Família

Irmãos se dividem entre torcida e busca por vaga

DE SÃO PAULO

Diego Hypolito acaba de conquistar mais uma medalha. Está feliz com seu resultado, falando com jornalistas, exaltando a boa fase, quando interrompe uma frase no meio: "Podem me dar licença? Preciso ver a minha irmã". E sai, não só para ver, mas também para torcer, gritar, incentivar.

Aconteceu na etapa da Copa do Mundo de ginástica em São Paulo, em maio. Mas poderia ser em qualquer outra competição.

Diego, 30, e Daniele Hypolito, 31, são dois dos principais nomes da ginástica artística brasileira há mais de dez anos.

E sempre estiveram assim, juntos. Fazem parte de um grupo de atletas que vai aos Jogos do Rio em família."Fico tenso quando ela compete. Sempre torço, quero que ela saiba que estou ali. A Dani sempre foi um exemplo para mim. As conquistas dela são como se fossem minhas também", diz Diego.Os ginastas podem torcer um pelo outro sem medo.

Mas há irmãos que não dividem apenas a paixão pelo esporte, sonham também com a mesma vaga na Olimpíada.

É o caso da família Almeida. Thaisa, 26, Luiza, 24, Manuel e Pedro Tavares de Almeida, 22, são cavaleiros de hipismo adestramento e disputam um dos cinco lugares na seleção do Brasil no Rio.

Eles garantem que não há concorrência entre eles, apenas desentendimentos por conta de luvas ou chicotes "roubados", como qualquer irmão discutindo por causa de roupas em casa.

Branca e Bia Feres, 28, do nado sincronizado, conseguiram atingir o feito juntas. As gêmeas disputarão seus primeiros Jogos Olímpicos.

"A vantagem [de estar coma a irmã na equipe] é ter alguém em quem você pode confiar 100% e alguém que é mais sua amiga do que companheira de equipe, porque rola competição dentro das equipes sempre", diz Branca.

"[Se uma das duas não estivesse convocada] Com certeza, afetaria a outra. Mas saberíamos separar e ficar feliz uma pela outra", completa.João Victor Oliva, 20, do hipismo adestramento, também tem um irmão que divide com ele a paixão pelo esporte, Antonio.

Mas quando o assunto é a família, o primeiro nome a ser lembrado é outro. Os dois são filhos de uma das principais jogadoras de basquete da história: Hortência. "Cresci ouvindo as histórias sobre a minha mãe. Ela é uma inspiração para nós", afirma João.

Hortência sempre incentivou o filho a praticar esportes e diz ter respirado aliviada por ele não ter escolhido seguir seus passos no basquete. "Seria uma pressão muito grande", afirma a mãe, que será torcedora no Rio.

NA ALEGRIA E NA LUTA

Em algumas famílias com atletas na delegação brasileira, esporte vem de berço. Em outras, é o que une.Aline Silva e Flávio Ramos são um exemplo. Ele, ex-judoca, abdicou da carreira para ajudar a mulher. E pode dizer que já conquistou uma prata em Mundiais.

"Eu subi de categoria [até 75 kg] e fiquei mais pesada que as outras meninas que treinavam comigo. Isso acabava dificultando meu treinamento", relembra Aline.

"Meu marido, que na época era namorado, treinava de vez em quando comigo e tudo sempre fluía muito bem. Como não existia, e ainda não existe, no Brasil nenhuma outra mulher do meu tamanho e com o meu peso para treinar comigo, propus para ele virar meu sparring", conta.

Além de trocar golpes com a mulher, Flávio assiste às lutas dela e de suas adversárias para analisar erros e acertos, pontos fortes e fracos. A luta acabou entrando de vez no casamento. "Ele está mais crítico e fica me cobrando em casa mesmo. Pode parecer chato, mas eu sei que essa cobrança também é para o meu bem", diz a atleta, que terá o marido na comissão técnica da seleção durante a Olimpíada carioca.

A ligação da família com a carreira não para no marido. A mãe de Aline, Lídia, cuida das contas, da agenda e dos contratos da filha. "Ela é fundamental como minha assessora, enquanto ela cuida da minha vida pessoal, eu cuido da de atleta."