YURI GONZAGA
DE SÃO PAULO
Antes de existir internet, existia o silêncio.
Essa adaptação dos versos da canção de Arnaldo Antunes é verdadeira em muitas das frentes mais importantes da nossa comunicação hoje, tanto on-line quanto off-line.
Não se ouviu falar em WhatsApp antes de 2009, de Facebook antes de 2004 e de Google antes de 1998.
E nesta sexta-feira (1º), faz exatos 20 anos que uma conexão à rede mundial de computadores –bem vagarosa, vale dizer– foi oferecida comercialmente pela primeira vez no Brasil."Depois de muita polêmica com o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Embratel inaugura hoje o acesso comercial à internet, maior rede de comunicações por computador do mundo", informava reportagem da Folha naquele dia.
À época, 250 consumidores foram selecionados entre cerca de 15 mil candidatos pela Embratel para testar a tecnologia. Hoje, há mais de 100 milhões de usuários, segundo as estatísticas mais conservadoras.Em 9 de julho de 1995, dois meses depois da chegada da internet brasileira ao público em geral, a Folha pôs on-line suas primeiras notícias, em uma parceria da Agência Folha com a Redação do jornal impresso intitulada a princípio Folha Web.
ESTRUTURA
A internet já havia sido experimentada dentro da comunidade acadêmica e também entre funcionários de alguns órgãos do governo. Outras tecnologias de comunicação entre computadores, como a Bitnet, também haviam sido experimentadas. "O problema da internet em relação às outras é que é uma rede interativa", diz Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) e membro do CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil), este o órgão responsável pelo registro de websites que terminam em ".br" que foi fundado também em maio daquele ano.
O problema, explica, é que a característica velocidade dessa tecnologia gerava demanda superior à então comportada pelos fios telefônicos de cobre.
"Então houve uma corrida para expandir as linhas, e isso era antes da web [um dos protocolos de troca de dados da internet, que é usado pelos sites e navegadores]. Quando apareceu a web, então, falaram 'agora é que vai atolar de vez'."
LENTIDÃO
O limite das conexões discadas, também conhecidas pelo seu nome em inglês, dial-up, era de 56 kbps, suficiente para baixar uma imagem de 100 kbytes em 14 segundos; uma canção de 5 Mbytes em 12 minutos; e um filme de 700 Mbytes em um dia e quatro horas. Pagando por minuto.
"Você entrava num site e um banner [anúncio superior] começava a carregar. Dava tempo de ir tomar banho, pegar um café, voltar e ainda não tinha aparecido", lembra Getschko, pouco saudoso. Houve gargalos –e pode-se argumentar que ainda há–, mas também vieram investimentos, a fibra ótica, a exploração econômica da rede, a telefonia móvel.
Muitos fatores conspiraram para que o Brasil se tornasse um país de conectados –não completamente, e muito menos livre de problemas nesse processo. A conexão média no Brasil hoje é de 3 Mbps, segundo o relatório do último trimestre do ano passado da Akamai, o mais completo sobre infraestrutura de internet global. Essa velocidade é 54 vezes superior à máxima de 1995, mas só suficiente para deixar o país na 89ª colocação no ranking das redes mais velozes.
O padrão 4G, que chega a velocidades centenas de vezes superiores às da conexão discada e maiores até que a banda larga residencial, só que sem usar cabos, já é representativo no país, com 7,8 milhões de linhas ativas em janeiro último, segundo a Anatel –mas só 2,8% do total.
Este especial on-line conta capítulos dessa tortuosa narrativa e a trajetória de alguns dos principais personagens dos primórdios da internet brasileira. Continue conectado.