Prisões lotam e famílias têm que alimentar detidos
Na Estação de Polícia número 1, responsável pela guerra em Tondo, quase 200 homens e mais de 30 mulheres se espremem nas celas, que podem ser vistas por quem aguarda na recepção.
No vidro que separa as duas áreas, um cartaz registra que a capacidade do lugar é para 45 homens e 15 mulheres.
No final da tarde, os detidos estão todos em pé, grudados uns aos outros, na expectativa do horário de visita noturno, que vai das 18h às 19h. Do lado de fora, parentes esperam carregando sacolas de plástico com comida.
As visitas ocorrem, oportunamente, nos horários das refeições —também das 6h às 7h e das 12h às 13h— e os presos dependem delas para se alimentar.
Às 18h, o agente começa a checar os documentos dos familiares e o conteúdo dos pacotes. Só podem entrar maiores de idade. Decotes, cigarros e celulares são proibidos.
Mas dinheiro entra, e passa de fora para dentro e de dentro para fora das grades. Um dos presos é mantido no corredor e se encarrega de entregar bebidas e varrer o chão.
Uma visitante que parece ter 30 anos e 40 kg chega segurando uma sacola magra de plástico cor de rosa. Mostra ao agente um crachá de representante da Avon.
"Isto não é uma identidade válida. Onde está sua identidade válida?". "Não tenho", responde a mulher. Ela não é uma exceção. Em 2010, segundo a Unicef, 10% das crianças filipinas não haviam sido registradas registradas. A porcentagem cresce com a idade dos habitantes.
A carteirinha da Avon é motivo de troça para o agente e os policiais da recepção, que ignoram a presença da mulher. Barrada e sem saber como reagir, ela espera do lado de fora por 20 minutos, sem receber atenção. No final, vai embora com o saquinho de alimentos.
Noel Celis - 21.jul.2016/AFP | ||
Presos se espremem para dormir na cadeia municipal de Quezon |
Nenhum dos homens que lotam as celas foi julgado. Eles esperam que um juiz decida o seu destino, que na maior parte das vezes será a cadeia municipal.
A decisão, no entanto, pode durar até um mês, segundo o policial que atendia na recepção naquele dia, e o prazo tem se alongado porque as prisões acontecem em ritmo redobrado.
"Minhas celas estão tão lotadas que no último dia 10 de outubro dois presos morreram por falta de ar", diz à Folha o comandante da PS1, Redentor Ulsano, ao comentar a produtividade de sua equipe.
"Dupliquem seus esforços, tripliquem se necessário. Não vamos parar até que o último traficante, o último financiador tenha se rendido, esteja atrás das grades ou embaixo do solo", pediu Duterte à polícia em seu discurso à nação, ao tomar posse, em julho de 2016.
A resposta foi exponencial. Nos dois primeiros meses da guerra dutertiana, 5.000 homens haviam sido detidos por ligação com drogas. O número subiu para 16 mil no mês seguinte e agora já ultrapassa os 35 mil —no ano passado, a agência antidrogas havia prendido 10.868 pessoas em todo o primeiro semestre.
"As condições são cada vez mais inumanas, mas presos têm me dito que ainda preferem as celas com o triplo da capacidade, que as ruas, onde tantos estão sendo mortos", relata Broderick Soncuaco Pabillo, 61, bispo auxiliar de Manila e um dos principais críticos da política policial do presidente Duterte.
O sistema penitenciário filipino, com sete prisões, já está 60% acima de sua capacidade, de 41 mil homens. O presídio de segurança máxima New Bilibid, em Manila, tem 14 mil presos onde deveria haver 6.000.
Nas cadeias municipais, a situação não é melhor. Em Quezon, por exemplo, na região metropolitana de Manila, instalações construídas para 800 presos abrigam hoje 4.000 —60% deles por envolvimento com drogas, segundo a rede de TV americana CNN, que filmou as condições precárias do local
"Faltou planejamento, o governo não se preparou direito para essa guerra", opina Matias (nome fictício), motorista de Uber e ex-usuário de drogas —sem nunca ter sido viciado, diz ele.
Damir Sagolj - 7.out.2016/Reuters | ||
Suspeito algemado com lacre plástico em operação antidrogas em Manila |