Corpos

Tamanho é documento

DE SÃO PAULO

Quem vê Flavia Saraiva, 16, andando por aí, sem uniforme, em uma dia de folga, pode até confundi-la com uma criança. Com 1,38 m, 35 kg, ela parece frágil, vulnerável até. Só parece. É exatamente esse corpo pequeno sua grande arma, que faz dela um dos principais nomes da ginástica artística do Brasil na equipe dos Jogos do Rio.

"Na ginástica artística, atletas mais baixos são mais estáveis, logo, se equilibram mais facilmente nos momentos de aterrissagem. Além disso, conseguem girar com mais eficiência em torno do próprio centro de gravidade, o que facilita os movimentos aéreos", explica Irineu Loturco, diretor técnico do NAR (Núcleo de Alto Rendimento de São Paulo).

Flavia tem como especialidade a trave, aparelho em que as ginastas fazem acrobacias equilibradas em uma barra com 10 cm de largura. Qualquer falha é queda na certa.

"Dizem que a gravidade ajuda quem é mais baixinho. Mas não acho que minha altura seja uma grande vantagem. Há meninas na seleção, que são mais altas, mais magras, mais fortes, cada um atem seu talento", diz Flavia.

Em esportes de contato, às vezes a altura do rival parece ser o problema. Sarah Menezes, 26 anos e 1,54 m, tem dificuldade para lutar com judocas mais altas do que ela.

Os braços mais curtos dificultam a pegada no quimono nas adversárias. Por outro lado, ela não sente dificuldade em usar as pernas, apesar de elas também serem curtas.

"Em geral, os atletas mais altos têm mais facilidade para usar as pernas, porque são mais longas, mas tudo é adaptável", afirma a técnica Rosicleia Campos, da seleção feminina de judô na Rio-2016.

Na ginástica artística masculina, o tamanho das pernas também é importante. Atletas que fazem cavalo com alças, por exemplo, tendem a se dar melhor se tiverem pernas longas, por conta dos movimentos exigidos. Já nas argolas, pernas menores dão vantagem porque são mais fáceis de serem sustentadas no ar.

É o caso do campeão olímpico Arthur Zanetti, 1,56 m.

GIGANTES

No outro extremo da delegação brasileira, o dos grandalhões, está Fernando Reis: 1,87 m e 140 kg.

O atleta de 26 anos precisa deste corpanzil todo para conseguir executar movimentos também precisos, mas com uma tremenda sobrecarga em seu corpo.

Ele já chegou a levantar 427 kg na combinação das provas de arranque e arremesso do levantamento de peso (192 kg e 235 kg, respectivamente).

"Comecei jovem, então foi um processo natural de desenvolvimento físico. Perto dos 20 anos, começou o processo de 'engorda', quando tive de passar da categoria até 105 kg para superpesado [mais de 105 kg]", diz.

"Esse processo foi forçado para atender às minhas necessidades físicas e me dar um alicerce para levantar mais peso", explica.

No Pan de 2007, no Rio, o brasileiro competiu na categoria até 94 kg e levantou 304 kg no total combinado (140 no arranque e 164 no arremesso). Nos Jogos do ano passado, em Toronto, ganhou a medalha de ouro ao atingir a melhor marca de sua carreira: 427 kg.

Mudar o corpo não foi fácil e exigiu uma alteração alimentar. Ele ingere até 11 mil calorias por dia dependendo da fase de treinos. E mesmo assim tem mais dificuldade para ganhar peso por conta da rotina pesada de treinos.