33ª Bienal de São Paulo

Mostra comandada por time de artistas vai de 7 de setembro a 9 de dezembro

Capítulo 6
Claudia Fontes: 'Pássaro Lento'

Obras refletem atrito entre natureza e cultura

Argentina Claudia Fontes cria espaço com instalações e vídeos sobre o fetiche pela velocidade no mundo moderno

'Nota al Pie', de Claudia Fontes, de 2018 (Tuca Vieira/Folhapress)

'Nota al Pie', de Claudia Fontes, de 2018 (Tuca Vieira/Folhapress)

Felipe Molitor
São Paulo

A quietude de uma sala de estar é abalada por uma grande árvore de jardim, que invade a casa e a atravessa vagarosamente, de ponta a ponta, até sair por uma janela do lado oposto.

A ação do vídeo "The Living Room", do artista holandês Roderick Hietbrink, mostra a desorganização destrutiva do ambiente de uma casa em estilo modernista, apontando para uma espécie de embate entre a natureza e a sociedade.

A obra foi a primeira escolhida pela artista argentina Claudia Fontes para a sua curadoria na 33ª Bienal e também o ponto de partida das conversas entre a artista e os outros oito selecionados.

Segundo Fontes, a proposta era criar um território comum na elaboração de projetos pensados para a mostra.

Sua seleção, "Pássaro Lento", envolve grandes instalações e vídeos de artistas com décadas de trajetória, como sua conterrânea Paola Sferco e a boliviana Elba Bairon, ocupando o segundo andar do pavilhão entre o vão e as janelas voltadas para o parque.

A disposição espaçada das obras procura integrar as paisagens interna e externa à experiência do visitante.

Daniel Bozhkov, artista búlgaro radicado em Nova York, já havia exposto no Brasil em 2007, na 6ª Bienal do Mercosul, organizada por Gabriel Pérez-Barreiro, também à frente da atual Bienal. Agora, ele cria uma performance com uma bailarina cega e um caracol peçonhento, "a metamorfose entre o picado e o envenenador", descreve o artista.

A artista argentina Claudia Fontes
A artista argentina Claudia Fontes - Pedro Ivo Trasferetti/Divulgação

A narrativa se desdobra numa instalação que conjuga pintura, escultura, vídeo e performance com uma dançarina da única companhia de balé para cegos na cidade.

Outro destaque da mostra é o trabalho do videoartista britânico Ben Rivers, que participa pela primeira vez de uma exposição na América Latina.

O cineasta rompe com a clausura da sala escura e instala sua obra num ambiente com aberturas para o exterior. Seu filme captura a morosidade de uma preguiça em um exercício complexo de sobreposições de película colorizada.

A obra da curadora é uma espécie de texto desmembrado. Pequenos fragmentos de cerâmica, partes de um todo indecifrável, estão etiquetados com palavras que, pinçadas num olhar corrido, podem ou não contar uma história. Na visão dela, o espectador deve se imaginar como pássaro lento em voo prolongado.