Policial militar assassinado em Joinville teve morte encomendada por facção
THIAGO AMÂNCIO
AVENER PRADO
ENVIADOS ESPECIAIS A JOINVILLE (SC)
Luis Roberto completou 16 anos em 28 de agosto, uma segunda-feira. Para presenteá-lo, seu pai, Joacir Roberto Vieira, 43, resolveu lhe comprar um tênis numa loja na zona sul de Joinville (SC), perto de sua casa e da base da Polícia Militar onde trabalha.
Era quase 19h, horário em que o cabo da PM começaria seu turno de trabalho, que se estenderia até as 7h da manhã seguinte. Joacir seria promovido a sargento em janeiro e faltavam seis anos para poder se aposentar. Depois disso, planejava morar com a esposa em Itapema, na praia, a 100 quilômetros dali.
Mas o plano foi interrompido quando dois bandidos acertaram, ainda de fora da loja de sapatos, dois tiros em suas pernas. Joacir chegou a tentar sacar a arma do coldre, sem sucesso. Caiu e tomou mais uma sequência de tiros nas costas. Morreu na hora.
O alvo não era ele, mas a Polícia Militar. O crime foi o resultado de uma "missão" dada a membros da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense): matar algum agente de segurança pública, segundo um advogado contratado pela família da vítima (o caso corre em segredo de Justiça). "Foi uma afronta da facção ao Estado", resume a delegada regional de Joinville, Tânia Harada. Cinco suspeitos estão presos, e outro morreu num confronto com a polícia.
Avener Prado/Folhapress | ||
Cemitério Nossa Senhora de Fátima, em Joinville, onde o policial militar Joacir Roberto Vieira foi enterrado |
Nascido em Canoinhas, a 220 quilômetros de Joinville, Joacir vem de família de policiais: seu pai e dois dos seus quatro irmãos seguiram a mesma carreira. Serviu o Exército por cinco anos em Brasília e há 19 anos atuava como PM em Joinville, onde um irmão já trabalhava.
"Eu sempre ficava preocupada. Policial é aquela coisa, sai e tu não sabe se volta. Eu queria que ele trocasse de bairro, porque nós morávamos muito próximos. Sei lá, a gente fica meio visado. Mas ele falava: 'Eu faço meu serviço direitinho, não tem porque eu temer'", conta a mulher de Joacir, a manicure Gisele Nazário de Almeida, 37.
O casal morava com outro filho, de seis anos (o mais velho era fruto de outro relacionamento), próximo à base onde Joacir trabalhava como armeiro.
"Ele era muito atuante, foi do policiamento tático, era muito conhecido", conta o colega de profissão Elisandro Lotin. Em 2016, 33% dos policiais assassinados tinham entre 40 e 49 anos, assim como Joacir, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. "O índice de policiais mortos é maior entre os mais velhos, porque eles são conhecidos nas redondezas", explica Lotin.
Depois do crime, Gisele foi morar num apartamento menor com o filho, próximo ao centro da cidade. Só recentemente, quase três meses depois da morte do marido, a mulher conseguiu voltar a trabalhar como manicure: desenvolveu síndrome do pânico e vive a base de medicamentos. "O que a minha vida virou agora? A gente perdeu nossa estrutura, tudo desabou", desabafa.
A criança dorme ainda hoje com uma camiseta que o pai usou na véspera do atentado. "Ficou o cheiro do pai, é o conforto dele", conta. Joacir foi enterrado com uma camiseta do personagem Capitão América por baixo da farda –era visto como o super-herói pelo filho, conta Gisele. "Meu filho cada vez que vai ao cemitério coloca a camiseta do Capitão América. É triste tu ver teu filho olhar para ti com os olhos cheios de lágrima e dizer que o coração dele dói de saudade."
Avener Prado/Folhapress | ||
A manicure Gisele Nazário, 37, luta para reconstruir a vida após a morte do marido, o PM Joacir Roberto Vieira |