Clube social

Pinheiros: esporte para atletas e sócios

MARIANA LAJOLO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando o nadador Cesar Cielo, ainda um garoto de 15 anos, decidiu defender as cores do Pinheiros, tinha um argumento irrefutável: treinar ao lado de Gustavo Borges.

Aí começou a passagem de bastão. O veterano, dono de quatro medalhas em Olimpíadas, foi inspiração e incentivo para o novato traçar o caminho que o levou ao inédito ouro seis anos depois.

Só o exemplo, no entanto, não basta. E como Cielo, diversos atletas -ou seus pais- procuram o clube há anos em busca de uma equação: boa estrutura somada a profissionais competentes e esportistas de alto nível.

O Pinheiros enviou seus primeiros atletas aos Jogos em 1932. Os pinheirenses já conquistaram dez medalhas olímpicas ou quase 10% de todos os pódios do Brasil na história. Em Londres-2012, 22 atletas do clube estavam em ação na delegação de 259 pessoas.

"O alto rendimento incentiva a formação. O sucesso é esse. Os sócios usufruem de toda nossa estrutura, mas procuram o clube mesmo pelo esporte. Querem dar uma atividade, uma formação extra para os filhos", diz o diretor de esportes, Arnaldo Pereira.

No início, pode ser só brincadeira. Mas para muitos acaba se tornando coisa séria.

A esgrimista Bia Bulcão, 22, é um exemplo. Ela é fruto do CAD (Centro de Aprendizagem Desportivo), projeto que visa mostrar de forma lúdica e recreativa 12 modalidades para sócios de 3 a 11 anos.

Após o primeiro contato, as crianças recebem indicações de quais esportes casam melhor com suas habilidades.

Bia foi direcionada para atletismo e handebol. Mas, como estudava em período integral, só conseguia chegar a tempo da aula de esgrima.

"Gostei de cara. Depois da segunda ou terceira aulas, o técnico já disse à minha mãe que eu ia longe." Hoje, ela busca vaga na Rio-2016.

Bia integra um universo de 4.663 atletas, da formação aos profissionais, cerca de 90% deles associados. Destes, só 296 são de alto rendimento.

Mas não é necessário ser sócio para defender o Pinheiros. A maratonista Adriana Aparecida da Silva nem podia correr quando foi procurada por Cláudio Castilho. O treinador queria apostar nela, mesmo com seu tornozelo operado. O clube aceitou.

"Entrei no Pinheiros de muleta", afirma a atleta.

Hoje, divide a pista com sócios que gostam de correr. Duas raias são separadas para treinos de alto rendimento. Nas demais, a corrida é livre.

"Não temos problema. Os amadores gostam de correr com a gente e se espelham nos nossos treinos", diz.

A convivência, no entanto, nem sempre é 100% harmoniosa. Certa vez, a diretoria de natação teve de chamar um médico para explicar qual seria a melhor temperatura para a água da piscina. Os atletas queriam fria, os sócios, mais quente.

O dinheiro dos associados banca a maior parte do investimento. Em 2015, foi 60% dos R$ 48 milhões gastos em 22 modalidades (16 olímpicas). Os outros 40% saíram de patrocínios, projetos via lei de incentivo fiscal e convênios.

Adriano Vizoni - 25.fev.2016/Folhapress
Atletas paraolímpicos treinam no clube
Atletas paraolímpicos treinam no clube

O apoio ao esporte olímpico é antigo. Desde a fundação, em 1899, remo, natação e atletismo eram incentivados. Havia uma piscina delimitada dentro do rio que tem o mesmo nome do clube e hoje corta a cidade poluído. A equipe atual de natação usa blocos de largada oficiais, como os usados na Olimpíada.

"Quando cheguei, procuravam o Pinheiros porque tinha ônibus de graça para competições, uniforme, hotel e alimentação, hoje itens básicos", diz Alberto Pinto, técnico principal da equipe de natação. Entre idas e vindas, ele está no clube há 25 anos.

"Hoje, há estrutura e pessoas que procuram se destacar no que fazem. Isso acaba atraindo mais pais e atletas."

Atrai até gente do outro lado do mundo. O Pinheiros será a base da China para os Jogos. Eles pagarão R$ 14 milhões para usar as instalações do clube. O país é uma potência esportiva e quer ser o melhor da Olimpíada. Começou escolhendo uma fonte de medalhas para se preparar.