Prevenção e diagnóstico

Medicina a distância reduz a fila da consulta com especialista

Pacientes aguardam leito no corredor do Hospital Geral de Vitoria da Conquista Eduardo Knapp/Folhapress
Paciente espera no corredor no Hospital Geral de Vitória da Conquista, na Bahia

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Recursos da telemedicina têm sido usados na rede básica de saúde como forma de reduzir a fila por consultas com especialistas, um dos grandes gargalos no SUS.

Em São Paulo, por exemplo, o tempo de espera por um cardiologista é de oito meses. No Paraná, conseguir consulta com um reumatologista pode demorar três anos.

No programa telessaúde, plataforma online do Ministério da Saúde, profissionais da atenção básica esclarecem, remotamente, suas dúvidas e têm uma segunda opinião do especialista.

Funciona assim: após se cadastrar na plataforma, o médico pode ligar gratuitamente ou mandar mensagem online para uma central onde há uma equipe de teleconsultores (formada por médicos de família e especialistas de várias áreas) de plantão para atendê-lo em horário comercial-das 8h às 17h30, de segunda a sexta.

Uma dúvida comum, por exemplo, é sobre o tratamento do diabético que precisa de insulina. Médicos da atenção básica costumam não se sentir seguros na prescrição da droga e encaminham o paciente a um endocrinologista. Conseguir uma vaga, porém, pode levar meses.

Com o telessaúde, ele fala direto com o especialista que, após analisar o histórico do doente e eventuais exames, o orienta sobre a prescrição do medicamento e os cuidados com o paciente.

No Rio Grande do Sul, o serviço tem conseguido resolver 75% das dúvidas e evitado não só que os pacientes amarguem meses na fila de espera como também que se desloquem para outras cidades sem necessidade.

A iniciativa deu tão certo que têm atraído acadêmicos internacionais interessados no modelo. No último mês, o Telessaúde RS recebeu visitas de pesquisadores da Austrália e do Canadá.

"As dúvidas podem ser esclarecidas em tempo real. É como se o médico estivesse falando com um colega. Só que do outro lado será atendido por alguém munido com as melhores evidências científicas sobre aquele problema", diz o médico Erno Harzheim, coordenador-geral do Telessaúde RS e professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Na versão original, o atendimento era prestado só por meio da plataforma digital. Mas a adesão dos médicos era baixa. "Havia unidades que não estavam informatizadas, mas a principal queixa dos médicos era ter que parar o atendimento para preencher os dados na plataforma", conta Harzheim.

Eduardo Knapp/Folhapress
Paciente aguarda leito no corredor do Hospital Geral de Vitoria da Conquista (BA)
Paciente aguarda leito no corredor do Hospital Geral de Vitoria da Conquista (BA)

Em 2013, veio a solução: telefone gratuito. "Qualquer um hoje tem telefone. É imediato, ele liga e é atendido na hora. É um contato mais pessoal, melhor do que escrever numa plataforma."Antes, só com a plataforma, o serviço fazia em média 160 teleconsultorias ao mês. Agora, com o 0800 associado, faz 970.

Na avaliação do coordenador, a equipe tem capacidade de atender muito mais se houve mais procura. "Poderíamos fazer mais 2.000 teleconsultorias por mês via 0800", diz ele.

ENTRAVES

O uso dessa tecnologia esbarra em entraves como unidades sem acesso à internet e a sobrecarga ou desinteresse dos profissionais, segundo Harzheim.

O Ministério da Saúde afirma que está investindo na conectividade das unidades básicas de saúde.

O órgão diz que mais de 5.400 unidades já foram beneficiadas com internet banda larga e que a expectativa é chegar a 12 mil até o final deste ano.

Segundo Hêider Pinto, secretário de gestão do trabalho e da educação do Ministério da Saúde, as unidades de saúde também têm à disposição um software gratuito de gestão (e-SUS).

Entre outras coisas, essa tecnologia permite que o paciente tenha um prontuário eletrônico e reúna todo o seu histórico de atendimento. A ideia agora é somar a ferramenta ao telessaúde.

Para Pinto, o projeto de telessaúde ainda enfrenta a resistência dos médicos. "Para que o processo dê certo, ele precisa estar aberto ao diálogo. Mas existem aqueles que preferem continuar não sabendo cuidar do que pedir informação [ao teleconsultor]."