Imagem de Santo Amaro é preservada desde 1552 em igreja
LEONARDO NEIVA
MANOELA MEYER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma pequena imagem do santo italiano Amaro -protetor dos carroceiros, carregadores e fabricantes de velas- deu origem ao nome do tradicional bairro da zona sul de São Paulo. A escultura foi doada no ano de 1552 pelos então donos das terras do local, João Paes e Suzana Rodrigues, à capela da região.
"A catedral de Santo Amaro é o grande marco de nossa história", explica Carlos Fatorelli, pesquisador da trajetória do bairro.
A figura do santo é preservada até hoje em um cofre dentro da catedral. Quem visita o local tem acesso apenas a uma réplica da imagem, que fica exposta dentro do edifício.
Para oficializar a existência do então pequeno povoado de Santo Amaro, o padre José de Anchieta rezou uma missa em 1560 à margem do rio Jeribatiba, hoje rio Pinheiros. Antes disso, a área era ocupada por índios caiubi.
Em 1737, foi inaugurado o primeiro caminho que ligava Santo Amaro à cidade de São Paulo. A expansão começou em 1829, com a instalação de uma colônia de imigrantes alemães. Em 1832, Santo Amaro tornou-se um município independente.
"Os lotes que esses imigrantes receberam eram muito pequenos. Tinham que tirar seu sustento de uma área de 2.000 m²", diz a historiadora Silvia Cristina Siriani.
A linha férrea de São Paulo, que ia da atual avenida Liberdade até o bairro, foi inaugurada em 1886 pelo imperador D. Pedro II. Em 1913, ela foi substituída por uma linha de bondes, que existiu até 1968 -a última da cidade a ser desativada.
Santo Amaro foi declarado bairro da cidade de São Paulo apenas em 1935. Segundo Fatorelli, não se sabe ao certo o motivo para a anexação.
Uma das explicações é a de que o município tenha se anexo à São Paulo como pagamento de uma dívida com a capital. Outra é de que havia interesse em explorar os recursos naturais existentes na região.
A partir da década de 1950, a zona teve uma forte industrialização, com a chegada de usinas siderúrgicas, laboratórios e fábricas de empresas como a Companhia Metalúrgica Prada e a japonesa Semp Toshiba. As indústrias ocuparam espaços antes destinados à moradia de imigrantes.
Parte da mão de obra da cidade, constituída principalmente de migrantes nordestinos, saiu das plantações agrícolas para trabalhar no novo polo industrial do bairro -na época o maior de SP.
A partir da década de 1980, muitas indústrias deixaram Santo Amaro para ocupar regiões mais afastadas.
Ainda assim, a herança nordestina permanece forte no bairro. No Largo 13 de Maio, principal centro de comércio popular da região, é possível encontrar lojas com itens variados da cultura do Nordeste do país.
Com o tempo, o bairro se verticalizou, e grandes escritórios e sedes de empresas se estabeleceram por ali, à margem do rio Pinheiros.
BORBA GATO
Em 1963, Borba Gato, um dos mais célebres bandeirantes da história do Brasil, ganhou uma homenagem do artista Júlio Guerra, nascido em Santo Amaro: uma estátua em mosaico de dez metros de altura situada em uma praça na entrada do bairro.
Desde sua inauguração, a obra foi alvo de polêmicas. Muitos questionaram a homenagem ao bandeirante, conhecido pela captura e massacre de índios durante as expedições que empreendia pelo interior do país.
"Quem chega a Santo Amaro é recebido por esse homem com a garrucha na mão. Não é exatamente uma boa recepção", diz Fatorelli.
Ao lado da estátua, um conjunto de quatro painéis em mosaico, também criados por Júlio Guerra, relembra cenas importantes do bairro, como a doação da imagem do santo e a chegada dos primeiros imigrantes.
DE MATADOURO A CINEMATECA
Reprodução | ||
Foto sem data mostra Cinemateca na época em que era matadouro, de 1887 até 1927 |
Os galpões restaurados que abrigam a Cinemateca desde 1998 funcionaram como matadouro até 1927.
Inaugurado em 1887, o local foi o principal responsável pelo abastecimento de carnes bovina e suína em São Paulo, escoadas graças aos trens que entravam no local. Os resquícios dos trilhos podem ser vistos até hoje.
A chegada do matadouro ampliou a oferta de emprego, atraiu outras atividades e transformou a paisagem rural da região em importante núcleo comercial.
No entanto, após 40 anos, o lugar já não tinha infraestrutura suficiente para suprir a demanda de uma São Paulo em crescimento. Faltava água, espaço para descarte de lixo e rede de transporte.
Após a desativação do matadouro, o complexo teve várias outras funções, que alteraram parte de sua arquitetura originária, baseada nos edifícios industriais ingleses.
Apenas na década de 1980 foi iniciado o processo de tombamento do local, que hoje é tombado pelos governos municipal e estadual.
Atualmente, o espaço, localizado no largo Senador Raul Cardoso, 207, abriga o maior acervo de obras audiovisuais da América Latina e tem exibições de filmes e exposições temporárias.
A programação pode ser vista na página www.cinemateca.gov.br.
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VEJA CURIOSIDADES HISTÓRICAS SOBRE A REGIÃO
NORTE-SUL
A primeira viagem oficial de metrô do país foi feita em 17 de setembro de 1974, entre Jabaquara e Vila Mariana, passando por sete estações da atual linha 1-azul.
PASSEIO ROLANTE
Na época, a passagem custava 1,50 cruzeiros novos, os trens passavam com intervalo de oito minutos, e circulavam 2.500 passageiros por dia. "Muitas famílias vinham só para passear de escada rolante, desciam e subiam várias vezes", conta o analista do Metrô Carlos Soares.
RUA HITLER
Durante a década de 1920, uma das vias do atual bairro de Campo Belo levava o nome do líder nazista Adolf Hitler. A homenagem, que hoje soa absurda, foi feita devido à grande quantidade de imigrantes alemães na região, que vinham ao país fugindo das difíceis condições da Europa nos séculos 19 e 20.
OUTRAS HOMENAGENS
Santo Amaro também abrigava as ruas Conde Zeppelin e Hindenburg, que homenageavam, respectivamente, o inventor do dirigível e o último presidente alemão antes de Hitler. Todas elas foram renomeadas nos anos 1930.
ACLIMAÇÃO À FRANCESA
O parque da Aclimação já foi um espaço de exposição de gado leiteiro, em 1892. Na época, o médico Carlos José Botelho comprou a área com intenção de reproduzir o Jardin D'Acclimatation, de Paris, que abrigava espécies exóticas.
PEREGRINAÇÃO
Desde 1920, integrantes da Associação dos Cavaleiros do Senhor Bom Jesus de Pirapora partem de Santo Amaro a Pirapora do Bom Jesus (60 km de SP), para demonstrar sua fé. A tradição se repete todos os anos até os dias atuais.