A Sociedade

Senso comum se sobrepõe ao senso crítico na internet, diz sociólogo

DANIELA MARTINS
J. MARCELO ALVES

DA EDITORIA DE TREINAMENTO

As redes são um tesouro de acesso à informação, mas existe uma outra visão sobre o tema: a percepção de que, nelas, as pessoas estreitam sua visão de mundo e consomem só aquilo com o que já concordam.

Quando a web surgiu, teóricos como o americano Howard Rheingold, 69, imaginavam que a web promoveria a democratização total de informações e que a exposição às diferentes interpretações sobre um mesmo assunto levaria à formação de cidadãos com senso crítico mais apurado.

Contudo, pesquisas atuais mostram que as pessoas afunilam cada vez mais o conteúdo que querem consumir e ao qual aceitam se expor, afirma Marcelo Coutinho, 52, sociólogo, professor da FGV e consultor de estratégia digital.

Esse fenômeno, que Coutinho chama de "efeito bolha", explica a radicalização das opiniões nas redes. "O senso comum se impõe sobre o senso crítico com mais intensidade nas redes, talvez refletindo um sentimento que estava socialmente latente e sem espaço nos veículos de comunicação tradicionais", declara.

A lógica de mercado -manter o usuário o maior tempo possível engajado- gera algoritmos que mostram ao internauta cada vez mais aquilo que ele gosta de ver. Nesse sentido, furar a bolha seria o Santo Graal da influência digital.

Isso aconteceu em 2015 com o "Desafio do Balde de Gelo", uma campanha sobre a esclerose lateral amiotrófica, doença degenerativa pouco conhecida. A brincadeira, que propunha que cada um gravasse um vídeo em que despejava gelo sobre a própria cabeça, viralizou mundialmente. Os vídeos deram visibilidade à doença, ampliaram o círculo de pessoas interessadas pela causa e atraíram novos recursos para pesquisas.