Antes da aula

Análise: valores e anseios da família devem guiar escolha da escola

CISELE ORTIZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é fácil escolher uma escola para crianças. E é importante uma escolha criteriosa, porque os anos iniciais podem definir hábitos, costumes e atitudes que permanecem a vida toda.

A escola precisa dialogar com o que a família almeja, pois essa afinidade promove uma educação mais integrada e harmoniosa, com menos conflitos, o que tranquiliza a criança e favorece sua adaptação e aprendizagem.

Uma rotina adequada deve prever, para a criança, espaço e tempo para jogos e brincadeiras com muita ênfase tanto nos jogos tradicionais como naqueles espontâneos, além de cuidados básicos de sono, alimentação, higiene e bem-estar e uso do espaço externo diariamente.

Desde o seu nascimento, as crianças desenvolvem uma verdadeira atividade de pesquisa: constroem hipóteses, tateiam, experimentam, testam, reajustam suas ações. Cada descoberta conduz a uma nova interrogação. Além da brincadeira, a cultura deve ser apresentada à criança em todas as suas nuances.

Crianças pequenas exigem espaços amplos, mas com possibilidades de cantos e nichos que os delimitem para atividades diversificadas. O espaço deve favorecer a movimentação e a independência e permitir a escolha. As salas devem ter fácil acesso aos espaços externos.

A escola deve estar preocupada também com a saúde. É fundamental respeitar a individualidade, as opções da família, mas também a coletividade. Cobrar a vacinação em dia, por exemplo, é proteger todas as crianças.

No dia a dia, é preciso proporcionar prazer às crianças na formação de hábitos como lavar as mãos, escovar os dentes, beber água, e não apenas o cumprimento de uma ação mecânica.

Privilegiar a socialização e os valores de solidariedade e companheirismo nas dificuldades do outro é mais um ponto essencial.

Quanto aos funcionários, a sugestão é que os pais observem a escolaridade deles, seu tempo médio de permanência na escola, se passam por formação continuada e qual é a proporção educador/criança para cada faixa etária.

A proposta é que haja um educador para cada cinco crianças de até um ano e meio, com até 15 crianças no grupo; um educador para seis crianças de até dois anos e meio, em grupo de no máximo 16 crianças; um para oito de até três anos e meio, tendo até 18 crianças no grupo; a partir daí, é possível ter um para dez, com 20 crianças no grupo.

Se possível, na visita à sala, os pais devem procurar observar como é a atitude dos educadores com as crianças: se encorajam, dão sugestões, respondem e atendem aos alunos. Incentivam a autonomia? Dão liberdade de escolha?

NEGOCIAR E EXIGIR

Para refletir: se a escola "é tudo o que eu gostaria, mas é muito cara", é importante considerar se dá para negociar. "Esta não é tão cara, também não é tão boa, mas percebo que está em processo de construção" Dá para apostar?

Nas escolas públicas, os pais devem colocar-se como sujeitos de direitos. Devem exigir qualidade, acompanhar a aprendizagem dos filhos.

Mesmo sendo pública, a opção por uma linha educacional existe e os pais devem considerar que a visão crítica que possam ter da escola e de seu projeto educacional propicia o seu desenvolvimento e não a deixa estancar no tempo.

Toda escolha implica em perda: a vida é um eterno processo de decisão. Mas as crianças são suficientemente fortes para compreenderem e aceitarem alguns de nossos tropeços.

Precisamos deixar que elas, à sua maneira também, façam suas escolhas -embora, no final, a competência e a responsabilidade sejam mesmo nossas.

Sucesso na empreitada!

CISELE ORTIZ é psicóloga, especialista em educação infantil, presidente (2014-16) da Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê