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Aviões incomodam, mas não inibem novos prédios perto de Congonhas

Raquel Cunha/Folhapress

TAÍS HIRATA*DE SÃO PAULONa sala de estar do empresário Edwaldo Sarmento, 63, no Jabaquara, o barulho de turbinas dá a impressão de estar dentro de um avião em plena decolagem. A eletricidade falha várias vezes, as luminárias balançam."A gente acaba se acostumando", diz ele, que é vizinho de Congonhas há 20 anos e presidente da Amea (associação de moradores do entorno do aeroporto).Assim como Sarmento, as incorporadoras parecem não se inibir com o barulho dos aviões. Perto do local, nos distritos de Campo Belo e Jabaquara, pelo menos 56 novos empreendimentos foram lançados nos últimos cinco anos, segundo levantamento da consultoria Geoimovel.Para muitos moradores, a localização é um atrativo. O empresário Lindomar Araujo, 46, viaja cinco vezes por mês a trabalho. Recentemente, ele comprou um apartamento no Winner Family Club (a partir de R$ 783,5 mil), no Jardim Aeroporto.O bairro faz jus ao nome: Araujo calcula quinze minutos entre Congonhas e o edifício, da incorporadora Costa Hirota. "É muito perto, não tem trânsito algum. Dá para ir andando", diz. No Air Campo Belo (R$ 656.100), que fica a dez minutos a pé do aeroporto, os moradores são, em sua maioria, executivos de outros Estados e funcionários de Congonhas.BARULHO AO LADO*Sarmento já se tornou especialista na movimentação das aeronaves: "As mais barulhentas são as particulares, que aparecem mais nas sextas e aos finais de semana. Os pousos também são piores do que as decolagens".Outra queixa é a poluição. "Quando limpamos a calha do telhado, a água sai preta."Já Araujo afirma que o ruído não é tão intenso do outro lado do aeroporto, em Campo Belo. "Isso se dá pela posição da pista. Os aviões não passam tão perto lá", diz.Para Igor Freire, gerente de vendas da Lello Imóveis, apesar do distrito de Jabaquara ser mais atingido pelo ruído, isso não chega a afetar o preço dos imóveis. "O que existe é uma demora maior para vender. Os compradores, na hora da visita, vão à sacada e esperam passar um avião."O valor do m² dos lançamentos em Campo Belo é R$13.090; em Jabaquara, R$ 8.550. Os distritos são alternativas mais baratas para executivos que trabalham perto da av. Berrini, mas não querem arcar com o alto custo de bairros mais nobres, como Itaim Bibi ou Moema."O aeroporto em si não melhora nem desvaloriza a região. Depende para quem o empreendimento foi pensado", diz Alessandro Francisco, professor da pós-graduação em negócios imobiliários da Faap. "O que as pessoas procuram hoje é qualidade de vida. Se é um empresário que usa o aeroporto, morar perto vai melhorar a vida dele. Já para uma família pode não ser tão atrativo."Congonhas tem 270 pousos e decolagens por dia, entre 6h e 22h25, segundo a Anac (órgão da aviação civil). Aos finais de semana, o tráfego cai: são 182 voos aos sábados e 209 aos domingos."Quem vem viver aqui já sabe que existe o aeroporto, ele chegou muito antes. No final, as pessoas gostam daqui", afirma Sarmento.