O Castigador

Escândalo sexual ajudou presidente a se defender de rivais no Senado

A popularidade em alta e um vídeo com conteúdo explosivo permitiram ao presidente Rodrigo Duterte passar de alvo a acusador na política filipina.

Em setembro, depois de as Nações Unidas expressarem preocupação com o número crescente de mortes na guerra às drogas, a então presidente da comissão de Justiça e Direitos Humanos do Senado, Leila de Lima, abriu uma investigação sobre execuções.

Ex-secretária da Justiça e ativista de direitos humanos, a adversária de Duterte já tentava ligá-lo aos esquadrões da morte desde que ele era prefeito de Davao.

Noel Celis - 23.nov.2016/AFP
Philippine boxing icon and Senator Manny Pacquiao (L) talks to Senator Leila De Lima during the Senate drug hearing at the Senate building in Manila on November 23, 2016. Kerwin Espinosa, son of the late mayor Rolando Espinosa, was arrested in the United Arab Emirates last month and will face drug trafficking charges..
A senadora Leila de Lima conversa com seu colega, o boxeador Manny Pacquiao

Lima chamou para depor uma testemunha chave, Edgar Matobato, que confessou ter integrado o esquadrão da morte de Davao e acusou o filho de Duterte, Paolo, de usar drogas e ordenar assassinatos.

Em outubro, a senadora pediu à Corte Criminal Internacional (ICC, na sigla em inglês) que investigasse as execuções extrajudiciais no país.

Lima acusava o presidente Duterte de endossar os assassinatos com sua retórica agressiva.

A ICC (que atua em casos de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade) afirmou que o país poderia ser investigado se houvesse indícios de que as mortes são resultado de uma campanha sistemática do Estado contra cidadãos.

Reprodução
vídeo do New York Times em que Matobato diz ter feito parte do esquadrão da morte de Davao, que, segundo ele, era comandado por Duterte.
Entrevista em vídeo ao jornal "New York Times", na qual Matobato fala sobre mortes em Davao

Com maioria no Congresso, porém, Duterte afastou Lima e empossou um aliado, que apressou o encerramento das investigações por falta de provas.

O presidente começou então a pressionar a senadora, acusando-a de favorecer traficantes presos na prisão de segurança máxima Bilibid, por onde passa 75% do comércio de drogas ilegais do país, segundo o governo.

O presídio já frequentara o imaginário filipino em dezembro de 2014, quando se descobriu que grandes traficantes tinham lá dentro piso de mármore, banheiras jacuzzi, shows de striptease, champanhe, acesso a celular, computador e TVs de tela plana, segundo o Ministério da Justiça filipino.

Na ocasião, nenhum funcionário do governo foi condenado. Os casos foram desconsiderados por erros na condução das provas.

Czar Dancel - 24.nov.2016/Reuters
Ronnie Dayan (L), the former aide of Senator Leila de Lima, whispers to Philippines' police chief Ronald dela Rosa during a Congressional committee hearing on illegal drugs trade, inside the National Penitentiary, at the House of the Representatives in Quezon city,.
Ronnie Dayan (esq.), ex-motorista da senadora De Lima, fala com o chefe da polícia nacional, Ronald "Bato"

Neste ano, Duterte acusou Lima de receber dinheiro dos traficantes de Bilibid para sua campanha política. O intermediário, segundo o presidente, era o motorista e guarda-costas da senadora, Ronnie Dayan.

Com as negativas da adversária, o presidente anunciou em entrevistas ter provas em áudio e vídeo de que Lima tivera um romance com o motorista "quando todos sabiam que ele era um homem casado".

Depois de várias semanas, a senadora reconheceu o caso com o motorista, mas continuou negando envolvimento com traficantes.

Mas Dayan, preso depois de um mês escondido numa plantação de arroz, testemunhou contra Lima: disse que a senadora aceitou financiamento dos criminosos.

Denunciada pelo National Bureau of Investigation (o FBI filipino) por corrupção e envolvimento com tráfico, ela pode pegar 30 anos de prisão, se condenada.