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A história que a rua escreveu

Músicos de baianos uniram ideias da África, do Recôncavo e do Rio

Clarindo Silva, que mantém a Cantina da Lua, principal reduto de samba do Pelourinho, em Salvador Sérgio Pedreira-16.mar.12/Bahia Foto/Folhapress
Clarindo Silva, que mantém a Cantina da Lua, principal reduto de samba do Pelourinho, em Salvador

CLAUDIO LEAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SALVADOR

A rota do samba traçada pelo baiano Roque Ferreira, 69, harmoniza todas as contribuições da África, da Bahia e do Rio de Janeiro.

"O samba veio com os negros bantos e se originou do batuque. A Bahia engravidou e pariu. Mas quem embalou o samba foi o Rio. Se não fosse o Rio, o samba tinha acabado", diz o pesquisador e sambista, gravado por Clara Nunes e Maria Bethânia.

Autodefinindo-se como tradicionalista ("modernidade é para aplicar a televisor, carro e roupa"), Roque manifesta seu encanto pela região do Recôncavo -de onde Tia Ciata partiu grávida de samba- e elogia os dois grupos que ajudam a defender a cultura originária.

São Francisco do Conde (cidade a 60 km de Salvador) é sede do Samba Chula Filhos da Pitangueira. Já em Cachoeira (120 km da capital), o Grupo de Samba de Roda Suerdieck é comandado pela sambadeira Dona Dalva Damiana, 89.

Os grandes sambistas formados em Salvador somaram essas influências do Recôncavo àquelas do samba aconchegado no Rio e trazido pelos aparelhos de rádio.

Na entrada do bairro histórico do Pelourinho, a Cantina da Lua, criada em 1945 e há mais de 40 anos liderada por Clarindo Silva, tornou-se o principal reduto boêmio dos sambistas Batatinha, Riachão, Panela, Tião Motorista, Ederaldo Gentil, Walmir Lima, Edil Pacheco e Claudete Macedo.

Filho de Oxalá, Clarindo sempre se veste de branco e, de seu ponto no terreiro de Jesus, sente-se responsável por todo o Pelourinho. As paredes da cantina são forradas por placas em homenagens aos frequentadores célebres. No disco "Humanenochum" (2000), produzido por Paquito e J. Velloso, Riachão, 95, gravou uma homenagem ao bar: "Até parece que se está no céu/ E a Lua com seu véu/ Tão lindo a clarear".

BATATA FRITA

A pouco mais de um quilômetro do terreiro, esse time de sambistas comia pratos populares no restaurante Porto do Moreira, fundado em 1938 e ainda em atividade no largo do Mucambinho.

Chico e Antonio Moreira, filhos do português José, puseram na parede a fotografia de uma roda dos bambas. Antonio se lembra como seu pai saudava Batatinha: "Lá vem Batata Frita!".

Situado no bairro do Garcia, o restaurante Aconchego da Zuzu é um dos espaços que unem música e gastronomia.

"O movimento de samba anda bem forte, embora os grandes sambistas, como Batatinha, Panela e Ederaldo tenham morrido", atesta Nelson Rufino, 74, autor dos sucessos "Todo Menino É um Rei" (com Zé Luiz) e "Verdade" (com Carlinhos Santana). "Você chega no Garcia, toma um banho de samba."

O compositor cita o trabalho do Botequim São Jorge, no Rio Vermelho, e do grupo Botequim, formado em 2006, que se apresenta no largo de Santo Antonio (na última sexta-feira do mês) e no pátio da igreja situada logo em frente (na segunda sexta-feira).

"Pra ver uma roda de samba em Salvador era difícil. Agora está disseminado em outros bairros, como Boca do Rio e Itapuã", diz o cavaquinista Roberto Ribeiro, 35. Uma nota de silêncio. Sem alvará de funcionamento de som, o Bar Toalha da Saudade, dos filhos de Batatinha, deixou de realizar há mais de um ano as rodas com os clássicos do mestre, que cantava: "É proibido sonhar/ Então me deixe o direito de sambar".

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