ 34), Pochmann afirma que "o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média". Segundo ele, trata-se, na realidade, de uma classe trabalhadora com melhor padrão de vida, mas ainda em situação precária por não conseguir poupar.

De acordo com Francisco Ferreira, para que as políticas de crescimento econômico no Brasil sejam mais eficazes, elas devem promover maior mobilidade social: "é necessário ser uma economia mais inclusiva, que ofereça mais oportunidades para que as pessoas participem e contribuam para esse desenvolvimento".